Primeira jogadora trans da Argentina estreia em time de futebol
Mara Estefania Gómez, de 23 anos, fez sua primeira partida pelo Villa San Carlos na última segunda-feira (7)
A última segunda-feira (7), foi um dia histórico para o futebol argentino. Mara Stefania Gómez, de 23 anos, fez sua estreia pelo Villa San Carlos, pequeno time profissional da cidade de Berisso, na grande Buenos Aires, e se consagrou a primeira mulher trans a atuar no futebol profissional da Argentina.
O Villa San Carlos contratou Mara em janeiro e, na época, iniciou uma grande discussão sobre a possibilidade da contratação de jogadores trans. Foi necessário pedir para que a Associação de Futebol Argentino (AFA) autorizasse a participação da jogadora e o processo foi muito demorado, com grupo de pessoas que defendiam a presença dela e outros que afirmavam que Mara não deveria atuar em um time feminino por ter nascido homem biologicamente.
Quando a situação estava quase resolvida, a pandemia paralisou o futebol de todo o mundo. Agora que as partidas estão voltando, a AFA fez um evento para anunciar a autorização.
No início de sua partida de estreia, Mara recebeu uma camisa do time rival, Lanús, com seu nome e o número 10 nas costas. A partida terminou com o Villa San Carlos perdendo de 7 a 1.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Mara contou que começou a jogar futebol aos 15 anos, quando passava por um período difícil devido à discriminação.
“Nunca tive interesse em jogar, mas me convidaram um dia e resolvi participar. Eu me sentia em um momento crítico, sem saber quem eu era. Joguei mal porque claramente não sabia, mas vi que era uma brincadeira, havia risos. Me senti livre enquanto jogava, esqueci de todos os males do dia a dia. Era uma terapia porque me fazia bem emocionalmente. Aos poucos, vi que tinha habilidade”, contou.
Ela também afirma que não vê o futebol como uma carreira. A cada notícia publicada pela imprensa argentina sobre sua contratação, Mara leu centenas de comentários preconceituosos. Ela sabe que, se atuasse por times maiores, a polêmica também seria bem maior.
A atleta concilia os treinos com a faculdade de enfermagem e o trabalho como manicure. “Quero continuar desfrutando do esporte, correndo em campo, respirando. O que eu quero é aproveitar o que o futebol pode oferecer sem ninguém dizendo que não posso. Estou contente de ter conseguido jogar. Fui muito bem recebida pelas outras jogadoras e isso já me deixa contente”, afirma. “Não só se trata da inclusão, mas também de superação para romper os esquemas patriarcais. Claramente há muitos obstáculos. O fundamental para isso é se fazer forte para conseguir o que se quer”, finaliza.
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