Estou enojada com tudo isso. A indefesa mulher, em pose ginecológica, no momento mais delicado e feliz de sua vida adulta, toma uma ejaculada na cara. Dopada, inconsciente, serve de potinho para o leitinho do anestesista. Alto lá: estuprador, né.
Estarrecida, mas o fato me levou para o lugar de fragilidade de todas nós mulheres. Uma lástima que não vai ter reparo para ela. Imagino a mulher – já recuperada da sala de cirurgia – lembrando a sua vida inteira desse engasgo. O bebê, se der umGoogle quando crescer, vai saber que nasceu fruto de uma imensa violência.
Esse médico, esse pênis, essa agressão é assustadora pois é recorrente. Sabemos que desde Eva somos um buraco para o bel prazer masculino. Somos violadas com olhares, gestos, falas e picas. E eu, após ler e reler a matéria e assistir às imagens que não calam, pensei: como um cara goza sem gemer? Como não se mexe? Como não sua, não dá uma bandeira maior?
Era colocar o pau na cara das parturientes e despejar seus podres poderes fálicos? E nas redes o sujeito só cresce. Uma espécie de ereção virtual com direito à comentários positivos. Não há nenhuma dúvida que a humanidade adoeceu. Só me resta agradecer àquelas enfermeiras e técnicas que deram o flagra no monstro da sala de parto. A ele, desejo que volte ao seio da mãe terra, afinal, não há perdão para tamanha monstruosidade. E puxo um rosário de Jairinho, goleiro Bruno, Joao de Deus, Roger Abdelmassih. Podiam todos ser anestesiados e congelados do convívio social.