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Dia Internacional dos Povos Indígenas: conheça a música feita por eles

Para além do uso ritualístico no interior de cada comunidade, a música dos povos originários e sua tradição ressoam no rap, na MPB e no sertanejo

Por Joana Oliveira
9 ago 2022, 11h37
A rapper Katu Mirim.
A rapper Katu Mirim. (Reprodução/Instagram)
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“Maraca, cocares, tambores, turbantes: a terra tremerá como nunca tremeu antes.” O verso da música Aguyjevete, da rapper Katú Mirim, marca na arte a luta dos povos indígenas do Brasil contra o genocídio que sofrem há séculos. Para além da riqueza sonora nos rituais que acontecem no interior de cada comunidade, a música dos povos originários e sua tradição ressoam no rap, na MPB e no sertanejo. No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado em 9 de agosto, CLAUDIA lista alguns artistas que compõem esse cenário de diversidade cultural. 

Djuena Tikuna

“A música é um instrumento de força para lutar pelos direitos indígenas. Nosso canto, nossa cultura precisa ser mostrada. Nossa arma é nossa arte”, afirma Djuena Tikuna, que criou o primeiro festival de música indígena da Amazônia, em 2018, e a primeira a protagonizar um espetáculo no Teatro Amazonas, em Manaus. No palco que representa um símbolo da colonização portuguesa, ela apresentou o disco Minha Aldeia, que inclui letras em sua língua materna. Djuena (seu nome significa “onça que pula o rio”) só aprendeu português aos 8 anos, quando foi estudar na capital do estado. Diante do preconceito na cidade grande, se apegou ainda mais à música para se fortalecer emocional e espiritualmente. “Quando o bebê está na barriga, as mães já cantam. Toda hora tem o canto tikuna, seja nas canções de ninar ou nos rituais.  É um canto muito espiritual, cada nota tem um significado. É como escrever, você escreve com a alma”, diz. Em 2020, ela lançou A Floresta Cura, uma espécie de oração em idioma Tikuna em plena pandemia de Covid-19 e também um lindo exemplo da música indígena contemporânea

Katú Mirim

Indígena da etnia Boe Bororo e natural do Mato Grosso, a artista Katú Mirim foi adotada aos 10 meses e criada por uma família branca na periferia de São Paulo. Quando descobriu sua origem biológica, não encontrou nenhuma informação sobre seu povo nos livros da escola. Isso só mudou aos 19 anos, quando, graças à internet, mergulhou em pesquisas sobre a história das culturas indígenas no país. Quando decidiu fazer rap, não teve dúvidas: cantaria as lutas dos povos originários brasileiros. Em 2020, lançou o EP Nós, no qual evidencia desde o genocídio indígena até o racismo naturalizado no cotidiano. Na letra de Vestido de hipocrisia, por exemplo, ela critica o uso de fantasias de “índio” no carnaval e em outras festas enquanto a população se aliena das constantes violências sofridas por estes povos: Vivemos resistindo e enfrentando artilharia / O seu racismo tem confete / Sua cara, hipocrisia“. 

Kaê Guajajara

Kaê Guajajara, de 28 anos, também encontrou nos beats e no hip-hop a inspiração para protestar contra o silenciamento dos indígenas no país, algo que descobriu ainda na infância, ao se mudar de Mirinzal, no Maranhão, para a Favela da Maré, no Rio de Janeiro. Seu primeiro EP,  Hapohu, foi lançado em 2019 e traz composições autobiográficas sobre os preconceitos que sofreu enquanto crescia nesse contexto. 

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Seu trabalho mais recente é Pandemia, feito em parceria com seu companheiro, Kandu Puri, que mistura cânticos em sua língua originária e em português para fazer um repasso histórico sobre as epidemias no Brasil e o alto preço que elas cobram sobre os povos indígenas. Além de cantora e compositora, Kaê é curadora, escritora, atriz e fundadora do Coletivo Azuruhu. Em 2020, ela publicou seu primeiro livro: Descomplicando com Kaê Guajajara: O que você precisa saber sobre os povos originários e como ajudar na luta antirracista. 

Ademilson Umutina

Nascido e criado na aldeia Bacalana, no município de Barra do Bugres (MT), o cantor e compositor Ademilson Umutina usa os acordes de seu violão para cantar as memórias e valores ancestrais do povo Umutina, a fim de resgatar sua cultura tradicional. Mantendo viva a história Umutina, ele é hoje um dos principais representantes da música sertaneja indígena.

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Kunumi MC

Kunumi (que significa jovem) faz o que define como rap nativo. Nascido e criado na aldeia Krukutu, em São Paulo, o jovem de 20 anos cresceu em meio à arte, pois o pai, Olívio Jekupé, é autor de 19 livros, e o próprio MC já escreveu duas obras: Contos dos Curumins Guaranis”, feito com o irmão, Tupã Mirim, e Kunumi Guarani. Mas a inspiração para a música só veio quando ele viu Werá Jeguaká Mirim estender uma faixa pedindo “Demarcação Já!” na abertura da Copa do Mundo de Futebol de 2014, celebrada no Brasil. Demarcação Já – Terra, Ar e Mar”, produzida em parceria com Criolo, nasceu dessa provocação artística. Depois veio o EP de estreia, My Blood is Red, em 2017, e o álbum Todo Dia é Dia de Índio, no ano seguinte. Seu trabalho mais recente é o single Força de Tupã, lançado no final de 2020.

Ian Wapichana

Nascido e criado em Boa Vista (RR), Ian Wapichana, de 24 anos, mudou-se para o Santuário dos Pajés, única reserva indígena do Distrito Federal, depois que seu pai passou em um concurso da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Lá, o jovem, cuja família tem numerosos escritores, compositores e poetas, descobriu a própria veia artística e começou a tocar e cantar nas ruas de Brasília. Fazendo o que chama de “nova MPB”, Ian traz mensagens de paz e da ancestralidade Wapichana em suas composições. 

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