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Em nova temporada de série, Lin-Manuel Miranda ainda deve lançar 2 filmes

Ator, produtor e diretor, Lin estourou com o musical da Broadway "Hamilton", em 2015, e desde então só viu sua agenda encher de compromissos

Por Mariane Morisawa
Atualizado em 8 fev 2021, 19h26 - Publicado em 8 jan 2021, 11h00
Lin-Manuel é um homem de pele branca com cavanhaque e cabelo curto castanho-escuros olha para a foto. Ele veste uma blusa de gola alta cinza
 (Shutterstock/CLAUDIA)
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Há cinco anos, desde que foi alçado ao sucesso internacional com o musical da Broadway Hamilton, que escreveu, compôs e protagonizou, Lin-Manuel Miranda viu sua agenda se tornar caótica. Mas 2020 foi intenso até mesmo para ele, que já estava acostumado ao ritmo pesado.

Só durante o isolamento, teve que se dedicar a escrever mais dois musicais, um para a Sony e outro para a Disney. Também finalizou a edição da versão cinematográfica de sua peça In the Heights – que se chamará Em um Bairro de Nova York por aqui –, da qual é produtor e ator; seguiu administrando as cinco companhias teatrais que fazem performances de Hamilton ao redor do mundo, paralisadas por causa do novo coronavírus; e dirigiu seu primeiro longa, Tick, Tick… Boom!, para a Netflix, cujas filmagens foram retomadas em outubro.

De uma casa alugada ao norte de Nova York, sua cidade natal, grande o suficiente para abrigar, além dele, seus pais, a companheira, a atriz Vanessa Nadal, e os dois filhos pequenos, ele falou com CLAUDIA sobre mais um projeto: a estreia da segunda temporada da série His Dark Materials, exibida pela HBO.

“Hoje, em função do que conquistei com Hamilton, tenho o privilégio de escolher trabalhos. Então não costumo fazer nada que não me deixe empolgado”, disse ele. O ator de 40 anos já era fã dos livros de Philip Pullman, que inspiraram a trama – no Brasil, a trilogia se chama Fronteiras do Universo (Suma).

Ele leu as obras junto com Vanessa na época em que começavam a namorar. Na versão para TV, assumiu o papel de Lee Scoresby, aventureiro que roda o mundo em um balão, na companhia apenas de seu daemon, alma humana em forma de animal. Tudo muda quando ele conhece Lyra (Dafne Keen), a heroína adolescente que deseja romper com a opressão do Magistério, órgão que controla ideias, mentes e corpos, e explorar universos paralelos.

Homem com casacos pesados olha para o horizonte de dentro de um veículo. O cenário é de neve

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Ao mesmo tempo, ela descobre que seus pais, lorde Asriel (James McAvoy) e a senhora Coulter (Ruth Wilson), são dois cientistas que só pensam em sucesso pessoal. “Lee percebe que Lyra teve a má sorte de ter pais horríveis e decide ir até o fim do mundo por ela. E, se isso não for suficiente, até o fim de outros mundos para ajudá-la”, explica o americano.

Por causa do desenrolar da trama, na segunda temporada os dois atores tiveram menos tempo juntos, o que os impediu de cumprir alguns rituais que haviam inventado. “Não pudemos ficar cantando faixas de musicais nem falando mal dos outros em espanhol”, revelou ele, rindo.

His Dark Materials faz analogias com o autoritarismo, mas também é uma trajetória de amadurecimento e de percepção de que o mundo é um lugar cruel. “Eu acho extraordinário, porque os pais de Lyra estão dispostos a sacrificar tudo para o ganho pessoal e, ainda assim, ela pensa primeiro no benefício dos outros, não no próprio. É uma história de bondade e de como fazemos coisas horríveis para ser grandes em vez de tentarmos ser bons”, acrescenta Lin-Manuel, que raramente fica com apenas uma função nas produções. Segundo ele, quando acontece de só precisar atuar, parece que está de férias.

