Mãe, avó, bisavó, tataravó, trisavó: esta é Dona Dolores de 108 anos
Ela é admirada por sua beleza extravagante, com cabelos longuíssimos, unhas pintadas e roupas fora do padrão “vovozinha do interior”
A avó de hoje já tem até “cocoroneto”. Calma que eu explico. Aos 107 anos, quase 108, Dolores Antunes da Luz é mãe, avó, bisavó, tataravó, trisavó… o que lhe dá o direito a “cocoronetos”, como se diz em sua região.
Nascida na cidade de Águas Vermelhas, em 23 de dezembro de 1912, ela é filha de Laudelina Gomes de Jesus e André Antunes da Luz, um dos fundadores do município mineiro. André foi pai de 24 filhos e casou-se cinco vezes, morrendo aos 80 anos, em 1919, por complicações da gripe espanhola (pandemia do século 20).
De volta à vó Dolores, pedi à sua neta Stéfany uma ajuda para contar essa história linda, longa e cheia de lutas. “Para criar os nove filhos, ela trabalhou como artesã, costureira, biscoiteira, lavradora, doméstica, e não posso me esquecer de dizer: mestre de obras, pois construiu sua própria casa, de onde não planeja sair nesta vida”, descreve.
Os filhos
Dos nove filhos dois faleceram, um está desaparecido há mais de 60 anos, e os outros seis se espalharam por diferentes cidades, mas a distância ela resolve batendo um bom e velho gancho ou se rendendo à tecnologia das videochamadas. Se não fosse a dificuldade de audição estaria fazendo uma live comigo, com certeza.
A rotina de beleza sempre fez parte de sua vida e as refeições são seguidas à regra. “Ela adora acordar, tomar seu cafezinho com leite em pó, biscoito e requeijão. No almoço e na janta, não podem faltar um bom caldinho de feijão com verduras e legumes. Para a sobremesa vamos de sorvete, açaí, gelatina, picolé ou uma geleia de mocotó”, detalha Stéfany, que está sempre lá por perto. Achou a dieta pesada? Engano seu, essa “cocorovó” não tem diabetes, colesterol alto ou quaisquer comorbidades Seus exames de rotina estão todos em dia, o único revés foram algumas lesões na pele devido à alta exposição solar.
Dona Dolores, como é conhecida na cidade e região, é alegre, adora contar histórias, cantar e declamar poesias. E, como não poderia deixar de ser, é admirada por sua beleza extravagante, com cabelos longuíssimos, unhas pintadas e roupas fora do padrão “vovozinha do interior”.
Nas horas vagas, ela adora um programa de televisão. Seus prediletos são a “Dança dos Famosos”, no Domingão de Faustão, e as novelas, mas nada supera “O Rei do Gado”, um clássico. Outro passatempo precioso – que eu vejo presente também nas vidas de outras várias longevas que entrevistei ao longo do “Conversa de Vó” – é passear pelo seu quintal e cuidar das plantas. O dia por ali sempre termina com um chazinho de camomila. Viva, vovó Dolores.