Série inspirada em Brigitte Bardot estreia no Brasil
Conversamos com a atriz Julia de Nunez, que dá vida à musa do cinema francês na série "BARDOT", em cartaz pelo Festival Varilux
Franjinha dividida ao meio, olhos delineados com lápis preto, algum lenço para prender, despretensiosamente, os cabelos loiros. A imagem de Brigitte Bardot é uma das mais icônicas do cinema francês (e mundial). A atriz, modelo e ativista agora ganha uma série baseada em sua vida na frente das câmeras. BARDOT, criada por Danièle e Christopher Thompson, já é um sucesso na França, mas chega ao Brasil com exclusividade na programação do Festival Varilux de Cinema Francês.
Ao longo dos seis episódios, é possível passear por dez anos da trajetória profissional e pessoal de Brigitte, interpretada pela jovem Julia de Nunez. Apesar da semelhança física incontestável, a francesa filha de pais argentinos não garante a sua versão de Brigitte nesse lugar.
Em entrevista exclusiva à CLAUDIA, ela conta sobre os meses de preparação, as influências para o trabalho e mais.
CLAUDIA: Como você entrou para o projeto e como foram as conversas iniciais com os diretores e roteiristas?
Respondi um tanto por acaso a um anúncio que circulava bastante nas redes sociais, na época em que eu estava no primeiro ano de teatro no curso Perimony. A primeira vez que conheci os Thompson fiquei muito impressionado porque já conhecia o trabalho deles e também foi a primeira vez que fiz um casting para um filme. Mas muito rapidamente me fizeram me sentir à vontade, discutimos muito sobre o cinema da época, sobre Bardot, sobre a minha visão dessa geração, foi uma troca bacana. Rimos, quis logo fazer parte desta aventura, não só para desempenhar este magnífico papel, mas para trabalhar com esta família que achei fascinante.
CLAUDIA: Quais foram as suas fontes de pesquisa para criar a sua versão de Bridget Bardot?
Conheci Brigitte Bardot pelas suas canções, e já a tinha visto muito nos seus filmes mais emblemáticos como A Verdade, de Clouzot, O Desprezo, de Godard e A Vida Privada, de Louis Malle… Mas obviamente estava longe de conhecer a sua intimidade, e de poder ter acesso a ela. Tive que fazer minha própria pesquisa, mesmo que os Thompson tivessem trabalhado muito nos arquivos. Assisti a documentários, ouvi programas, li biografias de diversos jornalistas e romancistas que escreveram sobre ela.
CLAUDIA: Como funciona o seu processo criativo para entrar na personagem?
Fui acompanhada diariamente por um fabuloso coach [de atuação], com quem fizemos o trabalho de dissecar o roteiro para entender e encontrar a encarnação certa da BB, porque não se tratava de imitá-la, mas sim de encarná-la. A este trabalho somou-se a preparação física: fiz aulas de dança durante meses, o que também me ajudou a sentir a BB no meu próprio corpo.
CLAUDIA: O que você sentiu quando soube que iria interpretar Bridget?
O processo de seleção durou vários meses e não foi uma resposta de um dia para outro. Várias etapas e diversas reuniões com o diretor de elenco aconteceram antes de decidirem. Mas não vou esquecer do dia em que a própria Danielle me ligou para dizer “bom, mal podíamos esperar para te contar, mas é você… é você quem vai interpretar a Bardot”. Eu estava nesse momento com meu grupo de amigos, e todos me convidaram para um drink para comemorar!
CLAUDIA: Quais foram os momentos da vida dela que foram os mais desafiadores para você interpretar?
Talvez para interpretar o interesse amoroso. A série é baseada em todos os amores que ela teve, e eu não sou de um natural muito terno. Mas na realidade o estado de alegria ou de sofrimento em que ela estava por causa dos seus amantes fazia tanto sentido com a personalidade dela que, finalmente, não foi problema para mim, porque não poderia ser de outra forma. Depois da filmagem, me surpreendi ao ser mais terna e mais facilmente emocionada (risos).
CLAUDIA: Por ser uma série de época e que acompanha Bardot em um longo período de tempo, como foi trabalhar com a equipe de figurino e maquiagem para os visuais de cada fase?
Adorei me interessar pelo trabalho da figurinista Marilyn Fitoussi, que é essencial; é uma verdadeira pesquisa documental que ela fez sobre a moda da época. Dependendo da idade dela e da geração, houve uma evolução, o que na verdade me ajudou muito a encarná-la. Lembro que quando atuei no mesmo dia em sequências onde ela tinha 15 e depois 26 anos, sem eu mesmo perceber, meu figurino me ajudava a ter a voz, os gestos para caracterizar essas idades tão diferentes, onde a maturidade não é a mesma.
CLAUDIA: Em um contexto ainda muito dominado por homens, Bardot sofreu algumas consequências do sexismo da indústria. Como você enxerga isso hoje?
Acho que Bardot realmente liberou o corpo das mulheres ao se apropriar do corpo dela, mesmo que isso significasse ir contra as convenções da época. O que foi objeto de ódio e fascínio e, portanto, o que fez dela uma verdadeira pioneira! E lhe agradeço por isso porque, provavelmente, graças a ela as mulheres já não estão sujeitas às injunções da sociedade.
Para garantir o seu ingresso e conferir os destaques do festival, basta acessar variluxcinefrances.com/2023