Adolescência: um ir e voltar do amor
Amaternar é esse olhar que dialoga no processo de criação e reprodução humana e depende de carinho, empatia, e observar quem é a outra pessoa
Minha filha mais velha oficialmente “adolesceu”. Primeiro ponto que constata essa afirmação: semana passada ela tinha três festas diferentes para ir, foi requisitada em todas, e eu passei meu sábado praticamente dentro da agenda social DELA. E, segundo ponto: esse final de semana há um feriado de aniversário da cidade e, além do jogo de RPG organizado para acontecer aqui em casa, “crianças” dormiram aqui até a segunda-feira. Pipocas, dancinhas de TikTok, maquiagens artísticas, tatuagens temporárias e muitas risadas foram a essência desses dias.
Minhas funções ficaram restritas ao fornecimento de comida, travesseiros e roupa de cama e banho, e eventuais limites de horário e atividades. E eu lembrei do dia em que Clara tinha por volta de uns 3 anos e estava começando a frequentar a escola: todos os dias ela reclamava, me abraçava e pedia que eu ficasse um pouco mais com ela quando chegava na escola – em um ritual de despedida que durava mais de meia hora, com muitos “mamãe vai e mamãe volta, viu? Eu te amo”, que eu repetia sempre, e durou por meses – até que uma bela manhã eu me abaixei, ela me abraçou, disse: “até logo, mamãe! Amo você!”, entrou na sala, colocou a mochilinha ao lado da cadeira e começou a conversar com mais duas amiguinhas. Simples assim. Eu olhava pela grande janela do maternal, com o coração indeciso entre ir e esperar mais um pouco, mas ela sequer me viu mais. Fui embora e lágrimas e reflexões me acompanharam no caminho.
A certeza do amor materno não é uma garantia inata na vida de ninguém, simplesmente porque ele faz parte de como as relações entre as pessoas envolvidas vão se construindo ao longo da vida. É preciso um investimento de ambas, na medida de suas capacidades cognitivas e emocionais, para que esses laços existam e se mantenham nutridos. Amaternar é esse olhar que dialoga no processo de criação e reprodução humana e depende de carinho, empatia, e observar quem é a outra pessoa e o que ela deseja e necessita naquele momento da vida. Eu amo minha filha porque realmente gosto de viver e conviver com a sua presença em meus dias. E, naquele dia, eu percebi em sua segurança em enfrentar a “sala de aula” o seu amor por mim. Por isso, lembro que eu chorei: parte era alívio por aquele ritual cansativo ter acabado, parte era a nostalgia do pensamento “minha pequena está crescendo” e parte era uma alegria indescritível de “ela entendeu que eu volto e que eu estarei sempre ali”.
Essa é uma verdade imutável dentro dela até hoje, pois o “manhêeeeee” acompanhou o final de semana, mesmo que não fosse para que eu ficasse ao lado dela o tempo todo. Adolescência é aquele momento em que sabemos tudo sem sabermos nada e, mesmo sem querer, esse “mamãe vai, mamãe volta, viu? Eu te amo!”, que na verdade é um “mamãe sempre estará aqui por você”, faz a diferença na vida das crianças que estão crescendo. Adolescência é um grande “eu te quero perto” e “eu te quero longe” tudoaomesmotempoagora!!! Entre risadas e pipocas, os ventos, esses dias, só me diziam uma certeza: “Pode ir, filha. Você vai e volta. Nós nos amamos, viu?”
Dias melhores certamente virão! E vamos juntas! É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão!
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