Leitora de CLAUDIA desde a 1ª edição fala de mudanças para mulheres
No nosso mês de aniversário, Vera Maria Lacerda, de Porto Alegre, lembra da rotina das mulheres em 1961, quando CLAUDIA foi lançada
Lembro-me como se fosse hoje do dia do lançamento da primeira edição da revista CLAUDIA. Vivíamos o início da década de 1960. Meus pais, minha irmã, dois anos mais velha, eu e meu irmão caçula morávamos no interior do Rio Grande do Sul.
Adolescentes, nós três estudávamos no colégio das Irmãs de Notre Dame e seguíamos as rigorosas regras de comportamento daquele tempo. Não tínhamos televisão; as notícias chegavam pelo rádio e pelo jornal Correio do Povo, que meu pai assinava.
Era uma época opressora para as mulheres e, pior ainda, para as adolescentes. Todas debutavam aos 15 ou 16 anos e eram preparadas para casar e ser prendadas. Aprendiam a obedecer ao marido e a ser mães dedicadas. Curtiam Elvis Presley e rock’n’roll. Profissionalmente, podiam, no máximo, ser professoras ou enfermeiras.
E aí surge a revista CLAUDIA, com os artigos da famosa Carmen da Silva, que, ao longo dos anos, foi minando com suas ideias modernas o rígido sistema no qual as mulheres estavam inseridas.
Essa autora foi responsável por mudanças profundas nos comportamentos femininos, principalmente os que diziam respeito ao casamento, à virgindade e ao controle da natalidade. Ela desmistificou a ideia de que a mulher havia nascido para ser mãe e esposa; de que precisava se guardar virgem até o dia do casamento; de que não podia escolher uma profissão, pois devia cuidar do marido, dos filhos e da casa.
Ao longo de muitos anos, Carmen da Silva e outros articulistas de CLAUDIA foram influenciando as jovens a estudar e escolher uma profissão; a usar métodos que impediam a gravidez; a virar as costas para as doutrinas cristãs, que eram machistas e proibiam opções contraceptivas, a não ser a de não transar nos dias férteis.
Esse caminho muitas vezes não funcionava, e as mulheres tinham vários partos consecutivos. Os filhos nasciam com dez meses de diferença entre um e outro.
CLAUDIA fez uma verdadeira revolução nos costumes, nas crendices, nos tabus. A década de 1960 foi palco para várias mudanças, com livros, revistas, filmes, mulheres decididas, pílula anticoncepcional, o festival de música brasileira. Foi uma época maravilhosa de libertação. Nada mais iria ser como antes.
Vera Maria Lacerda é de Porto Alegre. Ela é fiel leitora de CLAUDIA há 59 anos
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