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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Como falar sobre a Guerra na Ucrânia com as crianças?

Precisamos encontrar maneiras de narrar os conflitos de forma objetiva, fazendo o máximo de esforço para não envolver sentimentos

Por Stéphanie Habrich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 mar 2022, 08h05
guerra na ucrânia
Cena de devastação da Guerra na Ucrânia.  (Алесь Усцінаў/Pexels)
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As notícias sobre a Guerra na Ucrânia estão por toda parte – até no Tik Tok, memes e conversas que nossas crianças têm acesso. Elas sabem que algo grave está acontecendo no leste europeu. Trata-se de um fato que não pode ser questionado. Diante disso, as perguntas que nós, pais ou responsáveis, temos que nos fazer são: eles realmente estão entendendo o que está acontecendo? As informações que dispõem sobre o assunto são verdadeiras? E o mais importante: o que estão sentindo em relação aos conflitos? Estão calmos, com medo, ansiosos?

Muitas crianças já sabem da existência de armas nucleares e têm medo do impacto que elas podem causar no planeta. Meu filho mais novo, por exemplo, diante dos últimos acontecimentos, começou a ter dúvidas sobre questões como guerra atômica e a distância que as bombas podem atingir. Para entender melhor sobre o assunto, resolveu fazer pesquisas na internet. Por mais que o Brasil esteja bem longe da Ucrânia e da Rússia, o arsenal desses países preocupa toda a população mundial.

Ao mesmo tempo, sabemos que o assunto por si só é denso e difícil de entender. Para tornar a situação ainda mais desafiadora, muita desinformação, pânico e explicações distorcidas ou incompletas andam sendo espalhadas por aí. Com as ferramentas tecnológicas que temos acesso hoje, qualquer pessoa que esteja no meio da guerra pode tirar fotos ou fazer vídeos do que está acontecendo. Em questão de minutos, essas imagens, que muitas vezes são extremamente trágicas, podem estar circulando no mundo inteiro – e chegando até os nossos filhos ou àqueles que cuidamos. Diante de todos os conteúdos e informações que obteve sobre o assunto, a criança pode acabar montando um quebra-cabeça assustador na cabeça, imaginando que o pior está por acontecer, como a Terceira Guerra Mundial ou ataques nucleares em massa que poderiam acabar com todo o planeta.

Os sinais do medo, muitas vezes, podem não aparecer de forma clara. A criança talvez não vire para o adulto e diga que está com medo de todos à sua volta morrerem. Mas os indícios podem vir de forma sutil, como em uma ansiedade acima do normal, dificuldade para dormir, problemas de concentração… Pequenas manifestações que podem passar desapercebidas para o menor (e para os adultos ao seu redor), mas que mostram que há algo de errado se passando com aquele jovem.

Então, como podemos ajudar as crianças a controlar o medo do conflito? A primeira coisa é fazer com que o jovem entenda o que realmente está acontecendo na Guerra na Ucrânia. Assim, ele terá uma dimensão exata das proporções de cada fato e entenderá como cada país (incluindo o Brasil) pode ou não ser impactado pela guerra. É importante que ele tenha acesso a uma visão pragmática e desapaixonada dos fatos para que possa desenvolver um olhar realista sobre tudo o que está acontecendo. As teorias da conspiração e fake news costumam gerar pânico justamente porque apelam para a emoção, para a sensação de que alguma catástrofe está acontecendo ou prestes a ocorrer.

mãe e filha conversando
Conversar sobre a Guerra na Ucrânia é importante, mas precisamos de objetividade. (Ketut Subiyanto/Pexels)
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Se não queremos assustar demasiadamente as nossas crianças, não podemos usar a mesma ferramenta que esses conteúdos. Temos que encontrar maneiras de narrar os conflitos de forma objetiva, fazendo o máximo de esforço para não envolver sentimentos. No Joca, jornal para crianças e jovens que criei há dez anos, estamos fazendo várias reportagens que explicam, com linguagem e recursos acessíveis, tudo o que está acontecendo na Ucrânia. Recebemos, inclusive, depoimentos de pais que nos contaram que seus filhos estavam muito perdidos nos fatos e que, após a leitura do jornal com eles, os jovens conseguiram compreender melhor a guerra e esclarecer dúvidas e temores. O conhecimento, como temos visto, também serve para acalmar. Ao mesmo tempo, sabemos que estamos falando com um público ainda em fase de formação e que tudo deve ser feito com o máximo de cuidado possível.

