Um acidente? Um crime? Um segredo que une duas mulheres? A adaptação para TV do best seller Pequenas Grandes Mentiras (Big Little Lies), da australiana Liane Moriarty, fez estrondoso sucesso na HBO e praticamente lançou uma franquia onde algumas das melhores atrizes de Hollywood brilham também na tela pequena. O livro foi dividido em duas temporadas e os fãs (e elenco) ainda consideram que poderia ter uma 3ª parte para a história, que mais uma vez terminou inconclusiva. De quebra, fez muita gente sonhar em se mudar para Monterrey, Califórnia.
As órfãs da série encontraram uma alternativa de igual qualidade, mas que até o momento não encontrou a mesma repercussão: Disque Amiga para Matar (Dead to Me), da Netflix. Antes de mais nada, faço um parêntese para comentar o título em português da série. Quando ela estreou, em 2019, foi divulgada apenas com o original, cuja a tradução é “morto para mim”. O título em inglês faz muito mais sentido e não dá nenhum spoiler. A opção de agora tentar fazer referência à Hitchcock não funciona porque 1) não tem o “‘M’ de Matar” ou o “A de Amiga” 2) não faz sentido porque não usamos – como nos Estados Unidos – as letras do teclado do telefone como número e 3) por favor, entrega tudo sem nem começar! Enfim…
Voltando às séries. Enquanto Big Little Lies é 200% drama o tempo todo, Dead to Me é uma comédia dramática extremamente ácida e frequentemente, incorreta. Criada por Liz Feldman, de 2 Broke Girls, ela conta a história da improvável amizade entre duas mulheres de temperamento opostos, unidas (aparentemente) pelo luto. No decorrer da 1ª temporada, descobrimos que há muito mais do que isso acontecendo, inclusive um crime. O que começa como boa intenção, para amenizar um erro, desencadeia uma série de outros (quase inacreditáveis) conflitos e termina, não é spoiler com o nome da série, outro crime. A segunda temporada, lançada em tempo para aliviar a quarentena (eu esgotei em 24h do lançamento, mas sou fã), não desaponta. A inversão de papéis funciona e o gancho para uma terceira temporada (ainda não confirmada) ficou ótimo.
Estrelada por Christina Applegate e Linda Cardellini, Dead To Me revisita os temas que agradaram tanto em Big Little Lies: casas lindas na Califórnia, segredos, sororidade, maternidade, romance, porém com um toque quase macabro que faz diferença. Christina Applegate é perfeita na posição de uma pessoa constantemente no limite e sua atuação foi tão boa que recebeu uma indicação para o Emmy. Infelizmente o reconhecimento veio justamente no ano da febre de Fleabag e ela perdeu para Phoebe Waller-Bridges. Linda Cardellini, menos conhecida pelo público em geral, é o contraponto perfeito para a acidez e agressividade da personagem de Applegate. As duas juntas funcionam perfeitamente e é um desafio não gostar e (estranhamente) torcer por elas.
A autora da série contou que Dead To Me foi inspirada em uma experiência pessoal. Na semana do seu aniversário de 40 anos, no 5º ano de tratamento de fertilização, Liz recebeu uma série de notícias que a abalaram: a morte de um primo próximo, que sua melhor amiga estava grávida, que sua outra grande amiga também estava grávida e, finalmente, que ela mesma não estava grávida. Pareceu demais para ela, mesmo com uma vida onde nada aparentava estar errado. “A vida pode ser implacável mesmo que sua vida seja ótima”, ela contou à revista Wrap na época do lançamento. Entendendo essa perspectiva, vemos que as duas personagens são alter-ego de Liz, dando outras cores para as duas.
“Foi muito difícil encontrar o tom certo”, admitiu Christina em uma entrevista para o lançamento da 2ª temporada. “É muito sutil chamar a série de comédia quando em muitas cenas nós estamos chorando e nos acabando”, ela diz. “Ouvir “nossa, foi hilário” depois que acabamos de gravar uma cena sensível é esquisito”, opinou.
Mas sabe de uma coisa? Do jeito que Dead to Me conta a história, é muito divertido mesmo.
Veja aqui o trailer da 2ª temporada de Dead to Me: