Minha filha mais velha hoje chegou no meu quarto e disse: “estou cansada! Eu quero parar tudo, mãe.” Eu estava no meio de uma reunião, que foi a terceira do dia, acenei para ela e respondi: “eu também, minha filha. E muito!” Eu estou atrasada com prazos, estou exaurida de reuniões, preenchimento de documentos online e outras atividades remotas. Eu estou estafada de telas e atormentada ao pensar na possibilidade da ideia de ser inserida em um novo grupo de Whatsapp.
A frase que eu mais ouço das minhas amigas-mães é: “eu nunca trabalhei tanto como nesse último ano”, seguida de uma ainda mais drástica: “eu perdi meu emprego” e/ou “minha companheira/companheiro perdeu o emprego e estamos tendo ‘que nos virar’”.
Nesta semana, completa um ano de “tudo pode mudar em quinze dias” e “vai passar”. Os dias viraram meses e os meses tornaram-se horas amorfas. Um ano de noites mal dormidas, preocupações e pesadelos reais no cotidiano.
Essa é uma crônica triste porque os dias tem sido duros e desoladores. Eu sou mãe e deveria ter uma resposta mais animadora para minha pequena e agora, quem sabe, contar algo bonito e feliz que minhas crianças fizeram e que me deixou mais leve. A existência de ambas já faz isso, mas hoje eu quero falar do olhar da minha flor mais velha quando disse: “estou cansada!” Era uma expressão sem inocência, uma ferida de tudo que lhe foi arrancado nesse último ano. “Vai passar!” E não passou.
A resiliência das crianças é fantástica e elas souberam respeitar o isolamento social e as restrições sanitárias, a despeito do enorme esforço que isso implica. Um ano sem abraços, sem parquinhos, sem aulas, sem recreio, sem risadas com amigas/amigos. Um ano solitário, cheio do amor da família, mas sem interação carne e osso com outras crianças. Estamos vivendo uma época histórica onde todas as pessoas que sobreviverem seremos cobaias de pesquisas em tantas áreas que eu nem sei expressar a dor que isso me causa.
Eu vi minha filha deitar no chão do quarto e olhar o teto sem vontade de levantar. A menina que tem tanta energia, que anda pulando. A menina que não para de falar, cantar e dançar, e às vezes tudo ao mesmo tempo (e isso ela herdou de mim, que também sempre fui inquieta). E eu observei a solidão da pandemia nos olhos de uma criança. A minha filha. A minha Rosa. Eu sabia que não havia maternar meu que pudesse consolá-la.
Faz um ano que “vai passar!” e não passou. Hoje, a insegurança, o pesar, as perdas humanas e a desolação são o prato principal de nossas refeições. Eu deitei ao lado de minha criança e lhe dei a mão. Essa tem sido a devastadora história da experiência do “vai passar” para a maioria das crianças. Refugiadas em telas – as que podem, é claro – molda-se uma geração sem afetos reais e abraços que acalentem os seus dias. O sofrimento assim como a capacidade de perversidade humana não possui limites, mas as crianças JAMAIS deveriam ter que experienciá-los com tanta violência e intensidade.
Juntas, choramos. E nossas lágrimas foram o possível naquele momento. Um esvaziar de angústias. Para ela, eu dei alguns dias de folga das atividades. Eu não tenho essa opção. Sigo na luta e no luto. Sigo acreditando em dias com mais empatia e no potencial do “amaternar” social. Sigo dizendo “vai passar”, mesmo sabendo que vai demorar muito. Dias mulheres virão!
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Será uma honra te conhecer!
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