Você não quer ser “coisa” demais, não?
Até quando nos farão esse tipo de perguntas e tentarão nos impedir de fazer o que queremos?
Meus dias têm sido tão agitados que eu comecei a pensar neles como um grande borrão sem intervalos onde, eventualmente, eu me deito e durmo: às vezes na cama, às vezes na cadeira mesmo. A lista de tarefas, que deveria estar diminuindo, parece ter uma combinação secreta de se multiplicar nesses momentos e eu acordo com páginas de itens adicionados. A coisa mais engraçada é que eu me divirto genuinamente com a maior parte desses itens. Quem me conhece sabe que eu verdadeiramente amo conversar, orientar, lecionar, amaternar, aprender, cozinhar, namorar, rir, dançar, plantar árvores, viajar, construir, ler, estudar, debater e tantos outros verbos que compõem a minha vida.
Eu tenho um amigo, com quem eu jogava RPG, que sempre me disse que eu sou como um “dragão” de livros e conhecimentos, como aqueles das narrativas de aventuras que acumulam riquezas: sempre querendo mais um pouco de tudo. A diferença é que eu gosto de dividir e, justamente por isso, me tornei professora. Eu vivo dizendo: “fácil!” para qualquer novo desafio, pronta para, pelo menos, tentar auxiliar e apoiar. E penso que no caminho das pessoas, na maior parte das vezes, tem mais gente para atrapalhar do que para ajudar. Existem várias respostas de senso comum para isso, mas sinceramente, ainda não compreendo essa questão totalmente, especialmente quando se tratam das mães.
Entrei na escola de uma das minhas filhas duas vezes essa semana correndo e recebi olhares, principalmente de mulheres, pois a “mãe ocupada demais” certamente está na categoria da “mãe má”. Dei risada e saí apressada. Tinha uma reunião e já tenho a segurança de que minha vida não se mede na retina dos olhos alheios, mas eu não deixo de notar e me questionar: é preciso muito esforço gestual, em tempos de distanciamento e uso de máscara, para chamar a atenção e demonstrar sua reprovação para uma completa estranha. Para que tanto gasto de energia para me julgar sem me conhecer?
Em um outro momento, uma mulher – desta vez minha conhecida e amiga – me ouvindo falar do meu dia-a-dia apressado, me disse uma outra versão da frase título desta crônica: “você não acha que deve abrir mão de algumas coisas?”. Novamente, não por falta de lágrimas de indignação, mas pela opção da alegria como rebeldia de viver, gargalhei e encerrei a conversa.
Há um elemento que une TODAS as mulheres: não é SE elas foram assediadas, mas QUANDO elas foram assediadas! Além dessa terrível constatação, as mães ainda sofrem de mais um elemento de violência constante: o que une todas as mães é o JULGAMENTO (que também é MUITO usado com as mulheres e que se torna COMPULSÓRIO nas maternidades). Se você, mãe, que está me lendo ainda não foi julgada, infelizmente, aguarde! Principalmente se você tiver outros planos de vida para além da maternidade.
Certamente, a frase “Você não quer ser ‘coisa’ demais, não?” vai ser dita para você com os mais variados tons: acusatórios, irônicos, raivosos, desafiadores ou com o terrível “estou apenas preocupada(o) com a sua saúde ou com o que isso vai causar na(s) criança(s)”. Acionar a culpa materna é o golpe final. Que tal, senhoras e senhores, perguntar o que a nossa saúde, como mulheres e mães, acha de desistir dos nossos planos e sonhos? Eu ouvi essa pergunta desde muito cedo na minha vida como mulher. E a resposta sempre foi: “Não. Você faria essa pergunta a um homem? Eu quero viver.” E mesmo respondendo há tantos anos essa frase e tendo tantas mulheres lindas e potentes ao meu lado, ter que AINDA responder a esse tipo de frase é cansativo. Eu vejo as mulheres e mães mais novas aprendendo esta mesma luta e meu coração se enche de esperança e lágrimas. Agora, sou eu que pergunto: ATÉ QUANDO? É possível sermos melhores, sempre!
Dias Mulheres virão!
Vamos conversar?
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