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O que há de errado em mostrar os nossos corpos?

Por Fernanda Fantinel (colaboradora)
Atualizado em 21 jan 2020, 20h57 - Publicado em 26 jun 2015, 10h58
Foto: Getty Images (/)
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Durante toda a temporada de premiações americana, vários canais exibem programas que “julgam” os modelos usados pelas artistas que estavam nos eventos. A obsessão chega a tal ponto que alguns deles até contam com uma mani-cam que filma as mãos das mulheres, enquanto outros, como o Fashion Police, se dedicam a falar mal das roupas das convidadas – com comentários que não poderiam estar mais dentro do senso comum. “Fulana de tal está muito gorda para usar isso”, “ela não tem mais 20 anos para usar isso”,”esse vestido não é pra o tapete vermelho do Oscar”, são algumas das frases (mais leves!) que ouvimos irremediavelmente em todas as edições desses especiais. Escutamos sem parar um grupo de chamados especialistas criticar e ridicularizar aquelas artistas, enquanto que dos homens mal se fala alguma coisa.

Pelo fato de sermos seres humanos e agirmos de acordo com o que nos ensinam, mesmo nós mulheres acabamos reproduzindo muito disso nas nossas vidas. Quem aqui já falou mal de uma menina que estava de saia curta (e também vale o “não é que eu seja preconceituosa, mas está tão frio hoje!”)?

Slut shaming (termo que vem do inglês e significa basicamente humilhar uma garota por ela estar agindo como “vadia”) é uma das armas mais poderosas do patriarcado, porque ele nos divide em castas e nos dá uma falsa sensação de superioridade perante aquelas “vagabundas”. Nós fomos criadas para competir entre nós mesmas, para ofender, agredir e invejar outras mulheres.

Agora me digam, por que, falando de premiações, dedicamos tantas horas analisando as roupas das mulheres, mas literalmente não poderíamos nos importar menos com as dos homens? E o que é que há de tão errado, afinal, em mostrar nossos corpos? Por que mulheres que fazem isso são vulgares, mas não vemos problemas nos caras andando sem camisa por aí?

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Valorizar mulheres de acordo com o seu físico ou o quão dentro do padrão elas estão é algo que acontece a todo momento nas nossas vidas, mas quando uma delas resolve tomar as rédeas da situação, aí é assustador. Ir para uma premiação cheia de fotógrafos e “mostrar demais”? Nossa, é muito deselegante. Sexualização só pode acontecer quando ela não parte da dona daquele corpo.

É para problematizar? Vamos problematizar a pressão social imposta a garotas no mundo inteiro por meio dos produtos criados por Hollywood. Vamos problematizar uma indústria que objetifica e vende mulheres diariamente, um lugar em que toda a importância da mulher está distribuída por entre os tamanhos de seus peitos, quadris e bundas. Vamos problematizar a sociedade que hiperssexualiza sistematicamente nossos corpos. Mas não as mulheres que expõem aquilo que, por definição, é delas mesmas.

Corpos são apenas corpos. Se aquelas pessoas querem e tem auto-confiança o suficiente para quebrar o padrão de ~vestimenta~, ótimo. “Elegante” e “vulgar” são construções sociais usadas, em sua grande maioria, para julgar outras mulheres – qual foi a última vez que você falou que um homem estava “pelado demais”? Aliás, também não podemos esquecer que quilômetros de tecido não nos impedirão de sermos objetificada.

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Reprodução de machismo é algo que todas nós estamos passíveis de (e provavelmente iremos) fazer, mas lembrem-se que isso apenas ajuda na manutenção do nosso status quo, e que do mesmo jeito que apontamos o dedo para uma mulher, alguém também vai nos julgar.

E nós sabemos que merecemos mais que isso.

Matéria publicada em Brasilpost.com

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