Enjoei
Tantas séries, denuncias, docs.... isso sem falar nas LIVES, a verdadeira pandemia do isolamento
De tanta coisa.
Você não?
Há muito abandonei a fofa, ando sendo eu mesma, sem filtro. Uns gostam. Outros estranham. Eu mesma não me aguento quando faço a Che Guevara da minha vida. Revolucionária, panfletária e cagando regra do que é melhor para mim. Será que eu sei? A pandemia ceifou minhas certezas. Acho desesperador desde o início, pois – do alto do meu pedestal grisalho – julguei que a maturidade trazia como bônus, sapiência. Tô vendo que nada sei.
E essa areia movediça do envelhecimento está espantando atitudes obsoletas do meu ser. Comecei fazendo a transição de loura para grisalha. O cabelo está medonho. Quatro dedos brancos de raiz, sem trato, me nocauteiam no espelho. Depois, quilos a mais. Vou mandar a conta do endócrino para algum chinês.
E o home office? Misericórdia, trabalha-se o triplo. Na ânsia de focar, não praticamos mais a rádio-corredor, o cafezinho das fofocas e só trabalhamos. As varizes me doem e os olhos ardem. Caraca, tô véia mesmo. Sim, mas tem o beneficio de não pegarmos trânsito, nem gastarmos com almoços caros, nem nos arriscarmos às tempestades, balas perdidas (sou carioca) e mosquitos da dengue, zika, morcegos e agora gafanhotos. Puxada essa selva né?
E a faxina? Já sei de cor todas as marcas de sapólio, alvejante, desinfetante do mercado e aprendi a eficácia do bicabornato para tudo em casa e sei dicas que” Sebastiana Quebra-Galho” nunca descobriu.
E dá-lhe Netflix confessando que embolei todas as tramas. Misturo a personagem russa, com a heroína americana, confundo com a protagonista israelense e lembro-me vagamente da vítima espanhola. Tantas séries, denuncias, docs…. isso sem falar nas LIVES, a verdadeira pandemia do isolamento. Tem transmissão de tudo. Com 1 internauta assistindo sobre a vida das jiboias assassinas até 100 mil pessoas na missa do Padre Fabio de Mello. E dá-lhe Teresa Cristina. Não conhecia a mulher direito e agora ela invade minha sala todas as noites. Tem a novelinha da Paula Lavigne com o Caetano. Mas juro, enjoei.
Tô de saco cheio desta enfurnação do quarto, pro banheiro, pra área, pra varandinha, pro corredor. É uma Formula 1 de pangarés. Quero ser uma `inocente do Leblon ‘é beber um Chopp na Dias Ferreira mas aí penso nos meus vizinhos septuagenários que não dão as caras nem pra jogar o lixo fora, respeitando o lockdown. Assumo faltar apenas um bocadinho apenas para eu surtar e vestir meu kaftan marroquino e correr pra vida dando uma de Narcisa. Tô precisando urgentemente do bordão: “Ai que loucura”
Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva