Fui a três missas de falecimento em apenas dois dias. Estranhei. Percebi que dois dos que passaram para o lado de lá tinham menos de 60 anos. Os três morreram de
câncer. Na missa presencial (sim, voltei para a Igreja) eu pude me reconectar com a liturgia católica. Gosto de rituais, acho que ajudam a roteirizar as
emoções, sobretudo a dor. E é sobre ela que eu quero falar.
Ninguém aborda muito (ou quase nada) sobre a morte. Tão importante entender que se é a única coisa certa da vida, porque somos tão débeis e reticentes quanto à sua organização? Eu celebro a morte. Não me entendas mal, porém acho que desde que recebi o meu diagnóstico de câncer, entendi a potência do finito. Tudo fica mais intenso. Propósito, dedicação, ação. Pular sem rede continua a provocar frisson, mas sem aquela neura do “será que devo? ” Será que está na hora? Sim, a hora é só essa.
Temos mil exemplos dessa urgência da vida. Cariocas então, expostos diariamente a cenas de violência, deveriam ser experts no assunto. E não falo de lágrimas e despedidas. Falo de muita vida. Agora por exemplo, você que me lê, qual a sua intenção para hoje? Quanto de energia você está injetando nesta sua decisão? Vai com medo mas vai afinal essa lenda que precisamos estar certos de nossos passos só adia decisões importantíssimas. E eu quero sentir. Sentir arrepios, tesão, fome, vento no rosto, cheiro de pão quentinho, esperma na boca.
Agora que estamos vacinados, loucos para ousar, escolha uma vida diferente, não volte para a mesmice. Coloque um sorriso sacana no canto da boca e vai. Vai de cabelo branco, dentadura, bengala, Viagra mas vai. O Pai-Nosso vai estar te esperando lá na frente, mas urge agora, hoje, já, entoarmos cânticos de axé, cheios de pique, suor e saliva. Amém!