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Um pouco de todas nós

A psicóloga Luciana Arruda reflete sobre este momento de isolamento social. É um cenário de angústias e incertezas, mas precisamos seguir em frente

Por Luciana Arruda
31 jul 2020, 14h25
 (Ada Yokota/Getty Images)
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Parece pretensão colocar todas nós neste texto, mas é um desejo amoroso: sentir que pertencemos a um grupo, que nos reconhecemos, que não estamos sozinhas passando por tudo isso. Já são praticamente cinco meses de pandemia. De hiperconvivência com alguns e distanciamento extremo de outros. Com uns fomos forçados a conviver, outros nos tiraram sem aviso prévio e outros, ainda, decidimos que com eles não queremos mais partilhar nossa caminhada.

Eu estou aqui, pensando onde você que me lê está agora. Se feliz ou triste, se com filhos ou sem, se acompanhada ou na solidão que dói e que faz a gente chorar à noite até cair no sono.

Eu quero saber de você, como você tem aguentado. Porque de mim eu já sei: estou exausta. Tento repetir os novos mantras: ‘’vai passar’’; ‘’quando tudo isso acabar, e vai’’; ‘’ o novo normal’’. Mas a verdade é que eu não consigo e então tenho feito algo que acredito que muitas de nós também faz: eu apenas sigo. Eu me levanto mais um dia, e sigo.

Luciana Arruda
(Luciana Arruda/Arquivo pessoal)

Difícil falar em seguir quando tudo nos empurra para o movimento contrário, mas é dessa maneira que todas nós mulheres fortes fazemos. Eu me vi de repente sem minha medicação. A hidroxicloroquina que tomo há alguns anos para o tratamento da esclerose sistêmica simplesmente desapareceu das farmácias e, da noite para o dia, eu e milhares de pessoas com doenças raras nos tornamos grupo de risco e buscadores por remédio manipulado e receitas médicas. Além de ter um esforço adicional para seguir sendo mãe solo, de namorado novo – que se mudou pra casa e veio me cuidar na pandemia – e lidar com pessoas que jamais começaram o isolamento e nos ameaçam -a nós e a quem amamos – com suas festas, ausência de máscaras e aglomerações. Difícil e cansativo. Mas possível.

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Quero dizer pra você que dá pra ser leve. Que tem muita gente fazendo o bem em algum lugar nesse instante. Que mães incríveis tranquilizam os filhos, professoras ensinam à distância, amigos enviam mensagens e que dá pra olhar o céu e respirar fundo (ainda que com máscara). O isolamento reforçou minha fé e escolhi redescobrir o prazer de cuidar da casa, estar com a filha, namorar. Eu rezo muito e Deus me responde com mais um dia. E assim, sigo.

Segue comigo? A gente se encontra pelo caminho. Estamos juntas.

*Luciana Arruda é psicóloga, pós-graduada em Arteterapia e mãe da Salomé.

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