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Casa em Trancoso traz a união perfeita entre natureza e o greco-baiano

Construída no Vale dos Búfalos, a Casa Buri é a representação das muitas fases da vida de sua criadora, a arquiteta Bianca Vilela

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 fev 2024, 08h58
Indoor - Casa Buri
As curvas da estante abrigam memórias da moradora, como uma placa de “vende-se”, presente de um vizinho, e a coleção de figas de jacarandá (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)
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Há muitas formas de deixar um lar com nosso jeito: eleger a paleta de cores, trocar os móveis, inserir objetos afetivos… Entretanto, quando essa possibilidade já acontece desde a construção de cada parede, a relação entre criador e criatura se torna quase uma simbiose. Na concepção do projeto de sua morada, ainda em 2021, Bianca Vilela avalia hoje que era quase “outra pessoa”. Localizado no Vale dos Búfalos, região em Trancoso, sul da Bahia, seu lar foi concluído só no final do ano passado.

Morando há quatro meses na casa, a arquiteta agora consegue fazer uma análise do que cada tijolo representou não só para erguer sua moradia, mas também para o rumo de sua vida.

Indoor - Casa Buri
Ao lado da janela, a tapeçaria do artista Kennedy Bahia traz cor ao espaço. A cabeça de cerâmica é obra da filha de Dona Dagmar, de Belmonte, e a longa luminária de fibra de cipó da região é do Dai Artesanato (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

O projeto veio de sua vontade, junto ao seu então noivo, de fincar raízes nessa região onde nem o Google Street View alcança: cercada pelo verde da Mata Atlântica e pela beleza natural das falésias da praia. Com o término do relacionamento, acabou que o loft ganhou um novo significado.

“O primeiro momento foi bem doloroso. No começo, nosso plano era ter horta, filhinhos, plantação orgânica. Hoje, o que eu desejo é que outras pessoas vejam esse espaço, e até futuramente se hospedem aqui. Quero que a casa me forneça liberdade, em vez de criar uma raiz.”

Indoor - Casa Buri
O quarteto de molduras remete à paixão de Bianca pelas artes e arquitetura, com croquis e ilustrações de Alfredo Volpi, Burle Marx e Tarsila do Amaral (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

“Acho que fui mudando junto com a casa, conforme ela foi sendo construída”

Bianca Vilela, arquiteta
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A mudança de planos também trouxe algumas intempéries no projeto inicial: “Como meu ex é chef de cozinha, construí uma horta e uma cozinha semiprofissional incrível. Mas não cozinho absolutamente nada, não gosto”, confessa aos risos, com seu jeito leve de encarar os imprevistos da vida.

Tomada por um espírito livre desde sempre, Bianca nasceu no interior de Goiás e mudou-se para Campo Grande para cursar arquitetura e urbanismo. Depois de formada, há 12 anos, a possibilidade de morar em Trancoso surgiu na sua vida da forma que mais a encanta: de sopetão.

“Eu vim parar aqui porque uma vizinha minha em Campo Grande namorava um cara daqui. Ela sempre falava pra gente morar na Bahia, até que falei: ‘Vamos!’. Eu já tentei ir embora várias vezes, mas sempre surge algum trabalho, algum boy… Tem gente que fala que ‘Trancoso tranca’, né?”

Indoor - Casa Buri
A cuba de ônix é da loja @artigosemcobre. À direita, a imponente cortina de cerâmica feita por Dona Dagmar (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

CASA BURI

Construído num terreno de 4000m2, o loft mostrou ter vontade própria desde o início das obras. Para conseguir uma construção sem desmatamento, a casa ganhou um design em ‘L’. “É como se ela tivesse tomado a sua própria forma”, define a moradora e autora do projeto.

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Indoor - Casa Buri
Para conseguir uma construção sem desmatamento, a casa ganhou um design em ‘L’ (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

Com identidade particular, o espaço tem até nome e perfil nas redes sociais@casa_buri. O nome faz referência aos buritis, uma palmeira típica do cerrado goiano, região natal de Bianca, mas também à espécie de planta que encontrou no terreno na primeira visita: a palmeira-buri-de-praia.

Além das palmeiras, o peixe é uma figura bastante presente nos detalhes – ​​o termo “buri” faz referência ao nome do peixe olho de boi, em japonês. O pescado aparece na maçaneta das portas e em muitas das cerâmicas inseridas nos cômodos.

