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A parte que me cabe

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Idealizadora do @namastreta, a jornalista Caroline Apple trilha o caminho da autorresponsabilidade nos relacionamentos
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Ele não vai voltar

Nos apegar à esperança de um possível retorno após um término difícil (e existem os fáceis?) implica em não nos permitirmos vivenciar novas histórias

Por Caroline Apple
20 nov 2023, 08h00
Caroline Apple reflete que, às vezes, a esperança nos impede de abrir novos capítulos em nossa vida amorosa.  (AntonioGuillem (Getty)/Reprodução)
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Quando um relacionamento acaba e a decisão do término é unilateral, resta para quem ainda via meios de ajustar a relação conviver com as emoções e sentimentos que “tomar um fora” acarreta na vida. Mesmo que a resignação e a compreensão do fim cheguem, é possível que uma parte de nós ainda sinta uma esperança.

Ela navega entre ser negada, numa tentativa de gerar menos sofrimento e ilusões; ser vivida, para tentar trazer algum acalento para um coração partido que não aguenta mais a dureza da realidade; e ser assumida, mas sem ser alimentada, num reconhecimento desse sentir num lugar mais amadurecido e com menos sofrimento… São muitas fases que vive aquele que ainda carrega em si a ideia de um possível reencontro.

Essa expectativa tem sua função até mesmo quando negada. Ela é uma espécie de amortecedor do impacto do fim não desejado e uma ferramenta de lapidação e reflexão sobre a parte da nossa responsabilidade que pode ter colaborado com isso. Como se a ideia do retorno nos levasse a rever nossas ações para, quem sabe, numa nova oportunidade, fazer diferente.

Acontece que, em demasia, essa esperança vai gerando bloqueios que impedem o novo de se apresentar. É como se ela nos mantivesse em estado de alerta, sempre “prontas” para o retorno. Portanto, não cabe um novo sentimento, não cabe um outro relacionamento, não cabe nenhum movimento que possa vir a “atrapalhar” a retomada do romance.

E assim vamos deixando passar pessoas e oportunidades no presente de olho num futuro que tem grandes chances de não chegar. É nesse momento que precisamos ligar o sinal.

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Se a vida já está indicando novos caminhos para seguir, é necessário prestar atenção e ver se não estamos deixando de nos abrir por ainda estarmos em conexão com a idealização do retorno.

Eu estava vivendo este lugar. Um amor puro e uma conexão real não me deixavam esquecer a possibilidade de voltar e viver essas coisas tão raras. Me vi passando por todos os estágios de forma não linear. Ora negava, ora aceitava, ora me apegava, mas ela sempre aqui, viva. Percebi que tinha chegado o momento de aceitar outro fim e talvez um fim mais difícil do que o do próprio término: o fim da esperança. É aceitar que ele não vai voltar.

Na prática, o relacionamento tinha acabado há sete meses, mas emocionalmente jazia no meu peito essa mesma relação somente tempos depois. E a dor deu lugar a sensação de liberdade. Me senti livre mais uma vez para me abrir a outras histórias, assim como um dia me abri para aquela.

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Uma sensação que também se estende ao outro. É um reconhecimento genuíno da minha humanidade e maturidade: mesmo com amor e tantas coisas boas, a vida é subjetiva o suficiente para nos surpreender e abalar as estruturas no caminho que escolhermos trilhar depois disso.

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