Levei um choque quando fui ao banco. O tal endividamento da idade madura, até então manchete de jornal, tornou-se uma realidade próxima. E lá estavam empréstimos, consignados, cheques-custódia, compromissadas, limite especial nas alturas. Fiquei com sangue nos olhos.
A vítima, da minha família, teve seu salário de aposentada, subtraído em muitos zeros, pela lábia dos produtos financeiros dos bancos brasileiros. Acredito que toda família deve olhar e controlar de perto a conta bancária de seus idosos, sobretudo dos aposentados com salário mensal provido pelo INSS ou pelo empregador antigo. São os mais roubados.
É uma constatação cruel, pois quando eles mais precisam, seus rendimentos minguam enquanto suas contas aumentam com remédios, diaristas, acompanhantes ou mesmo com comida, ajuda aos netos e até aos filhos -tudo sem controle, sem supervisão, sem planejamento. Isso fora os trotes na madrugada, os truques cotidianos, os golpes diários, vítimas inocentes e inseguras – despreparadas e abusadas por todo um sistema financeiro perverso.
Mas fui além nesta minha saga Sherlock Holmes em meio a papelada desorganizada e descobri abusos em contas de farmácia, mercadinho do bairro, compras por impulso em lojas e televisão, em uma solidão que gerou uma compulsão por adquirir joias, panelas, eletrodomésticos – todos eles inúteis e jamais usados.
Outro traço triste é o acúmulo de roupas que nunca serão vestidas; muitas com etiquetas; geladeira com comida acumulada e já podre e gavetas, prateleiras entulhadas de remédios vencidos, odor de urina em casa e uma sensação medonha de abandono.
O que mais choca, porém, é que no mês anterior essa pessoa parecia super dona de sua razão, de sua vida, de suas posses. É algo avassalador descobrir que somos passageiros, porém, antes de morrermos, há, por vezes, uma falência mental tristíssima, uma leve demência que só aumentará e que nunca perceberemos, pois nossos olhos estarão cegos para nossa impotência para a vida civil.
Resta a cada um rezar por alguém que nos alerte a tempo e nos dê a chance de permanecermos minimamente maduros e pedirmos ajuda. Como diz Andrea Pachá, minha amiga juíza: “a vida não é justa”.
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