O tema “A Casa Original” é o que une os ambientes de todas as CASACOR que ocorrem pelo Brasil em 2021 – mas isso não significa uma uniformidade de ideias! Com a interpretação individual de cada profissional participante, referências, vivências e bagagens de vida criam os mais diversos tipos de projetos com foco na brasilidade.
Na CASACOR SC, segunda mostra do calendário de 2021, outro ponto recorrente nos espaços é o resgate das raízes brasileiras, tema em voga em tempos de pandemia e que o tempo dentro de casa se tonou mais longo. Seja em móveis, peças de design, cores, materiais de todas as partes do país, plantas e até em referências sociais e econômicas, o Brasil é representado nas mais variadas formas na edição catarinense. Separamos três ambientes cuja inspiração é norteada pela brasilidade. Confira!
Cultura popular do Brasil todo
“A minha inspiração foi a profundidade e a diversidade da cultura brasileira. Procurei resgatar um pouco de todos os nossos Brasis”, diz a arquiteta Juliana Pippi, sobre a essência do Living Camadas Brasileiras. Em viagens pelo Brasil afora, a profissional fez uma imersão em terras alagoanas, mineiras, cearenses, baianas, além de catarinenses e gaúchas, para abastecer a bagagem com a beleza da simplicidade.
O resultado aparece no garimpo de peças de artistas e artesãos, que compõem o espaço pensado para a mostra, que como Juliana define, “é um verdadeiro laboratório”. A brasilidade aparece na aproximação com a cultura popular brasileira, na valorização do feito à mão, que gera valor e aquela sensação de pertencimento, tão escassa nos tempos atuais.
Do tapete de Taboa, da Paraíba, ao pendente sobre a mesa de jantar, assinado por Mariana Amaral, da comunidade de Várzea Queimada, no Piauí, à obra Sementes, na área da janela, de Clara Fernandes, que atualmente vive em Florianópolis, ao quadro atrás do sofá, de Gustavo Moreno, do Recife.
O reflexo deste Brasil aparece na ambientação do living em muitas composições, texturas, materiais e cores, estas, aliás, que exaltam os tons das camadas do solo, da terra, das camadas da pele, para possibilitar múltiplas sensações.
Memórias afetivas e pedras exóticas
Jeferson Branco mostrou a brasilidade na sua arquitetura manifesto, que vai além da estética. O projeto do estúdio, que ele chama de [meu.coração.queima], é provocativo e convida à reflexão em tempos de um Brasil estranho, polarizado e que parece perder sua identidade. “Neste espaço de 51 m² trago algumas indignações com relação ao cenário atual do país, como a desvalorização dos nossos bens naturais e a desigualdade social. Esse sentimento se reflete na nossa casa original”, destaca.
Itens de artesanato, que estão presentes em muitos lares brasileiros, de valor acessível, foram ressignificados para compor o cenário da arquitetura atual contemporânea. A cultura popular brasileira é baseada nas memórias afetivas da casa da vó, dos pais. Por isso, pratos e xícaras de café, espelhinho com moldura laranja, cozinha azul, rede de palha, filtro de água de barro e cobogós ganham notoriedade na composição do ambiente, resgatando a memória afetiva de um lugar distante fisicamente, mas atual nos corações de quem viveu uma época de mais encontros reais, olho no olho, e menos virtuais.
E mais: fazendo um contraponto proposital, Jeferson exalta as pedras exóticas, extraídas na Bahia e Minas Gerais, “belezas naturais que nem ficam no nosso país, pois são na maioria exportadas para os Estados Unidos e Ásia”, lembra o profissional.
Plantas tropicais e conexão com a natureza
Além das pessoas se voltarem mais para dentro de seus lares, elas também buscaram ampliar a conexão com a natureza, tanto nos espaços internos, quanto externos. Ana Trevisan, arquiteta paisagista, mostrou como é possível, por exemplo, explorar um terraço para que a relação com o verde, com a vida natural, se torne ainda mais estreita, seja para relaxar, para um momento de introspecção ou mesmo de reflexão sobre o que é essencial. No terraço da CASACOR, o ambiente de 400 m² estimula a convivência ao ar livre.
À volta, uma vista para a encosta coberta com Mata Atlântica e a baía de Santo Antônio de Lisboa. “O Rooftop 20|21 recebeu esse nome em referência aos anos que transformaram nossas vidas, nos conectaram com nossas casas, com a natureza e com os ambientes ao ar livre. Os terraços foram idealizados para ter uma atmosfera cosmopolita e contemporânea, inspirados nos topos de edifícios de grandes centros urbanos. Acreditamos que um espaço de terraço pode ser ocupado para o convívio e contemplação da paisagem e criamos espaços diferenciados que podem acomodar as pessoas de várias formas”, destaca Ana.
A vegetação distribuída cumpre múltiplas funções: proteção, sombra e ambientação. Em um país tropical, todas as espécies escolhidas pela profissional levaram em consideração as intempéries, inclusive, de vento tão características dessas áreas. Esta volta à tropicalidade também é um sentimento genuíno e tão impregnado nos lares brasileiros, hoje, ainda mais significativo. E Ana expôs isso ao apostar em tons, texturas e flores que criam uma ambiência tropical. Destaque para as Streliztias brancas, crótons, moreias, bulbines, xanadus, dentre outros.