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“O Brasil gosta de silenciar a própria história”, declara Bianca Santana em novo livro

Em sua estréia como romancista, Bianca Santana traz as vivências da migração de duas mulheres nordestinas

Por Paula Sperb
21 out 2025, 17h43
Imagem da escritora Bianca Santana vista lateralmente
Acostumada a tratar sobre resistência e representatividade, Bianca constrói seu novo livro sob diferentes perspectivas (Fernando Rabelo/Divulgação)
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A escritora Bianca Santana lança seu primeiro romance, Apolinária (Fósforo, 2025). Nele, conta a história de uma nordestina que migra para a capital paulista. No livro, a autora intercala com sensibilidade as vozes de Polu, a avó, e de Bianca, a neta. Com temas como trabalho doméstico e casa própria, Apolinária é um retrato da sociedade brasileira.

São duas narradoras no livro. Como foi assumir tanto a voz da avó como da neta? Eu tinha esse desejo de experimentar vozes diferentes e de me testar como escritora, de desenvolver duas narradoras em primeira pessoa. Será que consigo, na própria voz narrativa, colocar a característica de duas personagens tão diferentes? Foi um desafio para mim mesma.

O tema do trabalho doméstico das mulheres negras atravessa a trama. Por que ainda persiste? O Brasil gosta de silenciar a própria história. A Lélia González, lá nos anos 70, já explicou que, na abolição, não existiu nenhuma política de reparação para a população negra no Brasil. Então, as famílias negras não tinham muita condição de se inserir naquele capitalismo que nascia num novo formato com trabalho livre. A única possibilidade de renda para maior parte das famílias era o dinheiro que as mulheres traziam para casa, não os homens. Elas faziam isso porque conseguiam trabalhar como empregadas domésticas. 

A conquista da moradia própria também é um tema do livro. O que a casa própria representa? A falta de moradia produz desenraizamento. Aluguel é um terror para famílias pobres. O sonho da casa própria é também um sonho de poder empregar o seu dinheiro em mais coisas que não só a sua possibilidade de existir com teto sobre você. Parar de pagar aluguel significa se alimentar melhor, ter algum lazer, mais tempo de descanso, poder arrumar sua casa do seu jeito e não viver com o temor de que você vai ser desalojada, desapropriada e ter que, de novo, se mudar. 

Imagem da escritora Bianca Santana vista de frente junto a capa do livro
Além de aborda a migração de mulheres nordestinas, a autora volta a trazer luz paea o racismo estrutural (Fernando Rabelo / Editora Fósforo/CLAUDIA)
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A avó arruma o cabelo da neta com medo de que pareça “ruim”, como diz o livro. Sua experiência pessoal ajudou a desenvolver esta cena? Totalmente. A personagem é muito inspirada na minha avó Apolinária. É uma mulher do tempo dela, que embarcou numa ideia de embranquecimento como sinal de melhora. Essa cena foi inspirada em inúmeras cenas que eu vivi com a minha vó. Ela puxava bem meu cabelo, passava uma tonelada de creme e prendia muito para trás, para não ter um fiozinho solto, sabe? 

O irmão da personagem é preso, mas ela já sentia muito medo de que isso acontecesse com o pai. A literatura ajuda a entender o racismo estrutural? A população carcerária no Brasil é tão negra que dificilmente você vai conhecer uma pessoa negra que não tenha um parente preso. A pessoa que tem um parente preso, ela não quer que ninguém no trabalho dela saiba disso. E você tem um grande silêncio. A literatura me parece ter essa importância também de trazer à tona os temas sobre os quais a gente não quer falar.

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