Tabus maternos – parte dois
Debater as maternidades é debater a política que sustenta a estrutura da sociedade, na qual as mulheres são as principais cuidadoras
Demorei para voltar a escrever as crônicas. Em parte porque estava lendo os comentários do post feito pela Revista Cláudia – enormes relatos de “maternidades plurais”, em que várias mulheres relatam seus cansaços, suas dores, estendem seu abraço ao meu desabafo e pedem empatia com meu texto – a todas elas: MUITO AGRADECIDA!!!!! Eu vivi através da escrita de vocês o choro, as marcas e as reflexões da maneira que cada uma de nós interpretamos nossas experiências em viver.
E, por outro lado, eu vi os comentários considerados “negativos”: pessoas me atacando centralmente, inclusive em minhas redes e e-mail, em uma nova construção de ruptura com a possibilidade do diálogo. Pessoas dizendo que eu me calasse, que minha voz não importa, que eu nunca deveria ter sido mãe, que eu odeio a maternidade, dentre outras ofensas. A essas pessoas: MUITO OBRIGADA PELAS SUGESTÕES!!!!! EU NÃO VOU ME CALAR. Vejo muito mais importância em continuar a falar do que fingir que está tudo bem. Em relação a como lidamos com as múltiplas maternidades em nossa sociedade contemporânea, precisamos mudar MUITA coisa ainda.
Uma questão fundamental da maternidade é que, embora possa ser pensada como uma identidade, um lugar social ou uma representação, é algo que, uma vez estabelecido, é não-opcional. Em outras palavras, uma vez “a mãe”, não existe a “não-mãe”. E não estou falando da identidade “mulher” ou “esposa”, mas em quem ou o que você se transforma quando está na função de permanência da vida humana na Terra. A “não-mãe” é, em uma sociedade patriarcal, uma falência para o feminino. A “não-mãe” é a frustrada, a “não-realizada”, a que não cumpriu sua função. Talvez por isso os ataques tenham sido tão fortes e raivosos. Debater as maternidades é debater a política que sustenta a estrutura da sociedade, na qual as mulheres são as principais cuidadoras e não devem jamais reclamar de suas posições sociais.
Minha resolução de ano novo continua a mesma. Cansei de ser mãe. Tanto eu preciso operar mudanças em mim, quanto questões estruturais necessitam ser definidas nesse ano. De lá para cá, já tivemos conversinhas, altos bate-papos cabeça, recebi café na cama improvisado, dançamos música fora do horário habitual de dormir, ouvi as crianças e as coisas que elas querem que mudem em casa e estamos planejando e fazendo mais atividades em que todas as pessoas da casa fiquem mais felizes – de acordo com as nossas condições materiais de vida. Ou seja, estamos no início de uma nova “rotina de vida possível”.
Já que não é possível deixar de ser mãe, reafirmo com tranquilidade que AMO a minha maternidade e paradoxalmente estou exausta, é preciso se reinventar nesse “não-ser” que sempre será. Essas incongruências são justamente as discussões que eu quero te chamar para realizar comigo.
Como disse no final da última crônica, o ano de 2023 já chegou cheio de atribulações, ideias e realizações, e eu desejo que possamos VERDADEIRAMENTE conversar e falar de todos os temas sem medos de represálias. Ainda não encontramos a nossa solução familiar, mas agora estamos conversando muito mais sobre nossos sentires em casa. Dias melhores certamente virão! E vamos juntas! É possível sermos melhores, sempre!
Vamos conversar?
Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com – e no Instagram: @anacarolinacoelho79
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