Como preparar o “ariá”, alimento amazônico que chamou atenção na COP30
A iguaria amazônica tem textura e sabor inusitados, por isso, vale a pena incorporá-lo nos pratos diários
Um tubérculo de raízes ancestrais, consumido há milênios por povos amazônicos e hoje considerado uma raridade, será uma das estrelas na mesa de autoridades da COP30, em Belém.
O ariá, que praticamente desapareceu das grandes feiras brasileiras após perder espaço para culturas de commodities, volta a ganhar protagonismo, desta vez como símbolo de biodiversidade e futuro.
Ele integra a iniciativa Na Mesa da COP30, organizada pelos institutos Regenera e Comida do Amanhã, que mapeou 8 mil famílias amazônicas aptas a fornecer ingredientes sustentáveis e de origem responsável à conferência.
“Seu cultivo e até o conhecimento sobre como prepará-lo foram abandonados em favor de culturas globais mais rentáveis, como a batata. Hoje, porém, ele é visto como alimento do futuro por pesquisadores. Resgatá-lo significa fortalecer a segurança alimentar e a diversidade à mesa, especialmente em um cenário de mudanças climáticas”, explica Daniela Salim, chef de cozinha, professora e pesquisadora de biomas brasileiros.
Quais características o diferenciam de um tubérculo comum, como a batata?
Segundo Daniela, ele se diferencia de tubérculos comuns pela textura e sabor inusitados. Tem sabor suavemente adocicado e aroma terroso, que se assemelha ao gosto do milho quando cozido e, mesmo após o cozimento, permanece levemente crocante e não se desmancha.
“Essas qualidades únicas fazem dele um ingrediente de alto potencial gastronômico, especialmente onde se busca um contraste de textura e um dulçor natural”, diz.
Como ele era consumido antes
Durante séculos, o ariá foi um dos pilares da alimentação amazônica, um alimento coringa capaz de garantir sustento mesmo nas estações mais secas. Era preparado de forma simples, geralmente cozido com peixe ou transformado em farinha para mingaus.
Como usar em receitas?
Uma das maiores vantagens deste alimento é a sua versatilidade, permitindo combinações que impressionam da entrada à sobremesa. Aqui, Daniela sugere algumas opções que surpreendem até os palares mais exigentes:
Receita de entrada
Pode ser feito em chips, cozido em cubinho ou até carpaccio (corte ultrafino), após cozido al dente e finalizado com um azeite delicioso ou um creme de queijos brasileiros.
Receitas de prato principal
“É um acompanhamento de sabor especial com ótima aderência a molhos e caldos, então, junto de cozimentos longos com carne ou porco, o ária pode ser o destaque”, diz.
Outra opção é cortado em rodelas e assado ao forno com peixes de carne mais gordurosa, como a pescada-amarela, também comum no Norte, por exemplo. “A textura crocante mesmo após cozido é um elemento sensorial a mais em uma refeição”, sugere a chef.
Sobremesa
Pode ser servido como base de bolos, na base da farinha ou ralado em suas massas.
Como inserir o ariá em pratos do dia a dia
Testar ingredientes que estão fora do nosso repertório pode ser uma experiência e tanto. Por isso, a chef indica um prato simples e muito saboroso que pode ser feito no dia a dia. Veja só:
Peixe Grelhado com Ariá Salteado e Ervas Cítricas
Rendimento: 4 porções / Tempo de preparo: 35 minutos
Ingredientes
Ariá:
- 400 g de ariá descascado e cortado em bastões
- 1 colher (sopa) de manteiga de garrafa ou azeite
- Sal e pimenta-do-reino a gosto
- Raspas de limão-cravo
- Folhas frescas de coentro ou salsinha
Peixe:
- 4 filés de peixe branco firme (pintado, robalo, pirarucu ou pescadinha)
- Suco de ½ limão-cravo
- Sal e pimenta a gosto
- 1 fio de azeite para grelhar
Modo de preparo
Comece temperando os filés de peixe com suco de limão, sal e pimenta e deixe marinar por cerca de 10 minutos. Para branquear o ariá, cozinhe-o em água fervente com sal por 3 a 4 minutos. Escorra, resfrie em água gelada e seque bem.
Depois, aqueça a manteiga de garrafa ou o azeite em uma frigideira e salteie o ariá até dourar levemente, mantendo sua crocância. Tempere e finalize com raspas de limão e ervas frescas.
Grelhe os filés de peixe por 3 a 4 minutos de cada lado, até ficarem cozidos e suculentos. Por fim, sirva o peixe sobre o ariá salteado e finalize com azeite ou manteiga de garrafa, mais raspas de limão e ervas, e se delicie!
“O uso do Ariá – ou de qualquer outro alimento vindo dos nossos biomas – nos levanta sempre a questão do olhar sistêmico sobre o que colocamos nos nossos pratos. Precisamos redesenhar as cadeias de produção de forma regenerativa, porque regenerar é mais do que sustentar, envolve a população local, a conservação e a forma de produzir em equilíbrio com a natureza”, conclui a Food Designer e jornalista, Mariana Bacci.
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