Brasileiras que mudaram a ciência
Elas partiram em busca de conhecimento e tiveram seu trabalho reconhecido internacionalmente
As mulheres são maioria nas universidades brasileiras, mas ainda sofrem grandes dificuldades para ver seu trabalho recompensado. É assim desde o nascimento dos primeiros cursos de nível superior no Brasil. Eles surgiram a partir de 1808, mas foi apenas em 1882 que uma mulher brasileira terminou uma faculdade – e Maria Augusta Generoso Estrela só alcançou esse feito porque se mudou para os Estados Unidos.
O século 21 encontra um cenário mais promissor. Em diferentes áreas do conhecimento, no Brasil e no exterior, nossas cientistas estão superando todos os obstáculos e produzindo pesquisas da maior relevância. Para cada pesquisadora que você vai conhecer nestas páginas, existem muitas outras que tiveram a coragem de se dedicar à busca pelo conhecimento e transformaram a ciência num estilo de vida.
Tábita Hünemeier
Área de atuação: biociências
Onde vive: São Paulo
Contribuições: trabalha para detalhar as bases genéticas da população nativa das Américas. É cientista do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo e, assim como Manuella Kaster e Thaisa Storchi, já venceu um prêmio para mulheres em ciência.
“Fui uma criança muito curiosa para entender o mundo à minha volta e sempre recebi o incentivo para buscar respostas. Estive dividida entre as ciências exatas e as biológicas, porém decidi pelas biológicas por me interessar muito por genética. O contexto atual é favorável: vem aumentando o número de mulheres como professoras titulares ou responsáveis por grandes projetos.”
Thaisa Storchi
Área de atuação: astronomia
Onde vive: Rio Grande do Sul
Contribuições: depois de seguir carreira internacional em astrofísica, voltou ao Brasil, onde coordena um grupo de pesquisa dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É membro do Comitê Supervisor da Association of Universities for Research in Astronomy (AURA).
“Fiz vestibular para arquitetura. Mas, ao cursar aulas do Instituto de Física, percebi que poderia ser cientista. Acabei fazendo mestrado em astrofísica e depois cursei pós-doutorado no exterior. Uma vez, pedi para levar meu bebê comigo num turno de observação astronômica e o diretor não queria deixar. Insisti e eles acabaram achando uma casa para mim e o bebê.”
Joana D’Arc Félix
Área de atuação: química
Onde vive: Franca
Contribuições: desenvolveu um modelo de pele artificial para pessoas vítimas de queimaduras e também o cimento ósseo, um produto extraído do couro animal e da escama de peixes capaz de acelerar a recuperação de fraturas.
“Minha família morava numa casinha no terreno onde ficava o curtume em que meu pai trabalhava. Eu via o químico da fábrica de jaleco branco. E o jaleco era a coisa mais bonita do mundo para mim. Aprendi a ler com 3 anos e meio com jornais na casa onde a minha mãe fazia faxina. Com 14 anos, passei no vestibular da USP, da Unicamp e da Unesp. Hoje desenvolvo pesquisas com alunos da Etec. Já ganhamos 62 prêmios. Um pai veio me agradecer: a filha de 15 anos deixou de ser garota de programa porque quer se tornar cientista. Ela acabou de passar no vestibular de química.”
Rosaly Lopes
Área de atuação: astronomia e vulcanologia
Onde vive: Texas
Contribuições: chefe do Departamento de Ciências Planetárias da Nasa, já estudou dezenas de vulcões da Terra a fim de comparar suas condições com a de outros corpos celestes do Sistema Solar.
“Quando eu era menina, poucas mulheres iam para a carreira de ciências e havia pouca pesquisa no Brasil para a área que eu queria, satélites espaciais. Fui para o exterior. Tive muitas dificuldades na Inglaterra, porque os estudantes estavam muito mais avançados. Mas sempre fui muito determinada e alcancei o meu sonho de trabalhar na Nasa. Hoje é mais fácil para um estrangeiro, homem ou mulher, estudar e trabalhar na agência espacial.”
Manuella Kaster
Área de atuação: neurociência
Onde vive: Florianópolis
Contribuições: pós-doutora pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), estuda marcadores moleculares e bioquímicos, mecanismos que ajudam na identificação e no tratamento de doenças psiquiátricas.
“Comecei a trabalhar em um laboratório de pesquisa no curso de ciências biológicas e, desde então, não tive mais dúvidas sobre a carreira que gostaria de traçar. Logo cedo eu segui para neurociências, especificamente a neurobiologia da depressão. A ideia de fazer parte da construção do conhecimento, de poder contribuir para a formação de alunos e imaginar o impacto da pesquisa científica na vida das pessoas é o que me motiva.”