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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Kate Wyler: o poder (e a contradição) do anti-fashion em A Diplomata

Entre ternos pretos, cabelos despenteados e um vestido vermelho, a diplomata que não queria ser ícone virou símbolo de poder silencioso

Por Gabriela Nassif
Atualizado em 9 nov 2025, 17h08 - Publicado em 9 nov 2025, 17h00
Mulher usando blazer preto com cabelo solto olhando para o horizonte.
Keri Russell interpreta Kate Wyler em A Diplomata, série da Netflix.  (Netflix/Divulgação)
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Tenho minhas reservas com Kate Wyler — e talvez seja justamente por isso que ela me fascine. Em A Diplomata, Keri Russell interpreta uma mulher que luta contra a própria visibilidade. Kate não quer ser olhada, mas é impossível não olhar.

Evita o glamour, mas o encarna sem perceber. É o retrato perfeito da contradição entre querer ser levada a sério e ser constantemente julgada pela superfície.

O figurino como manifesto

Poster do filme A Diplomata.
Em A Diplomata, Kate Wyler (Keri Russell), é uma diplomata experiente, é inesperadamente nomeada embaixadora dos EUA no Reino Unido em meio a uma crise internacional. (Netflix/Divulgação)

Desde o primeiro episódio, seu figurino é um manifesto. Quando assessores e estilistas tentam transformá-la em uma “figura pública adequada”, ela corta o papo com impaciência: “tenho um terno preto e outro terno preto”.

É uma fala que define a personagem inteira. Para Kate, roupa é ferramenta, não ornamento. Ela se veste para se mover, pensar, negociar — e, se necessário, correr. É uma mulher que trabalha no limite, entre o caos e a estratégia, e não tem tempo para suavizar as bordas.

Seus ternos escuros — preto, cinza, azul-profundo — criam uma estética quase monástica. Linhas retas, cortes precisos, tecidos de qualidade. O guarda-roupa, desenhado por Roland Sanchez, se baseia em peças Theory e blusas Vince, tudo escolhido para unir elegância e prontidão.

Como a própria showrunner Debora Cahn resumiu: Kate precisa “parecer bem e ser capaz de correr se bombas caírem do céu”. É a diplomata que precisa parecer firme e invisível ao mesmo tempo. E é justamente essa tentativa de desaparecer que a torna inesquecível.

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A mulher que virou ícone sem querer

Mulher com terninho cinza escuro andando cercada por homens.
Keri Russell em cena da série A Diplomata, da Netflix. (Netflix/Divulgação)

A estética anti-fashion de Kate acabou se tornando uma das imagens mais marcantes da TV recente. A bolsa cruzada — prática, inseparável — virou quase extensão do corpo, sua armadura portátil. E a mulher que não queria ser lembrada virou referência de estilo.

As buscas por “o terno da Kate Wyler” ou “a bolsa da Kate Wyler” provam a ironia central da série: quanto mais ela tenta se camuflar, mais visível se torna.

A Diplomata sabe disso e se diverte. Na terceira temporada, uma agente da CIA, encarregada de proteger a segunda-dama, é disfarçada de Kate. Para isso, colocam a agente num terno e deixam o cabelo desgrenhado — uma caricatura viva.

A própria Kate, incomodada, se defende (“eu lavo o cabelo, tá?”) e pede que penteiem a mulher. Ninguém o faz. É uma piada interna, autodepreciativa e meta: a série brinca com a imagem pública de Keri Russell e com o fato de o cabelo de Felicity ainda ser lembrado décadas depois.

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O cabelo e o “soft power”

O cabelo de Kate é tão falado quanto seus ternos. Sempre preso às pressas, desalinhado, funcional — é a antítese do penteado político. Mas em A Diplomata, o descuido aparente é proposital: o cabelo é linguagem. É o reflexo visível de uma mulher que tem mais urgências do que a estética, mas que, ironicamente, é julgada justamente por isso.

Na segunda temporada, o tema ganha corpo em uma das cenas mais marcantes da série, quando a vice-presidente (e depois presidente) Grace Penn, vivida por Allison Janney, confronta Kate sobre sua aparência. É um duelo de gerações e de visões sobre o poder feminino. Grace, sempre impecável, encarna a política da imagem; Kate, irritadiça e prática, despreza o teatro visual.

Com frieza e precisão, Grace aponta para o cabelo “de cama” da embaixadora e diz: “Você provavelmente acha que esse penteado diz que está ocupada demais servindo ao país para fazer uma escova. Mas o que ele comunica é desleixo.” E vai além: comenta até a calça de Kate, presa por um clipe de papel por causa de um zíper quebrado.

O diálogo, desconfortável e necessário, é a síntese da tensão central da série — a distância entre a mulher que trabalha e a mulher que é observada. Grace não fala de vaidade: fala de percepção, de influência. “Isso é soft power”, explica. No mundo da diplomacia, ninguém vai ler relatórios, mas o rosto da embaixadora aparecerá “doze mil vezes por dia”. A imagem é ferramenta de poder, não adorno.

Kate ouve, irritada, mas algo muda. Porque, no fundo, Grace está certa: até um coque malfeito pode ser diplomacia.

