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Isabella D'Ercole

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A editora-chefe de CLAUDIA fala sobre cultura, relacionamentos e carreira – basicamente, toda reflexão que lhe vier à cabeça enquanto produz e dirige o conteúdo de CLAUDIA
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Tatá Werneck, Rafael Infante e Marcelo Médici passam trotes. Eu estava lá

Em uma sala do aplicativo ClubHouse, os comediantes fizeram minha noite. Outras salas de humor e entretenimento ajudam a reduzir o peso dos dias atuais

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
18 fev 2021, 18h00
fones de ouvido com fotos de Rafael Infante, Tatá Werneck e Luciano Huck
 (Fotos, divulgação/Colagem, Catarina Moura/CLAUDIA)
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Um fenômeno pra lá de curioso vem acontecendo nas últimas semanas. Na quinta-feira antes do Carnaval, ou melhor, duas da manhã da sexta, mais de mil pessoas se uniam para imitar pilotos de avião, funcionários das cabines de controle e comissários de bordo. Não pessoalmente, claro – estamos em plena pandemia.

Era uma sala no ClubHouse, o novo aplicativo que tem ganhado atenção e conquistado seguidores. Quando estreou no Brasil, atraiu a galera de negócios e marketing. Com razão: é uma plataforma incrível para fazer network e discutir possibilidades para marcas. Para se ter uma ideia, dá para juntar Luciano Huck e um microempreendedor de produtos naturais na mesma sala.

Funciona da seguinte forma: algumas pessoas abrem uma sala, tipo aquelas de bate-papo de antigamente, mas tudo acontece por voz. Para falar, você precisa ter autorização de um moderador. Contudo, às vezes, só ouvir já vale.

Passada a onda inicial de infinitas salas de marketing, business e BBB (óbvio!), uma nova frente vem ganhando espaço, a dos que buscam alívio cômico nesses tempos tão complexos. A risada não é boba, mas aliada a elementos dos quais sentimentos falta, dos quais fomos privados no último ano por causa da pandemia e do isolamento.

Voltando à sala de pilotos e do pessoal do setor aéreo. No auge, estavam Marcelo Adnet e Otaviano Costa interagindo com pilotos de verdade. Não é uma conversa complexa. Reduz-se a: “Boa noite, aqui é o comandante Hamilton. Esse é o voo 2994 com destino ao aeroporto de Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Nosso voo tem tempo estimado de 40 minutos e a temperatura no destino é de 40 graus”.

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Aí surgem situações entre os passageiros, comissários distribuindo lanches miseráveis e repetindo sem fim “água ou suco, água ou suco”. Isso nas vozes mais engraçadas possíveis. É extremamente sintomático. Sentimos saudades até dos perrengues da vida aérea.

Na sexta-feira à noite, quando estaríamos viajando para o Carnaval, outra sala se reuniu. Dessa vez para narrar desfiles imaginários. Os criativos colocariam qualquer narrador profissional contra a parede, tamanha a imaginação pra inventar personagens, entrevistas e contextos para carros alegóricos.

O tempo passa rápido. São 2 horas ali experimentando algo que antes era tão comum, que a gente não acharia a menor graça. Mas agora, nesse tempo em que ouvimos poucas vozes fora as de quem mora com a gente ou aquelas alteradas nas reuniões do Zoom, entrar numa sala com desconhecidos dá aquele quentinho no coração de um bar cheio ou de uma festa na casa de amigos.

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Calma lá que não estou sendo ingênua. Estou a par de todos os defeitos do ClubHouse. Entendo que é um absurdo ele não funcionar em sistemas que não sejam iOS, concordo que a falta de acessibilidade é uma questão urgente a ser resolvida e que é preciso ter um sistema muito rígido para evitar falas racistas, homofóbicas e preconceituosas no espaço.

Só que foi difícil não me dobrar quando entrei numa sala em que Tatá Werneck, Rafael Infante e Marcelo Médici, entre outros comediantes, passavam trotes por telefone. Que ano é hoje? É 2021 e eu não ria desse jeito há meses. As vozes dos disfarces, os nomes e as histórias inventadas. Foram muitos minutos convencendo uma dublê da Grazi Massafera a ajudar dois supostos dublês do Caio Castro a entrarem na TV.

Virou a melhor distração. E ainda dá pra combinar de ouvir com amigos, pra depois comentar pelo WhatsApp ou em chamadas de video. Sim, é no mínimo exótico que um aplicativo de bate-papo por áudio esteja fazendo tanto sucesso – lembra que tinha gente que odiava atender o telefone há uns 2 anos? Porém, é incrivelmente satisfatório e humano ouvir “Voo 1-1-3-9 com destino à Cidade do México, seu embarque será iniciado no portão de número 39”.

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Um viva às distrações da pandemia.

PS: voltei a escrever por aqui no blog depois de um bom tempo. Espero que vocês gostem. Podem falar comigo pelo Instagram e Twitter @isadercole.

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