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“Temos que aprender com o Brasil ”, diz Angela Davis sobre feminismo negro

Nesta segunda, a ativista e filósofa reuniu mais de 15 mil pessoas em uma conferência sobre a luta pela liberdade

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 fev 2020, 12h27 - Publicado em 21 out 2019, 22h02
 (Sean Drakes/Getty Images)
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Nas ruas do Alabama, um dos estados mais racistas dos Estados Unidos, cresceu um dos principais nomes do movimento negro mundial: Angela Davis. A professora e filósofa socialista está em sua oitava visita ao Brasil, sendo que esta é a primeira em São Paulo, para participar de conferências e lançar seu livro UMA AUTOBIOGRAFIA, pela editora Boitempo. Além da publicação, a ativista anunciou nesta segunda-feira (21) que será produzido um filme com a sua história.

A obra reúne os caminhos que Davis percorreu não só na militância negra, mas como na política. Para ela, o socialismo seria o modelo mais juntos, já que o mesmo preza pela distribuição equilibrada de riquezas e propriedades para diminuir a distância entre ricos e pobres. Tal posição fez com que Angela se filiasse ao Partido Comunista na década de 60.

Angela Davis Coletiva
(Reprodução/CLAUDIA)

Essa crença política também está ligada ao histórico familiar de Angela, que é filha de professores e ativistas. Entretanto, o seu posicionamento político custou a sua liberdade. Nos anos 70, a ativista era considerada uma das dez pessoas mais perigosas dos Estados Unidos depois de participar de uma ação de militantes do Partido Panteras Negras, no Tribunal Superior do Centro Cívico de Marin County, na Califórnia.

Segundo o juiz responsável pelo caso na época, a arma usada na invasão estava no nome da ativista. Porém, as motivações políticas de pessoas que não concordavam com o posicionamento de Angela são consideradas cruciais para a prisão arbitrária. Isso fez com que a Davis consolidasse ainda mais seu posicionamento antipunitivista e anticarcerário.

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Mesmo com a profundidade nas questões do seu país, a professora abriu sua conversa com os jornalistas nesta segunda-feira (21), no Auditório do Ibirapuera, falando em valorização do ativismo brasileiro. “Temos muito o que aprender com o Brasil. Mais do que vocês com os Estados Unidos. Isso é consequência do quanto o EUA coloniza a região toda em movimentos”, disse Angela, que citou grandes referências de ativistas negras brasileiras, como Lélia Gonzales, Preta Ferreira, Erika Malunguinho e Luiza Barros.

Para Davis, é necessário estreitar a troca entre ativistas estadunidenses e brasileiras. “Eu não acho que devo ser a referência principal. As que estão lutando por justiça nos Estados Unidos deveriam saber o nome das feministas negras no Brasil. Falo tanto da Lélia porque o trabalho dela aborda o feminismo anticapitalista e antirracista. E ela enfatiza a conexão com as pessoas indígenas. Isso confronta a gente nos Estados Unidos”, confrontou Angela.

O olhar direcionado a um grupo especifico dentro do feminismo: o de mulheres negras, não é sinônimo de restrição para Angela, que defende o conceito de interseccionalidade. “Ao participar do movimento antirracista tenho que ver a questão do patriarcado. Ao olhar para o feminismo, não posso ignorar a força do capitalismo sobre o patriarcado”, comentou Angela na coletiva.

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Sobre abraçar outras causas, como a da população árabe, que sofre com conflitos religiosos e territoriais, Angela diz: “É tão importante demonstrar solidariedade aos palestinos. Não dá posição de querer oferecer a eles algo que não conseguem desenvolver sozinhos, mas sim por parecer que somos mais fortes juntos. Ganhamos ao oferecer solidariedade”, explicou Davis.

Ao ser questionada em relação à opressão incessante vivida pela população negra, Davis apontou que a escravidão ainda reverbera nos dias de hoje. “O racismo nunca é o mesmo. Ao mesmo tempo, suas estruturas permitem que o passado continue. Acharam que ao abolir a escravidão significaria o fim”, considerou a professora.

Mas Angela ainda tem uma visão de esperança: “Falaram por muito tempo do impacto do racismo nos homens. Mas e as mulheres? A coragem é daqueles que continuam a combater o racismo, o capitalismo. É só o começo, mas é animador. E nós não podemos parar”, finaliza a ativista.

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