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Como se aproximar da pauta antirracista, por Luana Génot

Entender o racismo estrutural é um passo para que as lideranças, as empresas e os governos reforcem a luta contra tantas opressões

Por Naiara Taborda
Atualizado em 10 ago 2022, 12h44 - Publicado em 10 ago 2022, 12h42
Luana Génot
Luana Génot, fundadora e Diretora Executiva do Instituto Identidades do Brasil. (Mario Epanya/Divulgação)
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No dia 25 de julho celebramos o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, no Brasil também relembramos Tereza de Benguela, líder negra conhecida por gerenciar o quilombo do Quariterê. Foi durante esse mês que eu viajei por três países na Europa (Suíça, Espanha e Dinamarca) para pautar de maneira mais sólida a questão antirracista de forma global. 

Dizem que uma das maiores qualidades que uma pessoa líder pode ter é se adaptar às realidades. Essa capacidade pode ser também aprendida e exercitada de diversas formas, especialmente ao se colocar em situações fora da zona de conforto. Foi com isso em mente que aceitei o convite da BMW Foundation para um retiro de lideranças nos Pirineus, na Espanha. 

Passamos alguns dias na mata, acampados, com uma conexão de internet limitada e focados em estar ali trocando experiências com outras lideranças. Tive a oportunidade de liderar uma discussão sobre o quanto somos privilegiados ou desfavorecidos de acordo com raça, gênero, orientação sexual, renda globalmente e como nós, lideranças, podemos nos engajar em agendas anti-opressão de acordo com nossos contextos. Aproveitamos essa ocasião para pensarmos na construção de agendas e como nos mantermos responsáveis e engajados nessas questões ao longo do ano. Aquele momento foi uma chama e a reflexão não se encerra por ali. O desafio continua. 

Também vi como uma oportunidade de reverberar o trabalho que temos realizado nos últimos seis anos no ID_BR. Aqui peço licença rapidamente para explicar um pouco do que fazemos: o Instituto Identidades do Brasil, ou ID_BR, trabalha com educação antirracista e ESG para empresas, escolas, lideranças e a sociedade como um todo no Brasil e no mundo. 

Queremos ajudar empresas a terem culturas mais inclusivas e a gerarem mais oportunidades para profissionais negros e indígenas especialmente em cargos de liderança, com menos desperdício e mais participação dos talentos que temos Brasil afora. Nas escolas, apoiar na ampliação das referências negras e indígenas no currículo escolar e na mudança de comportamentos racistas em salas de aula. Na sociedade como um todo, fazer com que todos se aproximem da pauta antirracista que apoia a desmantelar outras tantas opressões. E todos ganham com isso. 

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Por isso que ao ser convidada a integrar o Young Global Leaders do Fórum Econômico Mundial passei a buscar trocar experiências com outros líderes que também trabalham para mudar a realidade de onde vivem. Na Dinamarca, fiz alguns encontros com alguns deles. Inclusive fiquei sabendo que o país tem o sêmen como um dos principais produtos de exportação, isso frente a demanda do mundo pelo DNA branco, europeu de olhos claros. O racismo se manifesta realmente em diversas esferas e precisamos falar sobre

Em Genebra, fiz uma visita à sede da ONU e pude ter uma dimensão de como estão trabalhando a pauta antirracista globalmente na agenda dos objetivos de desenvolvimento sustentável até 2030. E também fui até a sede do Fórum Econômico Mundial. Lá, iniciamos a discussão da montagem de um grupo para trabalhar raça globalmente através da plataforma do próprio Fórum Mundial. Quem sabe não conseguimos fazer uma roda de discussão sobre o assunto em Davos e obter o compromisso de mais empresas e governos e reforçar uma agenda permanente sobre o assunto? 

Aliás, já passou da hora da Europa também se engajar mais nas discussões e no enfrentamento do racismo estrutural ao invés de ignorá-lo. Em geral, muitos países Europeus, por se considerarem progressistas e balizados por princípios como o da igualdade, sequer mapeiam dados sobre raça e etnia e têm políticas afirmativas ou punitivas em casos de racismo. O caso de racismo recentemente enfrentado pela família Gagliasso em Portugal, por exemplo, não é isolado. E no país racismo nem é considerado crime ainda. Isso precisa mudar. 

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Ser uma mulher negra nesses espaços também me faz olhar ao redor e perceber que pessoas não brancas são ainda as principais a pautarem assuntos relacionados às desigualdades e a necessidade de mudarmos. Enquanto esta deveria ser uma pauta de toda a sociedade. Além disso, percebo como essas discussões ainda estão muito ligadas a uma perspectiva norte-americana. 

Sendo assim, como mulher negra latino-americana aproveito esses momentos para trazer para o centro dessas discussões perspectivas além do norte global. Inclusive as siglas usadas em inglês que se multiplicam e são utilizadas em discussões sobre diversidade e inclusão como BIPOC (pessoas negras, indígenas e não brancas), JEDI (justiça, equidade, diversidade e inclusão), ESG (ambiental, social e governança) não são de domínio de muitos. E podem acabar criando novas camadas de exclusão via linguagem. 

Precisamos ir na contramão e além de educar e refletir sobre estes assuntos, fazer com que o objetivo da luta pela inclusão não seja suplantado pela barreira da linguagem e da falta de uma contextualização que respeite realidades locais para além de um copia e cola dos EUA. Sim, no Brasil e EUA temos muitas similaridades no que diz respeito às formas como o racismo estrutural se manifesta, mas também muitas particularidades no trato do racismo à brasileira que precisam de olhares, soluções e linguagens locais. 

Não me considero porta-voz única desses tópicos, mas sim uma entre muitas facilitadoras e articuladoras estratégicas para que outras pessoas também possam pautar esses tópicos nesses em outros lugares. Para que a pauta antirracista chegue aos tomadores de decisão e que a cara dos tomadores de decisão do futuro seja também não branca e vá para além do norte global.

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