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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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O país está de ponta-cabeça

Hoje, poderia ser aquele dia que a gente lembra como “o dia em que a terra parou"

Por Da Redação
Atualizado em 25 abr 2020, 12h06 - Publicado em 24 abr 2020, 21h06
 (Andre Coelho/Getty Images)
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Hoje, poderia ser aquele dia que a gente lembra como “o dia em que a terra parou”. Algo que pouca gente imaginava aconteceu e um super Ministro pediu demissão. Já serão muitos analistas falando sobre isso. Mas não tem como dizer que isso não impactou meu dia.

Logo ao acordar, recebi a informação: Ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu demissão. E mais: ele tinha declarações bombásticas. Meu organograma do dia estava perfeito: tomar um café da manhã saudável, com frutas, café, sucos e pão de queijo (porque eu sou louca por pão de queijo). Alguns jornais e começar a escrever: trabalho, coluna. E estar tranquila para a noite assistir minha aula de psicologia social e encerrar o dia com filme com minhas irmãs. Nada. Brasília não deixou.

Leia também: Quem é Rosangela Moro?

Não bastasse a crise de dimensões globais que estamos passando, tanto de saúde quanto econômica – basta pensarmos que um dos primeiros efeitos da pandemia foi a fome –, ainda enfrentamos no país, agora, um acirramento, e pior, um escancaramento da crise política.

A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça não é um evento corriqueiro, de troca de ministros sem muita importância. Mas de proporções imensas, passando pela importância da pasta, pela popularidade do ex-Ministro e chegando até o teor da declaração de demissão do Ministro. É grave. Não apenas denuncia o Presidente de crimes e de interferência na atuação de órgãos que precisam de autonomia para trabalhar, como também evidenciam que o ex-Ministro também cometeu crime de prevaricação. Veja, não é qualquer coisa. Não tem como a gente passar um dia “normal” (já entre bastante aspas pela crise global que passamos).

E tudo se encerra com o pronunciamento do Presidente. Uma cereja no bolo. Muitos vão dizer que foi muito confuso. Mas, para mim, pessoa que passou por uma faculdade de Letras e que, por isso, dá muita importância ao discurso, o pronunciamento foi, no mínimo, perigoso. Por que? Porque muitos foram os sinais trocados ali. O ocupante do Palácio do Planalto não apenas respondeu à saída de um dos principais nomes do governo. Mas apontou o dedo, tentou jogar a batata quente de volta, retomou assuntos que sequer tinham muita razão de ser, fez acusações e, principalmente, apresentou um tom radicalizado e autoritário. Não é porque alguém é Presidente da República que pode tudo. Governos vem e vão. O Estado fica. Há órgãos, áreas estatais que devem sim ser observadas e acompanhadas pelo ocupante da Presidência, mas devem trabalhar sob a égide republicana, democrática, ter autonomia e não pode receber interferências de quem quer que seja, doa a quem doer. É isso que nos garante tranquilidade e pleno funcionamento democrático, é isso que garante a existência de um Estado e não governos, simplesmente.

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Minha cabeça está um turbilhão. E acho que a de todo mundo está. A gente ainda ter que lidar com uma crise dessas dimensões é um absurdo. Nossa principal tarefa, e ainda é, era a de conter a disseminação do vírus, demandar ampliação de testagem, ampliar capacidade de atendimento dos equipamentos de saúde, ampliar leitos, respiradores. E nós temos que lidar, ainda, com o ego de homens de terno. Porque tudo isso diz respeito a gente. E tudo isso pode atrapalhar ainda mais os esforços para que não percamos tantas vidas mais.

Acompanhe o “Diário De Uma Quarentener”:

01/04 – A rotina do isolamento de Juliana Borges no “Diário De Uma Quarentener”

02/04 – O manual de sobrevivência de uma quarentener

03/04 – Permita-se viver “o nada” na quarentena sem culpa

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06/04 – O que a gente come tem algo a ver com as pandemias?

07/04 – As periferias e as mobilizações na pandemia

08/04 – Um exemplo de despreparo em uma pandemia

09/04 – Como perder a noção do tempo sem esquecer a gravidade dos tempos

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10/04 – Não é hora de afrouxarmos o distanciamento. Se você pode, fique em casa!

11/04 – 3 filmes para refletir sobre a pandemia da Covid-19

12/04 – Nesta Páscoa, carrego muitas saudades. Hoje, minha mãe completaria 54 anos

13/04 – Obrigada, Moraes Moreira!

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14/04- E aí, quais são as lives da semana?

15/04 – Como praticar autocuidado radical?

16/04 – #TBT da saudade do mar 

17/04 – Precisamos falar sobre a pandemia e violência contra as mulheres

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18/04 – Mulheres na política fazem a diferença também no combate à pandemia

19/04 – Quem cuida de quem cuida?

20/04 – Tempos difíceis

21/04 – Viva Hilda Hilst!

22/04 – Dia da Terra e o futuro da humanidade

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