Útil, eu diria. Apagar da memória o que não agrega é uma espécie de detox das porradas da vida. Esbarrei com essa palavra em um busdoor carioca, acho que anunciando uma peça de teatro.
Encafifei em me lembrar (olha a ironia) do que gostaria de esquecer. Tanto lixo mental. Tantas passagens inúteis. Tantos pensamentos bélicos – inicialmente inofensivos – mas que ficaram – diria Adoniran Barbosa – dando “vorta em vorta da lâmpida” – como mariposas envenenadas.
Eu quero esquecer. Preciso esquecer. Abusos, ofensas, xingamentos, palavras mortais que me feriram pra sempre. Muitas sob efeito lisérgico e alcoólico de maridos, tios, patrões, mãe, mas tantas outras ditas de cara lavadas, ao amanhecer, caretas como a face lisa de um malfeitor pronto para a labuta.
Fui muito ferida ao longo da vida. Se me deixei machucar, se me fiz de fraca, se me impus o peso da mão de ferro dos insultos, hoje – madura – quero mandar tudo para o sótão do esquecimento. Não é trancafiar as mazelas morais sem refletir sobre as origens do mal.
Voltei pra análise e diante da desconhecida profissional, vou falando sobre cada machucado na alma e depois dobro as neuras e as organizo em prateleiras lacradas. Não quero voltar a abrir essas caixas, mas não hesito em afirmar sua existência. Estão ali, sepultadas. Deslembrar é o verbo das cinquentonas sedentas em abrirem espaço pro novo, se ofertando uma nova vida, repleta de bons significados.
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