Brasileira expert em dança do ventre vira febre no Egito com este vídeo
Lurdiana Tejas ganhou o título de melhor dançarina de dança do ventre no país há poucos meses
Ela é uma celebridade no Egito e é 100% brasileira. Sua dança encanta. O momento mais aguardado do evento é sempre a entrada da bailarina e dançarina de dança do ventre Lurdiana Tejas lá no Cairo, Egito, onde mora há quatro anos.
Destaque aqui no Brasil em programas como Fantástico e Mais Você, há poucos meses Lurdiana ganhou o título de melhor dançarina de dança do ventre do Egito. Lá, já perdeu as contas de quantas entrevistas deu, programas que participou e convites que recebe diariamente.
Atualmente, o nome de Lurdiana tem percorrido o Egito e seus arredores como um furacão. Além de despertar olhares curiosos, a profissional também colocou o Brasil no top trending do Twitter egípcio por meio da sua arte.
Foram mais de 100 milhões de visualizações no vídeo postado por um salão que ela frequenta no Cairo. Com uma técnica apurada e muito ritmo nos quadris, a bailarina brasileira tem dominado os palcos do Egito e feito fãs pelo mundo afora.
“Eu comecei a dançar por influência e incentivo da minha mãe, que era bailarina e professora. A dança sempre esteve presente na minha vida em todos os aspectos, como bailarina, professora e por diversão. Conheci muitas pessoas, lugares e tive muitas conquistas”, explica.
Uma vida dedicada à dança
Maria Lurdiana Alves Tejas, tem 32 anos, é natural de Porto Velho, Rondônia, mas aos sete anos de idade mudou-se com a família para Camboriú, Santa Catarina, onde morou no bairro Monte Alegre até ir para o Egito em meados de 2017 para tentar a vida de bailarina profissional de dança do ventre.
Lurdiana, que cresceu em uma família muito simples e cercada pela natureza, lembra que quando criança amava colher açaí com a sua avó materna por quem foi criada até os sete anos de idade e realmente nunca imaginou que um dia seria uma celebridade fora do país.
“Não é fácil ser uma bailarina de dança do ventre no Egito. Enfrentamos muitos desafios e preconceitos, mas eu estou muito feliz, tenho conseguido mostrar que a dança é uma profissão e merece respeito em qualquer lugar do mundo”, revela.
Sua família vivia da natureza e por motivos financeiros não tinha como comprar comida no mercado. A feira semanal, por exemplo, era feita na floresta perto da casa onde morava.
A dançarina aprendeu desde cedo a aproveitar os recursos naturais e valorizar o meio ambiente. “Lembro que o marido da minha avó pescava e ela fazia tudo com frutas e ainda preparava tapioca e açaí, tudo de forma natural. Não comíamos carne, porque era muito caro, então tudo mesmo vinha da natureza”, relembra.
Ainda em Porto Velho, seu primeiro contato com a dança foi através da festa de celebração do Boi Bumba, que fez parte da sua infância e o qual ela atribui uma energia muito forte.
“O Boi bumba é parte da cultura da minha região de origem, lembro que minha avó costurava os figurinos e todos lá em casa participavam. Era algo bem forte, tanto que, mesmo novinha, tenho a lembrança viva na minha cabeça. Eu devia ter uns 3 anos de idade, mas recorda da energia, das pessoas, foi algo muito marcante.”
Na adolescência, ela viveu uma fase difícil e chegou a ficar fora dos palcos por um tempo, pois achou que não era aquilo que queria para a sua vida, mas sua mãe não desistiu de ver a filha dançando.
Logo começou a levá-la para ser sua assistente nas aulas de dança que lecionava em escolas na época e mostrar que a dança podia ser uma profissão. Com 15 anos de idade, ela já assumiu algumas turmas e começou a atuar como professora de jazz infantil.
Foi nessa mesma época que sua mãe começou a estudar sobre a dança do ventre por meio de vídeo cassete e praticamente a obrigou a fazer suas aulas, algo que Lurdiana não gostou no início. Ainda assim, ela não a deixou desistir, porque sempre viu muito potencial na filha dentro da modalidade.
Na escola e no grupo de dança Adriana Alcântara em Balneário Camboriú, onde foi bolsista por mais de 15 anos, Lurdiana participou de diversos festivais de dança sendo premiada em muitos deles, inclusive no maior do país, o Festival de Dança de Joinville. Ela também dançou em restaurantes árabes em Itajaí e Joinville até receber o convite para tornar-se bailarina no Egito.
Rotina no Egito
Com uma rotina de shows intensa, participações em festas, casamentos e workshops, Lurdiana tem ganhado também muita atenção da internet, já que seu Instagram chegou a mais de 1 milhão e 700 mil seguidores.
Com todo esse carisma e amor pela dança, quem assiste suas performances e a acompanha nas redes sociais nem imagina a caminhada que ela percorreu para estar hoje entre as melhores bailarinas de dança do ventre do Egito.
“Foi um misto de emoções. Ao mesmo tempo que estava muito feliz e ansiosa por ter a oportunidade de trabalhar como bailarina em um país árabe, fiquei com medo de não conseguir me adaptar e realmente foi bem difícil no começo. Eu tinha muita saudade de casa, da minha família, dos amigos e de lugares preferidos”, relembra.
