Não saudei Iemanjá. Não fiz sequer uma oração fajuta. Era de excessos, sempre fui. No fim do ano juntava os pedidos não realizados com os novos quereres e era uma franja só de clamores pra Deus me ajudar. Mas dei de ombros.
O ano de 2020 foi duplamente estranho. Já sabemos tudo de ruim que rolou, mas quero ressaltar a estranheza que me dominou com relação à euzinha. Não estou nem aí pra mim. Capricorniana de ascendente com Sol na cabeça, nem lembro que sou essa leonina toda. Dei uma murchada. Fiquei esgotada de tudo. Até no pedir. Não sei se todos os nossos dias e noites – longos e besuntados de álcool gel foram de zil preces e orações que misturei todos os credos.
Eram Aves-Maria com Babalaôs e num suingue de fés fui ficando cética e só de relembrar o Réveillon tenho até vontade de rir. Caiu um pé d’água na região que eu escolhi pra abrir 21 e tudo ficou preto. Caiu a energia e só fez-se a luz quase 24 horas depois. 00.30 já estava de camisolinha podrinha, daquelas trapentas morrendo de calor porque o ventilador não funcionava.
E sem Deus, sem luz, sem pedidos, sem sexo selvagem, sem champanhe geladinha, sem Neymar algum, rompi chocho esse janeiro covidento. E é exatamente neste marasmo em que me encontro agora, que rogo para pegar no tranco, para ir em frente mesmo sem saber para onde.
Ah, posso imaginar que os Reis Magos, festejados hoje, dia 6 de janeiro, vão me guiar, mas nem estou dando muito crédito a Melchior, Gaspar e Balthazar. Acho que a estrela de Belém perdeu seu GPS natural e tomou outro rumo porque se o ano é novo, eu nem percebi.