São José e suas Marias
Somos suas filhas espirituais, cansadas de muitas provações nesse deserto de respeito e ética batizado Brasil
Ontem foi dia de São José, em plena quaresma mundial. Peguei o metrô e fui para a igreja do santo no Centro no Rio. Zilhões de fiéis. Olhei em volta e vi, em sua maioria, mulheres maduras, 50+. Tenho a sensação que quanto mais a idade avança, mas nos enroscamos nos terços da vida. Suadas, descabeladas, grudadas, emocionadas.
Eram a imagem da (des) esperança. Vi em seus olhos o peso do mundo e fiz um enredo em minha cabeça. Essa aqui: viúva, filho problema, ganha pouco no trabalho. Aquela grisalha ali: mãe doente em casa, menopausa grau10, louca para dividir o aluguel com uma amiga. A ruiva ali no canto: foi bonita, teve vários homens, hoje sozinha é depressiva e trêmula.
Ah, já ia me esquecendo de mim. Casada pela segunda vez, vários problemas financeiros, tia no asilo, mãe demenciando, luto feito leoa bancando duas faculdades, três planos de saúde, procurando ser digna e fazer o bem. E nesse quebra cabeça estilo Projac, numa imaginação da vida alheia e um mergulho real na minha própria, também chorei lágrimas de crocodilo. Usei o calor infernal (sorry José) que fazia na catedral pra misturar pranto com suor, numa fundição de humores, enquanto aos berros, cantava os hinos de louvores. E agradeci. Muito. Por ter renascido há 7 anos, de um câncer uterino, por ter 3 empregos que me ajudam a remar, por ter uma nova família e ali, naquela sauna humana – lotada de pedidos de resgates, olhei bem pra cara do santo e disse: José, cuida de todas as Marias que sofrem. Somos suas filhas espirituais, cansadas de muitas provações nesse deserto de respeito e ética batizado Brasil.