Entre as diferenças, preconceitos e culturas do Egito, Lurdiana já habituada explica: “Por ser um país onde 90% da população é muçulmana, a cultura e tradição são mais conservadoras comparado com o Brasil. Eles têm uma culinária em certo ponto parecida com a nossa, mas também pratos bem exóticos”, diz a bailarina, que também lembra que o clima e a vegetação são mais desérticos.
Ainda sobre o ambiente conservador, Lurdiana lembra da questão de gênero. “As mulheres são criadas para ter uma postura mais séria e discreta, tanto no comportamento quanto nas vestimentas. E nós, brasileiras, somos simpáticas, espontâneas e temos liberdade na maneira de nos vestir, então muitas vezes nosso jeito é interpretado de maneira errada por eles”, explica ela.
Lurdiana relembra que sofreu bastante, porque muitas mulheres usam a dança do ventre para intermediar a prostituição no Cairo, o que depois de alguns anos vivendo lá passou a entender muitos processos para poder viver melhor.
“Com isso, algumas pessoas também acham que somos prostitutas. Hoje, tenho um trabalho consolidado e respeitado, o que diminuiu muito o preconceito que tinham. Na verdade, depois de alguns anos vivendo aqui eu acabei entendendo como funciona o sistema e aos poucos fui me adaptando”, diz a profissional, que respeita e adota uma postura de acordo com os costumes locais.
Mas nem sempre foi assim. Ela confessa que no início teve dificuldades em tudo, inclusive na forma de se vestir, se comportar e até lidar com as pessoas, o clima, a comida. “Além disso, eu não falava inglês e muito menos árabe. Então, me comunicava com bastante dificuldade”, resume a dançarina.
Apesar de toda a adaptação, Lurdiana não tem uma rotina fixa. A maioria de seus trabalhos são previamente agendados, mas outros surgem em cima da hora, então para se manter saudável ela tem seus cuidados.
“Tento manter uma rotina de cuidados com o corpo e a minha alimentação. Além disso, vou à academia e pratico yoga até três vezes na semana. Isso é essencial”, finaliza.
A dançarina faz aulas de árabe e também tem produzido vídeos de aulas de dança do ventre para suas redes sociais. O tempo que sobra é pouco, mas ela aproveita para estar com suas amigas brasileiras que moram no Cairo e também para cozinhar.
Mas sobre voltar para o Brasil… “Por enquanto não pretendo voltar para o Brasil, estou feliz e realizada morando aqui, apesar da saudade ser muita”, completa.
Sobre ser uma celebridade no Egito e arredores surpreende e muito a bailarina. “Foi uma grande surpresa e felicidade ter esse reconhecimento todo por aqui, eu realmente não esperava. Vim muito focada e determinada a fazer o meu melhor, me dediquei e me esforcei muito, mas nunca imaginava que um dia iria ficar famosa por isso. Confesso que ainda tenho um pouco de dificuldade em lidar com essa nova fase, mas está sendo uma experiência maravilhosa receber tanto carinho e ser inspiração para tantas mulheres.”
A relação da bailarina com a família é ótima e, ao menos uma vez por ano, ela vem ao Brasil para visitá-los. Lurdiana explica as diferenças da dança do ventre no Brasil e lá no Egito.
“É bem diferente. Ao contrário do Egito, no Brasil, a dança do ventre não faz parte da nossa cultura e tradição. Ela não está presente nas festas de comemoração e no dia a dia da família como aqui”, comenta sobre o fato dos praticantes serem mais restritos no Brasil.
“Aqui no Egito as mulheres dançam em casa, entre mulheres, família e para o esposo (a dança é genuína e pura). Nas academias femininas têm aulas de dança do ventre como qualquer outro tipo de atividade, como zumba, yoga, ginástica. Na TV passam clipes de músicas com bailarinas dançando. Os egípcios adoram assistir as apresentações de dança do ventre em festas e casamentos”, esclarece Lurdiana.
A dançarina ainda explica que no Egito você tem uma verdadeira oportunidade de ser reconhecida pela sua dança.
“No começo eu tive um pouco de dificuldade na adaptação, porque o estilo de dança exigido no mercado pelo Egito é completamente diferente do que utilizamos no Brasil. Eu tive aulas com professoras egípcias e também aprendi muito observando as mulheres egípcias dançando”, revela.
Segundo Lurdiana, sua dança precisou ser adaptada e as músicas traduzidas com o intuito de ter mais interação com o público. “Isso tudo foi um processo gradual e progressivo”, diz.
Entre seus sonhos estão abrir sua escola de dança no Egito, viajar pelo mundo e construir uma família. Hoje Lurdiana conta com um suporte para coordenar suas solicitações, fazer agendamento de shows, gerenciar suas mídias sociais e imprensa.
Lurdiana se sente realizada. São muitos planos e projetos em andamento e que espera poder compartilhar em breve.
“Eu era uma menina cheia de sonhos em busca de novos desafios, com o coração e mente aberta para novas experiências sem saber ao certo o que me esperava. Hoje eu me encontrei. Me sinto preenchida, mais segura e realizada no que sou e faço, mais madura e decidida no que quero para meu futuro”, finaliza.