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Por trás da moda

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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Como é a vida da roupa da Miu Miu fora da passarela?

Miu Miu apresenta o 24º episódio do Women's Tales, série de contos que mostra como seria um look de passarela na vida real

Por Renata Brosina
10 set 2022, 10h38
Cada episódio explora as complexidades de ser mulher pelo olhar de outras mulheres de diferentes origens e gerações. (Miu Miu Women’s Tales/Divulgação)
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A pergunta do título é, provavelmente, o que faz sentido para começar a contar sobre o Miu Miu Women’s Tales. Ainda mais dentro da vida da mulher real, que é o foco de Miuccia Prada. Sabemos que a moda é composta por marcas que carregam valores reais – e outras aproveitam de um movimento de marketing para conquistar espaço e o coração do público. Sra Prada tem suas marcas, Prada e Miu Miu, dentro do primeiro time. Isso porque a estilista italiana, que já é conhecida por levar questionamentos e discussões profundas como centro das temáticas das suas coleções, mostrou diversas vezes o quanto a moda que cria não é o objetivo final do seu trabalho, mas serve como ferramenta para reforçar os seus pilares.

Um deles é o feminismo que, diferente de diversas grifes que surfaram na onda da valorização e do apoio às mulheres, Miuccia traz como pauta desde o início da sua carreira – e vai desde convidar artistas mulheres para criar ilustrações para suas estampas, até os projetos que vão além da moda. Neste último caso, o cinema, um dos grandes amores da Sra Prada, ganhou um olhar carinhoso para desenvolver uma iniciativa que não se trata de uma campanha publicitária. O Miu Miu Women’s Tales, lançado em 2011, é uma aclamada série de curtas-metragens que convida diretoras para apresentarem histórias encomendadas pela Miu Miu duas vezes ao ano, com foco em investigar a vaidade e a feminilidade no século XXI. Uma das estreias acontece no segundo semestre do ano no Festival de Cinema de Veneza. Em outras palavras, a marca entrega uma coleção de roupas da grife correspondente à temporada da estreia para a cineasta elaborar o curta com toda liberdade. E é tanta liberdade que, às vezes, é fácil esquecer que você está assistindo a um filme que carrega o nome Miu Miu.

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Cena de Carta a Mi Madre para Mi Hijo. (Miu Miu Women’s Tales/Divulgação)

Digo isso porque no último episódio lançado, o Carta a Mi Madre para Mi Hijo, da diretora espanhola Carla Simón, demorei para ver uma peça de Inverno 2022 da Miu Miu. Você começa a ver um brilho daqui, outro bordado mais carregado ali, mas o tema central não é a etiqueta da roupa. A função está mais em dar vida à roupa dentro de uma história do cotidiano do que dar aquele zoom de fashion film. E, no caso do 24º conto da série, a cineasta decidiu tornar a relação familiar entre mãe, filho e avós em uma linha do tempo tão sensível e lúdica. Há cenas de Carla grávida e nua, assim como nas fotos em que a mãe posa grávida da própria Carla. A brincadeira com a luz do sol entrando pelas janelas revelando fotos de avós, tios, tias, pais, bisavós sorrindo, costurando e recitando poesia. Em outro momento, há o crescimento da jovem, desde os anos 1960 até aos dias de hoje, passando pelos anos 1980, atravessando os limiares da feminilidade e da história, até conhecer Carla grávida junto ao céu azul da costa catalã. “Com este filme para o Miu Miu Women’s Tales, quero dar ao meu filho o que não tive: uma história de família.” Para Simón, há um papel especial que os filmes desempenham na vida das pessoas: “O cinema tem o poder de reparar o que está faltando.” O uso da roupa é secundário, mas, para quem está sempre atento ao que foi apresentado nas passarelas, ganha outro sentido.

Ver o look fora do contexto frio dos holofotes dos fotógrafos de moda cria uma relação de realidade, dá o sentido que a roupa criada por Miuccia Prada merece. Antes do curta apresentado por Carla Simón, uma lista de outros grandes nomes também deu vida aos verões e invernos da Miu Miu. E nenhum deles dirigido por Miuccia, mas com olhares que incluem nomes como Agnès Varda, Ava Duvernay, Mati Diop e Dakota Fanning. Diretoras conhecidas do grande público ou não. Cada episódio explora as complexidades de ser mulher pelo olhar de outras mulheres de diferentes origens e gerações – e só assim o projeto consegue ganhar sentido genuíno, compartilhando diferentes realidades e culturas. E, mesmo com essa pluralidade, ainda é possível encontrar perguntas em comum. “Como as mulheres aparecem umas para as outras?” e “Como as mulheres aparecem para si mesmas?” estão entre os questionamentos que fazem parte da trajetória da construção de cada mulher, seja ela cineasta ou não, e que a Sra Prada busca comunicar dentro da moda.

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” O uso da roupa é secundário, mas, para quem está sempre atento ao que foi apresentado nas passarelas, ganha outro sentido. (Miu Miu Women’s Tales/Divulgação)

No Miu Miu Women’s Tales, a linguagem parece ser mais didática, mesmo com tanta magia dentro da história do curta, mas o reconhecimento dentro de uma personagem ajuda a absorver melhor o papel que temos, como mulheres. A busca de Miuccia Prada é que possamos nos identificar como mulheres, com nossas roupas e da maneira que as usamos, e não apenas com um vestido lindamente bordado, que não nos conecta com a realidade. Além de dar visibilidade para mulheres diretoras, Miuccia reforça o seu propósito na moda – e mostra ao que veio: para ser o suporte e apoiar outras mulheres a construírem uma nova realidade para século XXI. 

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