Nem sabia que eu tinha um dia. E já logo adianto que achei incrível. Quando fui fazer uma busca para pesquisar algumas nuances do dia para escrever aqui hoje, tomei um susto. As matérias eram focadas em “como passar seu dia do solteiro sozinho na quarentena” ou “dicas de bem-estar para quando se está sozinho”. Uma perspectiva tão pobre sobre ser solteira, não?
No dicionário, solteira e sozinha não são sinônimos. A definição da última é sobre estar totalmente isolada, abandonada. Achei pesado, mas real. Já no caso da primeira, também vi diversas problemáticas: em resumo, solteira é não estar casada. Ou seja, ser solteira seria uma espera ou uma eterna busca para sair da condição de solteira. Já estamos no século XXI e acredito que mudar essa ideia de solteira já passou da hora!
Um dos seriados que mais amo é Sex and the City – que resolvi maratonar na quarentena. Simplesmente, amo as peripécias de Carrie Bradshaw. Na juventude, eu jurava que era mais uma linha Samantha Jones. E acho que fui, não com aquela intensidade toda da personagem, mas muito como um espírito livre. Depois, acho que das questões sobre ser jovem adulta, sobre passar por alguns relacionamentos ou quase relacionamentos, me entreguei às dinâmicas da personagem de Sarah Jessica Parker. Não fosse Ms. Bradshaw, talvez eu tivesse jogado meu sonho de ser escritora no lixo. Com ela, aprendi que era possível ser escritora e falar sobre tudo, conversar sobre medos, sobre pensamentos às vezes ainda vagos, ainda por se definir, através da escrita. E, ok, o seriado vende um pouco essa ideia geral, apesar da resistência de Samantha, que o significado de uma solteira é aquela que ainda não está casada, como se fosse uma transição. Mas, eu confesso que torci o tempo todo para que Carrie e Mr. Big ficassem juntos. E chorei em cada minuto de sofrimento de Carrie no filme. E o mais legal foi ela perceber, durante todos os anos de série e pelos dois filmes, que ela, Carrie, precisava estar bem consigo mesma antes de tudo e que estar com outra pessoa é para ser proveitoso. E que pode ser e pode não ser.
Mas o que importa mesmo, ao falar sobre o seriado, é comentar um dos episódios em que é discutida essa ideia de solteiras como transições. Ou seja, se somos solteiras porque ainda não casamos, significa que queremos ou que somos condicionadas a um dia ser casadas. Portanto, significa que estamos sempre à procura de algum parceiro ou parceira para selar essa união, deixar a solteirice de lado e viver um “felizes para sempre”. Mas será que existe felizes para sempre? Na dinâmica do episódio, mulheres solteiras são temidas, fazendo com que o grupo dos casados as vejam com pena ou temor. Pena porque estão sozinhas e temor porque podem estar à caça de alguém ou do próprio marido da outra. Gente! Além de isso corroborar uma competição entre mulheres, a pergunta que faço é: e se eu quiser estar/ser solteira?
Será mesmo uma força do destino estarmos sempre procurando alguém? Por que será que olhamos com certo espanto quando uma pessoa está por um longo período solteira? Por que não distanciamos essa ideia de que estar solteira seria estar sozinha? Eu já passei por relacionamentos em que me sentia extremamente sozinha, mesmo com o parceiro ao meu lado. E já me senti extremamente plena e acompanhada ao lado de um bom livro e uma taça de vinho de alguma edição especial.
Não sou a melhor das indicadas para dar dicas sobre o dia de hoje. Mas, se me permite uma: não caia no discurso falacioso de que hoje é um dia que significa “estar sozinha”. Você não está abandonada, mas está com você mesma. E temos que apreciar a nossa própria companhia. Não no sentido de nos prepararmos para estar satisfeitas conosco para sermos melhores para o outro. Mas para sermos melhores conosco, de nós para nós mesmas. Você não está encalhada e esse dia não deve ser sofrido. Você não é tampa da panela de ninguém, muito menos metade de alguma fruta. Você é inteira. E tá tudo bem.