A generosidade e o futuro

O assunto da multiplicidade humana e de suas características mais profundas interessa muito a Lin-Manuel. Tanto é que retrata o tema em diversos trabalhos, especialmente em Hamilton, cuja versão gravada está disponível no recém-lançado Disney+.

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Na ficção inspirada na vida do imigrante – que foi um dos líderes que unificaram as colônias, venceram a Guerra da Independência e fundaram os Estados Unidos e o primeiro governo republicano –, é como se ele discutisse a questão da temporalidade, de como um herói hoje pode se tornar um vilão amanhã. E isso tem a ver com a memória histórica, que é alterada sob os olhares das novas gerações.

“A história vai e vem, assim como a reputação dessas figuras. Todos os inimigos de Hamilton sobreviveram a ele e se tornaram presidentes: Thomas Jefferson, James Madison, James Monroe. A lição é que não é você que decide qual vai ser seu legado, e sim aqueles que vivem mais tempo do que você”, reflete.

“Tente imaginar o isolamento sem arte, livros, filmes e séries. Gostam de falar que esse setor é supérfluo, mas não dá para viver sem”

Essa característica questionadora (sem perder a leveza) de Lin-Manuel conquistou a admiração do ex-presidente Barack Obama. Ele chegou a apresentar na Casa Branca algumas músicas de Hamilton antes da estreia e esteve na residência com o restante do elenco diversas vezes. No governo de Donald Trump, nenhuma.

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O musical é considerado um dos mais importantes da última década, levando a um revival do gênero entre os jovens. Foi citado em filmes, peças, livros, músicas, virando referência pop. Também escancarou a porta para a discussão sobre representatividade na Broadway ao escalar praticamente só atores negros, de origem latina e asiática para interpretar personagens como George Washington, o primeiro presidente americano. E fez com que muita gente voltasse aos livros de história.

Mas também recebeu críticas, começando pela acusação de que o musical simplificava questões históricas ou não era 100% fiel aos acontecimentos – lembrando que a peça é classificada como ficção.

Teve quem desaprovasse o roteiro por não ter ressaltado que a família da mulher de Alexander Hamilton tinha escravos, assim como a maior parte dos fundadores dos Estados Unidos, pois esses personagens estavam sendo interpretados por atores negros, muitos descendentes de pessoas escravizadas.

A polêmica foi reanimada recentemente com a estreia da versão filmada de Hamilton e com o lançamento de uma pesquisa confirmando por meio de documentos a posse de escravos. “Todas as críticas são válidas. Eu levei seis anos para escrever e tentei encaixar o máximo que pude em um musical de duas horas e meia. Fiz o meu melhor”, responde Lin-Manuel quando perguntado sobre o tema. Só o fato de esses temas estarem sendo discutidos agora indica que muita coisa mudou desde a estreia de Hamilton, em 2015.

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Missão e comprometimento

Desde que começou na carreira, Lin-Manuel busca fazer coisas diferentes das que encontrava no setor artístico, colocando minorias em destaque e em papéis que vão contra os estereótipos. Ele espera continuar nesse caminho com o entusiasmo de sempre, mesmo em uma época tão complicada.

Homem com roupas de couro e chapéu caminha em cenário de fazenda antiga

“Foi estranho passar o último verão americano ajudando na edição das cenas de Em um Bairro de Nova York, com centenas de latinos cantando, dançando e se abraçando nas ruas, enquanto no mesmo lugar estão abuelitos circulando de máscaras”, compartilha.

Ele, contudo, é do time do copo meio cheio. “Acho que percebemos com a pandemia que a família e as pessoas queridas são o que realmente importa. E que os trabalhadores de serviços essenciais são fundamentais para o funcionamento da sociedade.”

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Ainda destacou a cultura. “Tente imaginar o isolamento sem arte, livros, filmes e séries. Gostam de falar que esse setor é supérfluo, mas não dá para viver sem.” No que depende de Lin-Manuel, ele vem contribuindo um bocado para que nunca falte entretenimento.

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