Atriz de “Um Lugar Silencioso” quer ver mais surdos atuando no cinema
Com 15 anos e dois filmes do currículo, Millicent Simmonds é uma quebradora de regras e mostra a importância da representatividade.
Quantas vezes você já viu uma personagem surda no cinema ou na TV? Assim como outras parcelas da população, os deficientes auditivos são pouco representados na ficção. Mais raro ainda é ver um ator com alguma deficiência nas telonas. Por isso que a presença da atriz Millicent Simmonds no filme “Um Lugar Silencioso” é tão interessante. Com 15 anos de idade e surda desde bebê, ela é uma estrela em ascenção.
A presença de Millicent no filme se deu pela insistência de John Krasinski, roteirista, diretor e ator de “Um Lugar Silencioso”. Ele ficou admirado com a atuação da menina no filme de 2017 “Sem Fôlego“, estrelado por Julianne Moore. Como no roteiro havia uma personagem surda, por que não escalar uma atriz com essa deficiência para interpretá-la?
Em entrevista para a revista norte-americana “People”, Millicent já havia chamado a atenção para a importância da representatividade dos surdos no cinema. Falando sobre “Sem Fôlego”, ela diz que pessoas que escutam não sabem, de verdade, pelo que os surdos passam. “Acho que ele [o diretor do filme, Todd Haynes] sabia que ao chamar uma pessoa surda para esse papel, iria inspirar um monte de outros surdos”.
Em “Um Lugar Silencioso” Millicent é Regan Abbot, uma menina que não pode fazer nenhum ruído, sob o risco de perder a vida (sim, é um filme de terror, e se você quiser saber por que “Um Lugar Silencioso” tem tudo para ser o melhor filme do gênero do ano, vem cá). O longa mostra os perigos e agonias vividos por uma pessoa surda nessa situação – como ela sabe se fez um ruído ou não? Essa é uma grande questão para a família de Regan ao longo do filme.
Segundo Krasinski, Millicent ajudou a levar mais verdade para o filme: “Eu queria uma guia, alguém a quem pudesse fazer perguntas. Alguém que me contasse como é estar numa família com pessoas que ouvem. Você se sente isolada? Você se sente menor? Você se sente empoderada? Todas essas conversas profundas que não posso ter com uma atriz que ouve”, ele explica para a Capricho.
Millicent ficou surda ainda bebê, e a mãe contratou um professor de linguagem de sinais para ensinar a todos na casa da menina a como se comunicar com ela. A atriz mirim sempre estudou em uma escola especial e sua família a ajudou muito, por isso ela se considera sortuda.
Ela contou em uma entrevista para a revista norte-americana “People” que nunca pensou em ser uma atriz, sempre pensou que seria uma policial ou bombeira, mas foi pelo caminho das artes depois que o professor teatro notou que a menina tinha boas expressões.
Ainda em entrevista à People, Millicent contou que espera ver daqui para frente cada vez mais atores surdos trabalhando. Ela nota que muitos dos seus colegas de escola não conversam direito com os pais, pois os adultos não aprendem a linguagem de sinais. Por isso manda o recado: “Aprendam linguagem de sinais, é muito simples para todos aprenderem. Ninguém vai julgar suas habilidades”.