Tem morrido tanta gente conhecida… Transpor os 50 cria esses “eventos”. Pais dos amigos já se foram aos montes. Agora são os amigos que começam a passar para o outro lado. Ninguém nunca negou que isso não ia acontecer. Já chegamos partindo.
Mas, até certa idade, a mortalidade parece prima, vizinha… Quanto mais avançamos, passa a ser credora. E bate de maneira abrupta. Pé na porta. Sabe o Renatão? Morreu. Sabe o Eduardo? Faleceu. Sabe a fulana, sicrana, beltrana… partiram. E aquela sensação de ficar ganha outra importância. Um ressignificado imenso.
Hoje fiz ginástica com mais afinco. Andei no metrô lotado sem reclamar. Rendi ao máximo no trabalho agradecendo estar ali. Não é efeito Poliana. Não é ser clone de Madre Teresa. É gratidão pela permanência na Terra. Com saúde, enxergando, andando, dona de todas as minhas faculdades.
E tem gente que ainda reclama. Euzinha. Sou reclamona mesmo. Por que não posso ir pra Aspen? Por que não tenho meu apartamento próprio? Por que não vou ao casamento do filho do cunhado na Colômbia?
Blasfemei demais por cancelar a viagem para Cataratas. Faltou grana. Mas e daí? Aquele restaurante que não dá pra conhecer. Milagres, não consigo viajar. Mônaco para estar com minha filha, esquece. SPA, curso de filosofia, show do Chico… Tudo caro!
O que, diante da fatalidade, representam esses quereres terrenos?
E na missa de sétimo dia de um deles, leram uma carta sobre seus feitos. Nada extraordinário. O cheiro da colônia que usava. A maneira delicada e engraçada de receber a todos. O sorriso largo e farto. A ética. A correção. A beleza de seu ser.
Escrevo envergonhada. Sou mais do que balzaca e ainda não aprendi. É preciso viver. Urge se jogar. Aproveitar até o tacho. Beber a vida em grandes goles. Não vale reclamar se não há palácios ou príncipes. Simples assim. Prometo ler e reler minhas próprias palavras, afinal não sei qual meu lugar na fila…