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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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A importância de falar sobre racismo com nossos filhos

Discutindo a questão, a aproximamos do cotidiano dos jovens e contribuímos para que eles fiquem mais atentos e não perpetuem preconceitos

Por Da Redação
17 jun 2020, 10h00
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  • Em tempos de reivindicações sociais intensas, uma jovem de 17 anos desabafa com sua professora. Ela relata seu choque e frustração por ter passado 17 anos de sua vida sem entrar em contato com informações essenciais sobre a questão do racismo no Brasil. Em sua fala, a adolescente questiona o papel das famílias e da educação formal brasileira na promoção de diálogos que ajudem os jovens a entender e interagir com a realidade em que estão inseridos.

    Essa foi a história que uma amiga me contou e que me inspirou a trazer esse assunto para a coluna. Como podemos ver, o racismo é um assunto que não apenas pode, como deve ser tratado no ambiente familiar. Em um país como o Brasil, onde 55% da população se auto declara negra, esse debate se torna ainda mais urgente. Apesar da crença de que por aqui todos os grupos étnicos-raciais vivem em perfeita harmonia, 55% dos negros afirmam já terem sofrido preconceito por cor ou raça, segundo pesquisa divulgada em 2019 pelo DataFolha.

    O momento que estamos vivendo, por exemplo, é propício para iniciar – ou reforçar – em casa essa conversa tão necessária. Aproveitando o gancho das manifestações antirracistas que estão acontecendo nos Estados Unidos e em várias outras partes do mundo, nós, pais ou responsáveis, podemos mostrar aos jovens como o racismo está presente em diversos contextos do nosso dia a dia, desde o uso de expressões que tratam a cor negra como algo negativo (a exemplo da frase “passado negro”), até o fato de muitas escolas privadas terem pouquíssimos alunos negros nas turmas.

    A partir do momento em que trazemos essa discussão à tona e a aproximamos do cotidiano dos jovens, estamos contribuindo para que eles fiquem mais atentos à questão e se esforcem para não perpetuarem preconceitos.

    Sabemos que, em muitas famílias, falar sobre racismo não é uma prática comum. Muitos adultos vieram de estruturas familiares nas quais esse assunto não costumava ser abordado, ou por ser quase como uma espécie de tabu, ou por entenderem que o preconceito é uma questão superada, que já não existe mais no Brasil. Porém, ao mesmo tempo, sabemos que não falar sobre determinados assuntos pode fazer com que os problemas fiquem ainda mais complexos – e, no limite, tornem-se invisíveis. Os jovens que não estão acostumados com as discussões sobre raça podem fazer leituras e interpretações equivocadas sobre o mundo em que vivem e, ao longo de suas vidas, podem naturalizar posturas que não condizem com os valores e relações sociais que almejamos construir coletivamente.

    Por isso, é importante que as famílias chamem a atenção para as sutilezas de nossas ações, mostrando que é, sim, possível fazer um comentário racista ou ter uma atitude racista sem perceber, ou sem ter a intenção de ser preconceituoso. Como diria uma amiga que dá aulas de literatura brasileira em uma escola particular de São Paulo, todo mundo que vive em uma sociedade racista acaba sendo racista de alguma forma. A questão é tão enraizada em nossa cultura que é de se esperar que um indivíduo seja preconceituoso em algum ponto de sua vida. Mas isso não nos isenta da responsabilidade de desconstruir nossas ideias e valores equivocados, e de assumir uma atitude antirracista, nos posicionando contra a discriminação e apontando quando estamos diante de um comportamento recriminatório. Do contrário, estaremos sendo coniventes com a estrutura opressora presente na sociedade.

    Nessas conversas com os jovens, também é válido trazer à tona a perspectiva histórica para que eles entendam as origens do problema. Segundo Rodney Williams, autor considerado pela ONU como um dos 100 negros mais influentes de 2019, e que foi entrevistado por uma leitora do jornal Joca no nosso podcast Revisteen, o racismo é um sistema de opressão que historicamente desumaniza pessoas e pressupõe uma superioridade entre raças. Para desconstruir esse conceito, precisamos estudar a história: o tráfico de pessoas escravizadas, as crenças e estruturas socioeconômicas vigentes na Europa à época, que deram origem ao conceito de hierarquia de raças, o cotidiano de negros escravizados no Brasil, o processo de abolição da escravatura… Além disso, é importante entender de que maneira esses indivíduos integraram a construção do país e de como sua presença é responsável por contribuições riquíssimas para todas as áreas, desde a produção intelectual até a produção musical.

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    O presente tem forte relação com o passado e isso deve ser reforçado constantemente nas discussões com os jovens. No Brasil, o sistema escravagista e a falta de políticas voltadas para integração dos ex-escravizados à sociedade produziram a realidade atual do país, na qual 75% da população mais pobre é negra. A partir dessas informações, é possível promover reflexões sobre assuntos de extrema importância para o entendimento da sociedade, como acesso à moradia, fome e distribuição de riquezas.

    Como começar a discussão em casa?

    Eu, como fundadora do Joca, um jornal para crianças e jovens, entendo a enorme responsabilidade que tenho na formação de nossos leitores e de como eles serão essenciais para a construção de um país mais justo e tolerante.

    Sempre dizemos aos pais assinantes que o jornal pode ser um ponto de partida para qualquer discussão. Queremos trazer não só um grande número de informações, mas também uma diversidade de vozes para proporcionar debates ricos e vastos.

    Na última edição, por exemplo, fizemos uma reportagem sobre as manifestações antirracistas que têm acontecido nos Estados Unidos e no resto do mundo. Explicamos a morte de George Floyd, o que tem acontecido nos protestos e como o racismo é parte integrante da vida das pessoas. Além disso, trouxemos depoimentos de crianças e adolescentes negros sobre o cenário atual.

    Com isso, o adulto pode, por exemplo, ler a matéria com o jovem e, depois, discutir com ele sobre como o racismo está presente no cotidiano deles. Sempre digo que nós, pais, servimos de exemplo para os nossos filhos. Com isso em mente, o adulto pode questionar o seu próprio comportamento diante de alguma situação ou refletir sobre alguma cena que presenciou no passado. Isso tudo fará com que o jovem entenda a necessidade de ele mesmo fazer esse exercício de reflexão constantemente, pensando sobre como ele contribui ou não para a construção de uma sociedade mais justa.

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    Como diria Angela Davis, militante pelos direitos dos negros nos Estados Unidos, não basta ser contra o racismo. É preciso ser antirracista. E podemos começar a fazer a nossa parte nesse processo dentro de casa, com aqueles que mais amamos.

    Todas as mulheres podem (e devem) assumir postura antirracista:

     

     

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