Tristeza madura
Acho que a morte tem que sentar na sala de jantar, ocupar nossos papos, entrar pela porta da frente nos debates cotidianos
Tantas amigas indo embora. Sempre ouvi dizer que a maturidade é um lugar solitário. Despedidas de personagens que fizeram parte de nossas vidas. É tanta gente morrendo. E não mais de Covid-19. A vida voltou ao normal, inclusive nos óbitos. A lista é encabeçada pelo câncer, ataque cardíaco, acidentes e uma série de prantos que nos molham em oceanos.
Vou sessentar já, já. Nunca antes senti a idade. Mas acho que o meia-zero será doído. E olha que eu dou de ombros. Faço regime, ginástica, coloco um botox aqui, compro um vestido novo ali… mas não dá para não pensar no finito. E quer saber? Acho que a morte tem que sentar na sala de jantar, ocupar nossos papos, entrar pela porta da frente nos debates cotidianos. Se nem Jesus escapou da cruz, qual a parte que não entendemos que vamos partir?
E esse vazio que se apresenta depois da notícia de uma amiga que morre, da saída de cena de um amigo querido, de um conhecido que se cala, de uma celebridade falecida. Vamos lá. Estamos tão avançados em tecnologia, em inovação e mil e um cenários disruptivos, porque não vamos eleger a morte como assunto prioritário? “Gentem”, só vamos sossegar quando tivermos pego o nosso fim na unha.
Claro que é fácil falar. Mas acho que o novo debate da sociedade tem que ser de uma atitude positiva frente à morte. Uma espécie de nova cartilha para melhor morrer. Comecemos pelos exemplos. Suicídio assistido; plano funeral; hospital de transição….Depois, pela organização de senhas, papeladas, bens e sobretudo histórias. Muitas histórias.