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Alexandre Nero foge do óbvio: “Sou fofo, mas meu romantismo é contemporâneo”

Bem-humorado e avesso às convenções, o ator é um romântico que prefere presentear com abacaxis do que com flores e cultiva o sonho de morrer gordo, sentado em uma praça, rindo e comendo sem culpa.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 04h43 - Publicado em 11 set 2014, 22h00
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  • “Tem (em comum) o fato de ser um sobrevivente… Ele venceu e eu também venci. Essa palavra, sobrevivente, me define. A diferença é que ele é hoje bilionário”.
    Foto: Segio Santoian

    Ele é romântico, do tipo que ainda manda… abacaxis! Na hora de se produzir, suas escolhas trilham caminhos opostos aos dos visuais prontos das vitrines. O ator Alexandre Nero, definitivamente, não é um cara óbvio. Diz que seu gosto por moda e também por decoração vem dos tempos de garoto e foi aprimorado com os anos. Hoje, ele é dono de uma casa “bem arrumadinha” e mantém um estilo próprio ao escolher roupas e acessórios. “Gosto de uma estética peculiar e costumo sair do padrão. Acompanho as tendências e aproveito o que me interessa, pois não vou ficar usando só porque está na onda”, diz.

    A mesma linha de raciocínio explica seu inusitado romantismo. “Por que as pessoas presenteiam com flores?”, pergunta, já emendando a resposta. “A função da flor é embelezar, mas o abacaxi é lindo e é tão cheiroso quanto uma flor. Sou fofo, mas meu romantismo é contemporâneo: tem humor, acidez, sai do lugar-comum, daquela coisa de pétalas de rosas espalhadas”, afirma. “Costumo tentar fazer alguma coisa diferente. Se faço igual (aos outros), estou tirando sarro (risos).”

    O bom humor, aliás, é uma marca evidente do ator. É tão espirituoso que chega a ser difícil perceber, em alguns momentos, se Nero está interpretando ou sendo ele mesmo. E ele parece querer confundir mais ainda quando afirma, às gargalhadas, que todo mundo veste um personagem ao sair de casa e que seu trabalho é enganar as pessoas. “É claro que existe o enganar com caráter e o sem caráter. Eu tenho meu álibi, sou um ator.”

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    Atualmente, todo o seu talento está voltado para seu primeiro protagonista em novelas, o comendador José Alfredo, patriarca de Império, a trama das 9 da TV Globo. “As pessoas têm que acreditar que o José Alfredo é um cara de 50 anos, que tem um coração enorme, mas que não sabe lidar com emoções.” Aos 44 anos, Nero está em sua sétima novela. A estreia na TV, em 2007, foi na série Casos e Acasos, o passaporte para viver o verdureiro Vanderlei em A Favorita, no ano seguinte. De lá para cá, colecionou tipos marcantes, entre os quais o vilão Gilmar, de Escrito nas Estrelas (2010), o violento Baltazar, de Fina Estampa (2011), e o divertido Stênio, de Salve Jorge (2012). Também esteve no elenco de outras séries e participou da bancada de Amor e Sexo, no qual ficou conhecido como jurado mal-humorado. “Eu fazia aquilo para as pessoas rirem. Era uma brincadeira de auditório.”

    A carreira de Nero, porém, é muito mais diversificada. Como ator de teatro e de cinema, estreou na década de 1990. Como músico, cantor e compositor, deu os primeiros passos ainda bem jovem. Hoje possui nove CDs gravados, sendo três no esquema solo. O mais recente, Vendo Amor, foi lançado em 2011. No ano passado, chegou ao mercado seu primeiro DVD, Revendo Amor – Com Pouco Uso, Quase na Caixa. “Você faz o trabalho independente para não abrir mão do que quer. Na TV Globo, tenho patrão, mas há lugares em que não pretendo ter”, avisa. Em seguida, ressalta que, na sua lógica, não vale aproveitar a repercussão da novela para alavancar a carreira musical. “Se eu lançar um CD agora, vai vender, mas vão comprar o CD do comendador. Claro que eu quero vender, mas não o CD do comendador. As pessoas confundem e já desisti de entender por que aqui não se pode ser ator e cantor.”

    A rotina de gravações da novela não deixa brechas para muito mais. Nas poucas horas vagas, quem ganha sua atenção é a namorada, a atriz e produtora de moda Karen Brusttolin, 27 anos. Os dois estão juntos há cerca de dois anos e meio. Antes, o ator havia sido casado por dez anos com a também atriz Fabíula Nascimento, de quem se separou em 2011. Apesar dos relacionamentos estáveis, ele não se define como “casadoiro” e, franco, afirma que, quando está solteiro, assume a fase instável e pode saracotear “em todos os lugares”.

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    Também avisa que não sonha nem planeja ser pai – isso, no entanto, não quer dizer que não possa vir a ser. “Hoje, as pessoas tratam casamento e filhos como um objetivo. Se eu casar, casei. Se tiver filho, tive. Eu nem tinha como objetivo virar ator de televisão. As coisas foram acontecendo”. Sua carreira artística foi impulsionada por uma grande dor, seguida de necessidades prementes. Hoje, quando olha para trás, Nero vê tudo com orgulho.

    Aos 14 anos, perdeu a mãe. Aos 17, o pai. Ambos morreram de câncer. Restou a ele e as irmãs – uma mais velha e outra caçula, os três nascidos e, até então, criados em uma família de classe média alta de Curitiba – engolir o choro e ir à luta pelo sustento. “O que sabia fazer era tocar violão; então, fui para a noite tocar e me tornei músico”, conta. “Com a perda do meu pai, fui para o lodo, psicológica e financeiramente.” Ele diz que a ferida aberta com a morte dos pais nunca cicatrizou, mas aprendeu a conviver com ela. E reconhece que se tornou a pessoa que é hoje graças ao passado. “Tenho o pé no chão. Essa coisa da glamourização da TV, por exemplo, não me pega de jeito nenhum. Claro que fiquei meio revoltado e acho que ainda sou um tanto, mas é fundamental o artista ser um pouco revoltado”, teoriza.

    Nero conta que abriu os arquivos pessoais para inspirar e ajudar na construção do perfil psicológico do personagem José Alfredo. “Ele venceu e eu também venci. A palavra ‘sobrevivente’ me define. A diferença é que ele é hoje bilionário (ri). Mas sou mais feliz, o Zé Alfredo é um homem triste.” Na época em que passou pelas maiores dificuldades, o ator morou por um ano e meio em uma pensão muito simples no centro de Curitiba. Seus bens eram o violão e um pequeno armário, em que ficavam guardados os poucos pertences. Havia dias em que só dava para comer bananas. Ele diz, no entanto, que nunca fez drama. “Eu ficava numa boa, tive até felicidade ali. Na verdade, eu sempre fui muito feliz. Apesar de milhões de coisas, sou um cara de sorte.”

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    Ao falar do futuro, o ator afirma que gostaria de envelhecer com dignidade e, como não poderia deixar de ser com alguém avesso às convenções, Nero se apressa em descrever um plano fora do comum. “Meu sonho talvez seja morrer bem gordo, sentado numa praça, comendo sem culpa. É, rindo e comendo doces. Tem a ver com desapego pessoal, do corpo, das coisas…” É sério? “Sim, esse é meu sonho”.

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