Por que tantas mães são rígidas com as filhas?
A psicanalista criou a campanha 'Mãe, a Maior Influenciadora' para discutir a relação entre as mães e filhas; Confira a entrevista

Qual foi sua primeira influenciadora? Para diversas mulheres, a resposta é a mãe. Não foi diferente com a psicanalista Ana Lisboa, criadora da campanha Mãe, a Maior Influenciadora, que reuniu mulheres em uma experiência de reconexão e cura emocional, em 10 de maio, de forma simultânea, em 36 cidades do Brasil e da Europa.
Ana é especialista em saúde mental feminina e acumula mais de 100 mil alunas em 72 países. Ao perceber feridas emocionais comuns na relação entre mães e filhas, ela resolveu criar o projeto.
Quando as mães são mais rígidas com as filhas
“É comum que as mulheres sejam rígidas com elas mesmas e, por isso, também é frequente projetar nas filhas a própria rigidez. Com os meninos, há um cuidado maior; com as filhas, a gente quer que elas sejam melhores que a gente”, comenta.
Essa dinâmica, porém, pode causar problemas. “A maior referência para uma mulher é, muitas vezes, sua mãe. E uma das maiores crises que vivemos hoje, a crise de identidade, que gera depressão, ansiedade, comparação, colapsos emocionais, vem justamente da ausência ou da fragilidade dessa imagem materna”, opina Ana.
Por isso, ela resolveu criar um movimento para repensar a relação entre mães e filhas. Através de rodas de conversa, yoga, danças terapêuticas, oficinas xamânicas, mentorias e ações públicas, ela ajuda a conscientizar esse público sobre suas relações. “A ideia é levar às mães a consciência de que elas são as principais influenciadoras na vida dos seus filhos.”
Esse evento não procura culpabilizar quem passa pela maternidade, mas demonstrar outras formas de viver com as filhas. “No mundo moderno, a gente não consegue mais estar 100% do tempo com os filhos. Precisamos trabalhar, sustentar a casa. Mas a cura pode acontecer em qualquer fase da vida, desde que a mulher entenda que ela é, sim, a principal influência para a filha”, diz ela.
Como desenvolver uma relação mais saudável com a filha?
Elogiar, reconhecer e validar a menina são ferramentas que ajudam a construir autoestima e melhorar essa relação, na visão da psicanalista. “O apoio de uma mulher para outra vai cicatrizando as feridas, mas essa cura acontece quando mulheres se encontram, se escutam e se acolhem. Mulheres curam mulheres”.
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Não por acaso, Ana reuniu esse grupo em locais públicos, como praças e parques, em encontros abertos para além da comunidade de inscritas. Tudo foi mobilizado pelas redes sociais, com o apoio de alunas escolhidas para representar o movimento.
Essa não é a primeira experiência de Ana à frente de um projeto que impacta o público feminino. Todos os anos, no mês das mães, ela realiza campanhas com mulheres para abordar questões da saúde mental e ligadas a esse universo.
O impacto de uma relação harmônica na família
Nem sempre, porém, Ana teve uma relação positiva com a vida. Aos 23 anos, ela presidiu a OAB Jovem e acabou experimentando o burnout com o acúmulo de trabalho. “Hoje eu consigo dar nome, mas na época eu não sabia o que era. Todo mundo via de fora uma menina prodígio e, por dentro, eu estava completamente vazia. O corpo adoecia sem parar.”
Teve uma depressão profunda e, na terapia, descobriu seu propósito de ajudar outras mulheres. Parte disso, ela diz, veio da relação com a mãe. “Nunca tivemos um relacionamento horrível, a gente convivia bem, mas ela era muito rígida, muito brava e, inconscientemente, eu buscava atenção.”
Seu trabalho foi tão impactante que acabou afetando a própria mãe e a avó. “A minha mãe tem quase 60 anos e, finalmente, está se libertando. Minha avó também era muito dura e, hoje, com mais de 80 anos, está falando ‘amo você’ nas videochamadas, algo que nunca tinha feito antes, e só começou a fazer porque passou a receber esse amor também”.
As conversas entre as três explicam bem essa mudança. Um dia, a avó perguntou: “você acha que eu estou errada de cuidar da minha vida?”. Ana respondeu que ela passou 50 anos fazendo tudo pelos outros e que estava mais do que na hora de fazer o que quisesse. “O rosto dela iluminou. Às vezes, tudo que uma mulher precisa é ouvir de outra mulher ‘você pode’”, reflete. Ana segue ensinando isso para muitas outras.
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