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Modelo revela ser intersexual e aquece debate sobre o tema

Intersexuais são as pessoas que nascem com cromossomos e características físicas de ambos os sexos - e elas representam 1,7% da população!

Por Júlia Warken
Atualizado em 15 abr 2024, 17h22 - Publicado em 30 jan 2017, 15h57
 (Dimitrios Kambouris/Staff/Getty Images)
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Pouquíssimo se fala sobre a questão intersexual e, justamente por isso, a gente acaba acreditando que esses casos são raríssimos – mas não são. Para quem não está familiarizado com a palavra, intersexual é a pessoa que nasce com cromossomos e com características físicas de ambos os sexos (o que antigamente era chamado de hermafrodita).

Segundo a ONU, estima-se que 1,7% da população mundial seja intersexual. Essa quantidade é equivalente a de ruivos naturais, para se ter uma ideia. Não dá para negar que trata-se de um número considerável de pessoas e que o assunto não pode mais ser varrido para baixo do tapete.

Nascer com características de ambos os sexos já é uma situação, por si só, muito complicada e a dimensão do problema é ainda maior quando a gente para pra pensar em um outro detalhe: a incidência de mutilação genital na infância. Foi isso que aconteceu com a modelo belga Hanne Gaby Odiele (e que acontece com grande parte dos intersexuais): seu gênero foi “escolhido” pelos pais e pelos médicos, não por ela mesma.

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Aos 28 anos, Hanne já é veterana no meio fashion e ficou conhecida por trabalhar com grifes como Alexander Wang, Balenciaga, Chanel, Marc Jacobs e Versace. Mas só agora ela resolveu abrir o jogo sobre sua condição, pois passou a militar pelos direitos dos intersexuais e também pela quebra do tabu.

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Hanne conta que teve os testículos removidos aos 10 anos de idade e, aos 18, passou por uma operação para reconstituir sua vagina. “Eu tenho orgulho de ser intersexual, mas tenho raiva de que essas cirurgias ainda aconteçam”, disse ela ao USA Today. Hoje, a modelo também sofre com sintomas de menopausa precoce, devido à hormonização intensa no passado.

Atualmente, Hanne é porta-voz da ONG InterACT, que milita pelo direito das pessoas intersexuais de decidirem sobre seus corpos. “Nós lutamos para acabar com as cirurgias desnecessárias e os tratamentos nocivos feitos em crianças intersexuais”.

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Existem pelo menos 30 tipos de diagnósticos referentes à intersexualidade. No caso de Hanne, ela nasceu com genitália masculina e cromossomos XY, mas seu organismo nunca produziu hormônios masculinos na quantidade tida como normal. Até os 2 meses, seus pais achavam que ela era um garoto como qualquer outro, mas, a partir de um exame de sangue (por conta de uma infecção), descobriram a anomalia. A partir daí, decidiram que Hanne seria uma mulher.

Ela conta que o pior de tudo foi não saber o que estava se passando com seu corpo na adolescência, pois os pais optaram por não contar que ela era intersexual. “Eu sabia em algum ponto depois da cirurgia que eu não podia ter filhos e não ficaria menstruada. Sabia que tinha algo errado. Se eles tivessem apenas sido honestos comigo desde o começo… Virou um trauma por causa do que fizeram”, desabafa.

Ela também chama a atenção para o fato de que as cirurgias e tratamentos hormonais realizados na infância não são consentidos. Quando criança, um intersexual ainda não consegue ter noção do que se passa com seu corpo, mesmo que os pais abram o jogo sobre a questão. O grande problema é que esses métodos são irreversíveis e isso pode causar muito sofrimento. “Os médicos acham que precisam ‘normalizar’ o bebê”, declarou Hanne em entrevista à Vogue.

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Na visão da modelo (e da ONG InterACT), por mais que isso venha a trazer questionamentos e sofrimento à criança intersexual, o melhor a se fazer é agir com honestidade. Segundo eles, esconder os fatos não traz nenhum benefício e, muito menos, decidir sobre a identidade de gênero daquela pessoa.

Além de conscientizar pais e médicos, a luta da comunidade intersexual também é pela quebra dos preconceitos da sociedade em geral. Está mais do que na hora de encarar que quase 2% da população mundial nasce sem gênero definido e que essas pessoas têm o direito de viverem plenamente. 

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