Tenho três filhos adolescentes. Desde que a quarentena começou, conversamos frequentemente sobre o que está acontecendo com os jovens no Brasil e no resto do mundo: alunos que estão estudando pela internet, jovens que não têm internet para estudar, estudantes ao redor do planeta que passaram semanas isolados dentro de casa e que, agora, estão, aos poucos, voltando para a escola e retomando seu cotidiano.
Falar com meus filhos sobre a realidade de outras pessoas da mesma idade que a deles é importante para que se deem conta de que não são os únicos passando por um momento turbulento. Quando percebemos que os desafios que estamos enfrentando são gerais e não exclusivamente nossos, nos sentimos menos angustiados, pois vemos que a questão vai muito além das nossas vidas.
Por isso, e por tantas outras vantagens, acredito que seja essencial e nossa função, como responsáveis pela educação de nossos filhos, ensiná-los a discutir e entender atualidades de forma crítica. Quando o jovem não tem acesso às notícias de forma adequada, ele pode ver um conteúdo na internet, no rádio ou na televisão, não entender direito aquela informação e começar a pressupor e imaginar coisas, que podem nem sempre ser corretas ou saudáveis.
Já quando a família discute atualidades com os filhos de forma consistente, há mais chances de serem sanadas as dúvidas e informações incorretas que se passam em suas nas cabeças – o que, como disse anteriormente, pode ajudar a diminuir as angústias e inseguranças dos jovens em relação ao que está se passando no mundo.
Além disso, discutir atualidades com os mais novos faz com que entendam que pertencem ao mundo e que também têm direito a opinar, questionar e compreender aquilo que os cerca. Vale lembrar que, em poucos anos, os jovens de hoje serão cidadãos aptos a votar, indivíduos que terão impacto na sociedade de diversas maneiras. Por isso, é importante que, desde cedo, aprendam a relevância de entender e refletir sobre o que está ao redor.
Costumo dizer que não há um manual de como conversar com os jovens sobre atualidades. O bate-papo deve acontecer de maneira informal, na mesa do jantar, durante uma brincadeira ou na ida à escola, por exemplo. O adulto pode estar no carro com os filhos e perguntar: “Você ouviu a notícia sobre o rompimento da barragem em Brumadinho? O que você pensa sobre isso?” O jovem vai dar a opinião dele e os outros presentes podem concordar ou não, o que também é um exercício interessante para estimular o senso crítico.
É importante reforçar que nós, pais, servimos constantemente de exemplo para os filhos. Por isso, nessas conversas, podemos, por exemplo, comentar sobre as fontes em que lemos determinada informação, ressaltando, de forma implícita e despretensiosa, a importância de irmos atrás de fontes seguras e de não confiar em qualquer conteúdo disseminado por aí.
O que é educação midiática e por que devemos estar atentos a isso?
Tudo isso que citei acima faz parte do desenvolvimento da educação midiática do jovem, uma habilidade que está na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e que é cada vez mais valorizada por educadores do mundo todo. A educação midiática é formada por um conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos – dos impressos aos digitais.
Como já comentei anteriormente, é importante que os jovens desenvolvam essas habilidades desde cedo. Para ajudá-los nessa tarefa e auxiliar pais e responsáveis a conversarem sobre atualidades com os filhos, criei, em 2011, o jornal Joca, o primeiro jornal para crianças e jovens do Brasil. A publicação, que tem edições quinzenais impressas e um portal on-line, traz matérias de assuntos variados (Brasil, mundo, cultura, esportes, tecnologia, saúde, entre outros) de forma simples, imparcial e contextualizada, com o intuito de aumentar o repertório dos jovens e contribuir para que reflitam sobre o mundo que os cerca.
Na próxima coluna, vamos falar sobre como jornais para crianças e adolescentes já existem no mundo todo há muitos anos e como essas publicações têm impacto na vida dos jovens. Até lá!
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