Garra Feminina: a luta da mulher nunca é individual
Quando uma mulher vence, todas as outras vencem também
Toda vez que converso com alguém desconhecido, meu sotaque latino chama a atenção e, na primeira brecha, vem a pergunta: “De onde você é?”. Com orgulho, respondo que sou venezuelana. Nessa hora, tenho flashes da minha história.
A Venezuela é um país caribenho com rica diversidade ambiental e povo lindo. Apesar do momento extremamente delicado que a nação encara, as maravilhas do lugar permanecem em minhas memórias. E, sem dúvida, dentre essas marcas que minhas origens me deixaram, a influência das mulheres é uma das mais fortes, não só pela beleza – afinal, a Venezuela é conhecida como a terra das misses – mas também por sua força.
Nas famílias, o eixo, a espinha dorsal, é a mulher. Ela é responsável pelas decisões dentro de casa, pela dinâmica dos moradores. Minha avó, mãe, irmã e minhas amigas são meus exemplos. Vivo em constante aprendizado e evolução, mas tudo que já conquistei vem da base que tive. Meus pais nunca me limitaram.
Ser mãe, me casar e seguir as tradições do meu país sempre fez parte dos meus sonhos, mas isso não me impediu de trabalhar, de ter uma vida fora do lar. Fui incentivada por minha mãe e avós a ser o que quisesse. Desde cedo aprendi que lugar de mulher é onde as decisões acontecem e que, para participar de algo importante, basta querer e se esforçar para tanto. Foi assim que trilhei minha vida.
Em 2009, minha carreira me levou ao Panamá e, no ano seguinte, me trouxe para o Brasil. Não sabia muito bem o que esperar daqui, mas fui bem recebida e aceita. E entendi o porquê à medida que conheci melhor as mulheres brasileiras. Nós temos a mesma origem, a mesma garra, a vontade de ir atrás dos sonhos e receber reconhecimento. Semelhanças que fizeram com que eu me apaixonasse ainda mais por este país.
Apesar de todo o suporte que recebi, ao longo da minha carreira enfrentei algumas situações difíceis, pensei que não daria conta e até em desistir, admito. Analisando várias dessas ocasiões, entendi que há vezes em que nós mesmas nos limitamos e colocamos barreiras nos próprios caminhos. E nessa autossabotagem é que mora o perigo.
Quebrei a cabeça para aprender isso e deixar de lado a famosa síndrome de impostora, a sensação de não ser capaz, de não merecer estar ali. Hoje tento mostrar para outras mulheres ao meu redor que ser uma boa profissional está relacionado a estar bem consigo mesma, e não a abrir mão de seus objetivos. Quero ser para outras mulheres o que minha irmã é para mim, uma inspiração, alguém que abre caminhos.
Não tem nada de errado em trabalhar, construir uma família e ter filhos. Como também está tudo certo se você não quiser isso, dedicando-se apenas ao lado profissional ou só ao pessoal.
Para mim, estar bem comigo mesma e atingir os melhores resultados em todas as esferas da minha vida significa ter um trabalho que me traz prazer e realização e, ao mesmo tempo, não anular minhas qualidades como mãe e esposa, estando presente na rotina da minha família e acompanhando o crescimento dos meus filhos.
Ter independência para tomar decisões em todos os campos da vida também é fundamental, assim como conseguir manter um hobby – que, no meu caso, é o crossfit, que pratico diariamente. Para seguir essa receita, defino minhas prioridades a cada dia, os temas a que darei mais importância e atenção e até o tempo gasto em reuniões. A maternidade me ajudou muito nisso, trazendo discernimento e senso de urgência.
Óbvio que nem sempre funciona, às vezes aponta alguma ansiedade. Mas, quando escuto meu filho dizer que tem orgulho de a mãe ser chefe, bate um alívio e vem à tona a sensação de que tudo está valendo a pena. Eu, por outro lado, fico orgulhosa em saber que minha garra e luta não são só para mim. Quando uma mulher vence, seja brasileira ou venezuelana, todas as outras vencem também. A luta de uma é a vitória de todas.
*Laura Vicentini é diretora de marketing da Always e Pampers para Brasil e América Latina