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A piada se repete de forma deliciosa na terceira temporada, quando uma agente do Serviço Secreto disfarçada de Kate aparece com o cabelo propositalmente desgrenhado — uma paródia viva da sua imagem pública. A própria Kate, ofendida, tenta se justificar: “Eu lavo o cabelo, tá? Eu penteio.” E pede que ajeitem o penteado da agente. Ninguém o faz.

É uma brincadeira meta e autoirônica, feita para rir de si mesma e do público que transformou aquele cabelo em fenômeno cultural. É também um aceno à própria Keri Russell, cuja carreira foi marcada — desde Felicity — por um dos cabelos mais comentados da televisão.

O peso dos vestidos

mulher usando vestido vermelho apoiada em bancada de banheiro com expressão angustiada.
Keri Lynn Russell ficou famosa por interpretar Felicity Porter na série da The WB, pela qual ganhou um Globo de Ouro de melhor atriz em série de drama. (Netflix/Divulgação)

Se os ternos são armaduras, os vestidos são rachaduras. Ao longo da série, cada vestido marca um momento de transição — emocional, política, até existencial.

O primeiro é o “Cinderella dress”, branco e glamouroso, que ela é obrigada a usar em uma sessão de fotos. Antes de vestir, ela protesta: “Não sou Cinderela. Estou aqui para 30 funerais.” A fala é típica de Kate — afiada, impaciente, incapaz de fingir leveza. Mas é também prenúncio: a mulher que rejeita o papel de princesa terminará a temporada descendo uma escadaria como uma.

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No episódio final da primeira temporada, vem o vestido vermelho, talvez o figurino mais comentado da série. A cena, filmada no Louvre, é de uma beleza quase simbólica. Depois de uma temporada inteira em preto, Kate surge em um longo vermelho criado pela Galvan London, redesenhado pelo figurinista para ser mais dramático — o tom foi ajustado para se destacar das paredes do museu, e o trem do vestido estendido para que Dennison pudesse ajudá-la a descer a escada, acentuando o romantismo do momento.

“Quando você veste um vestido vermelho, é porque quer dizer algo”, disse Keri Russell. E é isso mesmo: aquele vermelho é raiva, liberdade, renascimento. Como explicou a showrunner, Debora Cahn, é o oposto do “tenho um terno preto e outro terno preto”. É o instante em que Kate aceita ser vista.

Depois de ser traída por Hal e sufocada pela própria função, ela escolhe a cor da visibilidade. É um gesto político e íntimo. É o momento em que ela abre, nas palavras da showrunner, “a porta para uma vida diferente”. Na terceira temporada, essa ideia continua. O vestido preto de paetês, colado ao corpo, é uma evolução da armadura: ainda é preto, mas agora reflete luz. É a metáfora perfeita da personagem que, depois de tanto se esconder, começa a brilhar por escolha própria.

E há o vestido creme, delicado, usado quando Hal a vê com Callum. É o primeiro figurino em que ela parece vulnerável. O tecido leve, o corte solto — é o corpo da mulher, não o uniforme da embaixadora. Pela primeira vez, Kate parece permitir que a pele respire, que a personagem exista fora da função.

Cada um desses momentos é uma fresta. E juntos, formam o retrato de uma mulher aprendendo a conciliar o trabalho com a própria presença.

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Reconciliação com o espelho

close de mulher com o rosto preocupado falando no telefone
Na série A Diplomata, uma diplomata de sucesso precisar lidar com a carreira de embaixadora e um conturbado casamento com um político influente. (Netflix/Divulgação)

Na terceira temporada, Kate Wyler já não parece em guerra com o reflexo. Ainda é prática, ainda usa os tons neutros e a bolsa cruzada, mas há uma leveza nova. As roupas continuam funcionais, mas agora parecem escolhidas — não impostas. Ela entendeu que pode ser coerente sem ser rígida. Que o visual não a diminui; ao contrário, traduz sua autoridade.

Fora da tela, Keri Russell vive o mesmo paradoxo: a atriz que sempre cultivou um estilo discreto se transformou, ironicamente, em ícone fashion. Entrevistas, editoriais, eventos — todos ecoando a estética Wyler, de poder silencioso e elegância funcional.

O paradoxo final

No fim, A Diplomata nunca foi apenas sobre política internacional, mas sobre política da imagem. Grace Penn chama isso de soft power — a capacidade de influenciar sem impor. E Kate, a contragosto, aprende a usá-lo.

Sua evolução visual é sua narrativa interna: dos ternos escuros que tentavam apagá-la aos vestidos que a fazem existir. O figurino conta a história de uma mulher que queria passar despercebida e acabou se tornando um símbolo.

Kate Wyler é o anti-fashion que virou referência. A mulher que usa preto para se esconder e termina brilhando com ele. A que começa dizendo “não sou Cinderela” e termina descendo a escadaria do Louvre.

A que ri do cabelo despenteado e descobre que até isso é linguagem de poder. No fundo, é simples: quando você não quer provar nada, acaba provando tudo. E esse é o verdadeiro poder de Kate Wyler.

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