Indoor - Casa Buri
Na área externa, um sofá de barco antigo traz história para o espaço, além dos estofados produzidos pela costureira Miralva. As poltronas e mesinha de centro são do Casarão Pedro Baiano (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

A cerâmica, aliás, tem papel importante na vida de Bianca. É quando coloca as mãos na argila para moldar objetos que se sente com a cabeça livre, flutuando. Além de arquiteta, a empresária também é fundadora da marca Lamacota, descrita como um laboratório criativo de experimentações com lama. No catálogo estão joias, acessórios e itens de decoração – vários deles espalhados pela casa em Porto Seguro.

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Indoor - Casa Buri
Um balangandã de sua marca autoral (Lamacota), adorna o vaso transparente (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

A lama foi a inspiração que guiou Bianca na escolha da paleta de cores da construção. São diferentes tons terrosos que permeiam as paredes do espaço. A organicidade dessa matéria-prima também encanta a moradora, que é fã das linhas curvas. Desde o início do projeto, ela buscou fugir de quinas e acabamentos que não fossem arredondados.

“Não queria nada quadrado, que nada ficasse parado, travado. Tudo tem uma forma mais orgânica. O rodapé, por exemplo, é todo abaulado, as luminárias são longas… Eu gosto do brutalismo que não é tão brutalismo.”

Indoor - Casa Buri
Os vasos antigos são do sertão baiano, já a moldura do espelho é do Casarão Pedro Baiano (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

Os nichos da estante de concreto fazem referência aos desenhos de centros educacionais projetados por Oscar Niemeyer – os CIEPs, espalhados por todo o Rio de Janeiro –, marcados pelas muitas janelas curvas. Além do renomado arquiteto, tem um outro nome que faz os olhos de Bianca brilharem na profissão. Sua grande inspiração é Calá, morador de Trancoso e escultor e ceramista há mais de 40 anos.

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“É um senhorzinho que tem um estilo que ele chama de greco-baiano, que é algo que só consigo ver em casas antigas daqui, porque era muito usado nos anos 1970”, conta sobre a forma como encontrou de fazer um resgate da arquitetura local, que acredita estar se perdendo. O chamado “greco-baiano” é um estilo particular da região, caracterizado pelo artesanato regional em meio a estruturas de alvenaria, paredes em tons claros e textura irregular.

“Quero que a casa me forneça liberdade, em vez de criar uma raiz”

Bianca Vilela, arquiteta

“Digo que Trancoso é quase uma nova faculdade. Porque os meios construtivos são bem diferentes dos meios de cidades, desde o pau a pique até o reboco Santa Fé”, conta se referindo ao tipo de reboco presente em casas rústicas, que segue em alta em acabamentos mais naturais. Para trazer leveza em contraste à mata externa, a empresária optou por elementos naturais e regionais, como a biriba, parte bem fininha do eucalipto, usando-a como material para o muro da fachada.

Indoor - Casa Buri
Bianca Vilela junto de sua cachorrinha, Pina (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

A Casa Buri foi toda elaborada com o trabalho de artesãos locais: da marcenaria da cama até o mosqueteiro feito por uma costureira. Entre os garimpos da moradora estão peças da Dagmar Muniz de Oliveira, ceramista de Belmonte, na Bahia; as coloridas luminária do Zé da Cerâmica, artista de Trancoso; uma figura de Cosme e Damião feita por Calá, entre tantas outras peças que representam um mix de escultores que preenchem a exuberante estante e outros espaços da casa.

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Mesmo com tantas mudanças de planos, o fato é que a Casa Buri acabou se tornando uma extensão de sua própria criadora. “Ela veio como uma transição para mim, como profissional e como mulher. Acho que fui mudando junto com a casa, conforme ela foi sendo construída.”

Indoor - Casa Buri
O refúgio de Bianca Vilela foi construído no Vale dos Búfalos, em Trancoso (Bruno Pinheiro/CLAUDIA)

Ao vislumbrar o espaço finalmente pronto, as nuances cor-de-rosa que tomam as paredes do lar acabaram ganhando um significado novo para Bianca: “É uma casa feminina. Eu não sou tão feminina assim, estou sempre na obra, mas quando eu chego em casa, parece que estou dentro de um útero”, conclui. 

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