TEDWomen: não precisamos ser empoderadas, pois já temos poder
Precisamos aprender a usar o poder que já temos
“Não precisamos esperar para sermos empoderadas, pois nós já temos poder. O que precisamos são mais oportunidades de reivindicá-lo como nosso, usá-lo e compartilhá-lo”, disse Pat Mitchell, criadora do TEDWomen, no encerramento do evento anual, realizado neste ano na Califórnia.
Eu, que sempre sonhei em assistir a um TEDWomen, saí da conferência profundamente impactada. Em tempos como o nosso, quando os “Empreendedores do Ano” são todos homens, tirar alguns dias para ver apenas mulheres é um bálsamo.
Neste ano, decidi fazer as malas e ir para a Califórnia para participar e fiquei de queixo caído de ver o pioneirismo, o potencial de realização e a criatividade de dezenas de mulheres das mais diferentes etnias, idades e origens.
Entre tantas vozes diferentes, a fala de Mitchell serve como um resumo do evento. O que vi foram mulheres poderosas, cada uma fazendo a sua parte para construir uma sociedade mais justa, igualitária, empática e humana. Cada uma que decidiu assumir o seu próprio poder pessoal para transformar a vida da sua comunidade, sua cidade, seu país.
A fala da zoologista Lucy King, por exemplo, sobre o programa de coexistência entre humanos e elefantes foi muito além de iluminar os problemas humanitários na evolução dos paquidermes. Ela mostrou como a empatia e a curiosidade podem gerar inovações baratas e eficientes que transformam a vida de comunidades inteiras – como a cerca de abelhas que ela criou para evitar que elefantes destruíssem vilarejos inteiros. A nova tecnologia trouxe, de quebra, uma nova fonte de renda para as mulheres das comunidades, que passaram a comercializar o mel das abelhas.
Já a especialista em segurança digital Eva Galperin criou um movimento quando abriu a sua caixa de entrada para ajudar mulheres que estavam sendo espionadas e controladas online por seus abusadores e estupradores. Ela descobriu que existem dezenas de milhares de apps que permitem que abusadores espionem as suas vítimas, os chamados stalkerware. Galperin criou uma coalizão que luta para proibir este tipo de app e fazer com que softwares de antivírus reconheçam estes apps como maliciosos.
A atriz e ativista americana Jane Fonda trouxe luz à questão do aquecimento global. Fonda, que está com 81 anos, contou como decidiu participar dos protestos semanais em Washington do Greenpeace, chamados de Fire Drill Fridays (sextas-feiras de simulação de incêndio, em uma tradução livre), para chamar a atenção global para o fato de que o nosso planeta está em chamas. As ações de “desobediência civil”, nas palavras dela, tem levado a atriz para a cadeia semanalmente.
A causa é relevante: segundo Fonda, temos 10 anos para segurarmos o processo de aquecimento global antes que as consequências sejam irreversíveis e catastróficas para o planeta. Ela defendeu a criação de um novo plano econômico que gere empregos e privilegia fontes limpas de energia.
Estes são apenas alguns exemplos de tantas falas de mulheres que decidiram usar o seu poder pessoal para se dedicar às causas que acreditam. Para muitas, foi necessária muita coragem – como no caso da popstar chinesa Denise Ho, que foi banida pelo governo chinês após se juntar aos protestos em Hong Kong pela liberdade.
As barreiras sempre existem, mas fica claro que temos mais poder do que percebemos para termos impacto. “Pense como uma mãe”, defendeu a ativista Yifat Susskind, criadora da ONG Madre. Para isso, você não precisa ser mãe. Pensar como uma mãe envolve colocar o outro em primeiro lugar, em fazer o que dá para ser feito. O amor, segundo ela, é uma fonte de energia infinitamente renovável e o que antes parecia impossível, de repente se torna inevitável.
Saí do TEDWomen com a clareza de que todas nós temos condições de mudar a vida de tanta gente – para isso, basta olhar ao outro de forma empática e pensar como mães. Basta aprender a usar o poder que já temos.