Oficina Brennand completa 50 anos com homenagem ao legado do artista
Programação de 2021 traz exposições, residências e planos de preservação das obras do artista pernambucano
Em seus 15 km2 de área construída, o Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand costuma causar diferentes sentimentos em quem entra por seus portões, mas o deslumbramento é certo. Localizado no bairro da Várzea, em Recife, o espaço abriga três mil obras do artista, que se apresentam não só na área interna, mas também em todo o entorno, como parte da natureza que envolve o lugar.
Um dos mais aclamados artistas plásticos brasileiros, Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand desenvolveu ao longo de sua vida trabalhos magistrais em desenhos, pinturas, tapeçarias, gravuras, ilustrações, esculturas e se tornou mundialmente conhecido pelas fabulosas cerâmicas.
Nascido em 1927, iniciou sua carreira como pintor e desenhista aos 16 anos. Entretanto, numa viagem a Paris, em 1949, se encantou com os trabalhos em cerâmica apresentados por nomes como Picasso, enxergando ali um novo mundo. Brennand, que faleceu aos 92 anos em dezembro de 2019, tinha um sonho antigo de transformar sua oficina em um instituto sem fins lucrativos – o que se tornou real apenas três meses antes de sua morte.
“Seu desejo era que esse espaço fosse compartilhado com exposições de outros artistas, com projetos educativos e projetos para a comunidade”, conta Marianna Brennand, sobrinha-neta do artista, que assumiu a liderança institucional da instituição.
Com os desafios do ano passado, muitos dos planos ficaram no papel, mas a reclusão por conta da pandemia do novo coronavírus trouxe a criação de um outro programa, inclusive contemplando a conservação ambiental, com bate-papos e seminários, além da residência de outros artistas.
“Temos um grande plano de preservação, desde resguardar o acervo por meio de um processo de catalogação de suas obras e técnicas, até restaurar e limpar cada peça”, explica Marianna, que é também diretora do documentário Franciso Brennand (2012), idealizadora do livro O Universo de Francisco Brennand e responsável pela edição da compilação de memórias do artista.
Este ano, quando a Oficina comemora 50 anos, promete uma grande retrospectiva, que está prevista para junho. Em setembro, o Instituto planeja sediar uma mostra coletiva voltada a trabalhos de artistas pernambucanas e brasileiras de diferentes gerações, logo antes de receber, em dezembro, a escultura Spider, da francesa Louise Burgeois. Ainda no segundo semestre, está em estudo uma exposição inédita do artista carioca Ernesto Neto, conhecido pelas obras em tecidos, que deve ocupar o galpão do local. Pela primeira vez, ele deve trabalhar com cerâmica.
“Ao meu ver, a beleza desse espaço está no fato de que cada pessoa tem uma experiência muito individual. Cada um se conecta com algo, seja com a natureza, com o ambiente ou com as esculturas. Quem visita pode esperar um mergulho num universo muito particular. O legado de Brennand é um chamado para olhar para a Terra, de onde viemos; e refletir sobre nosso papel na preservação do planeta como habitantes”, completa Marianna.