Sendo assim, sempre que tratamos de assuntos delicados, como conflitos armados, procuramos trazer uma abordagem positiva ou mais leve para a matéria. Não deixamos de falar sobre os problemas da questão (até porque, como já dissemos anteriormente, os jovens vão ficar sabendo dos aspectos mais dramáticos de uma forma ou de outra), mas tentamos mostrar como, mesmo nas situações mais difíceis, é possível extrair valores positivos. No caso da Guerra na Ucrânia, por exemplo, há a solidariedade com os refugiados. No dia 8 de março, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que 2 milhões de pessoas já tinham deixado o território ucraniano desde o início do conflito. Esses indivíduos estão sendo acolhidos por vários países, com centros de acolhimento, doações de comida, roupas, itens de higiene… Sem contar todas as mensagens positivas que vêm sendo enviadas nas redes sociais.

Nas reportagens para o público infantojuvenil, sempre tentamos mostrar ações positivas. Além de deixar o texto mais palatável para a criança, essas informações inspiram os leitores e fazem com que tenham vontade de ajudar aqueles que, assim como os refugiados, precisam de apoio. Outra abordagem que procuramos trazer quando estamos diante de fatos trágicos é a de apresentar soluções para o problema que está sendo relatado. No caso da Guerra na Ucrânia, por exemplo, é possível trazer especialistas apontando caminhos para o fim dos conflitos. Com isso, o próprio leitor se sente estimulado a pensar sobre o que pode ser feito para que os embates acabem. Trata-se de um exercício rico para a sua formação e para o desenvolvimento da capacidade de pensar em soluções para os problemas do mundo.

A importância do diálogo na família

O que sempre costumamos dizer é que as notícias são apenas pontos de partida para discussões mais profundas. Sendo assim, é sempre oportuno quando os pais ou responsáveis tiram um tempo para conversar com os filhos sobre o que está acontecendo no mundo. Não há ninguém melhor do que um adulto próximo para saber se a criança realmente entendeu um determinado fato ou se ainda está com algum medo ou dúvida. Pensando nisso, vou deixar aqui uma lista que o Fundo das Nações Unidas Para a Infância (Unicef) preparou para ajudar os adultos a conversar com as crianças sobre a Guerra na Ucrânia. Espero que seja útil!

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Pergunte à sua criança o que ela sabe sobre os conflitos e como se sente em relação a ele.

A sua criança pode descobrir as notícias de várias formas diferentes, então é importante que você verifique ao que ela está tendo acesso. Use isso como uma oportunidade para tranquilizá-la e corrigir informações erradas que ela pode ter obtido.

Mantenha a criança calma e fale com ela de uma maneira apropriada para a sua idade.

As crianças têm o direito de saber o que está acontecendo no mundo, mas os adultos têm a responsabilidade de mantê-las longe do estresse. Converse com o menor usando uma linguagem apropriada para a sua faixa etária, observe as suas reações e seja sensível ao seu nível de ansiedade. Lembre-se de que está tudo bem se você não tiver a resposta para uma pergunta. Você pode dizer que precisa checar a informação.

Espalhe compaixão. Não reforce estigmas.

Conflitos podem gerar preconceito e discriminação. Use essa oportunidade para encorajar compaixão – pelas famílias que estão deixando suas casas, por exemplo. Lembre à sua criança que todos merecem ficar em segurança.

Foque naqueles que estão tentando ajudar.

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Encontre histórias positivas, como as de pessoas que estão ajudando as outras. Além disso, veja se a sua criança gostaria de assinar uma petição, escrever um poema para a paz ou participar de alguma campanha de arrecadação de doações. Esse senso de estar fazendo alguma coisa, não importa quão pequeno seja, pode muitas vezes trazer grande conforto.

Realize conversas intimistas e que mostrem cuidado.

Observe a linguagem corporal da sua criança para tentar ajudá-la a controlar o seu nível de ansiedade. Lembre a ela que você está lá para escutá-la e ajudá-la sempre que ela se sentir preocupada.

Sempre se certifique de como a criança está se sentindo.

Esteja pronto para conversar com a criança sempre que ela tocar no assunto. Se for antes da hora de dormir, tente terminar a conversa com algo positivo, como lendo a sua história favorita. Isso pode ajudá-la a dormir.

Limite a quantidade de informações a que a criança tem acesso.

Tenha noção de quão exposta às notícias a sua criança está, em meio a esse momento em que manchetes alarmantes estão por toda parte. Considere tirar essas notícias sensacionalistas quando uma criança pequena estiver por perto. Já com crianças mais velhas, você pode usar essa oportunidade para discutir quanto tempo vocês passam consumindo esses tipos de conteúdo e que novas fontes poderiam usar.

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Cuide de você mesmo.

Se você estiver se sentindo ansioso ou triste, tire um tempo para si mesmo e fale com familiares e amigos em quem você confie. Conforme for a sua disponibilidade, tente arranjar tempo para fazer coisas que te ajudam a relaxar e se recuperar. Seja gentil com você mesmo.

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