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Clean beauty: os cosméticos que não agridem o corpo nem o meio ambiente

Confira um guia para entender os rótulos dos produtos e identificar se o seu favorito entra na categoria de beleza limpa

Por Isabella Marinelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 set 2020, 02h24 - Publicado em 18 set 2020, 19h00
 (Getty Images/CLAUDIA)
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Na semana que vem, depois de usar um xampu até o final, você jogará o frasco no lixo. Ele se juntará a outras bilhões de embalagens de cosméticos nos aterros sanitários, de acordo com os relatórios de previsões para 2020 do Euromonitor. Estima-se ainda que 40% de todo o plástico fabricado é descartável, chamado de “uso único”. Para algumas pessoas, pensar nisso é o gatilho que move uma série de decisões relacionadas à sustentabilidade. Para outras, a questão central da indústria da beleza é a água. Há também quem se preocupe com a relação entre o produto e a própria saúde. Todos esses caminhos, apesar de distintos, podem levar à clean beauty – ou beleza limpa em inglês.

“No Brasil, não temos uma regulamentação específica, mas essa proposta já estourou a bolha e virou uma prática de mercado, uma categoria”, explica Marcela Rodrigues, consultora de sustentabilidade e especialista em beleza natural, de São Paulo. Para ser considerado limpo, o produto tem que atender a alguns critérios. Em primeiro lugar, precisa ser livre de ingredientes sobre os quais não se sabe ao certo o impacto que terão na saúde humana a longo prazo – seja por ingestão, aplicação, seja por contaminação cruzada ou por tratar-se de um potencial poluente depois do descarte.

A partir disso, espera-se coerência nos demais processo da produção, como uma cadeia responsável, que não cause danos ao ecossistema nem às pessoas que trabalham nesse cultivo. Quando esse insumo chega às fábricas, passa por testes – sem experimentos com animais – e sínteses que preveem e evitam danos ao corpo. Por fim, é fundamental que a embalagem e a campanha sejam transparentes quanto à informação – de ingredientes a processos –, explicitando até se o recipiente é biodegradável, reciclável e se a empresa conta com logística reversa ou sistema de refil.

Parece óbvio quando pensamos no ideal, mas a prática não é tão simples. Além de não atenderem a tais demandas, algumas companhias praticam o que se chama de greenwashing, que é quando uma marca se vale de termos do universo sustentável, como “eco”, “verde” e “natural”, para criar marketing em cima de produtos que apresentam pouquíssimos elementos do tipo. “Um negócio tem que comunicar o que é e o que não é. Se esconde informação, já quer dizer muito. É importante olhar para as linhas clean, mas também avaliar o que há por trás dos outros produtos de um mesmo fabricante”, argumenta Marcela. Este guia de pontos essenciais ajudará a mergulhar nesse universo.

Close-up of a woman with pearls on her face
(Getty Images/CLAUDIA)

OS PROIBIDÕES

Uma lista de ingredientes considerados suspeitos está na mira da clean beauty. Os parabenos, sulfatos, ftalatos, óleos minerais, corantes artificiais e as fragrâncias sintéticas lideram esse ranking. Apesar de permitidos por muitas das agências de regulação sanitária, não se sabe exatamente o que o uso dessas substâncias, bem como as interações entre elas, pode causar ao corpo a longo prazo.

“Na maior parte dos testes, temos resultados em relação à aplicação de determinados compostos isolados e sob um aplicação aguda. O componente X é testado sozinho na pele durante um mês, seis meses. O que não se determina são os resultados da utilização contínua. Qual é o impacto em uma mulher aos 20 anos depois de usar antitranspirante desde os 10? E aos 30?”, questiona a dermatologista Patricia Silveira, do Rio de Janeiro.

Uma das teses possíveis é a de que alguns ingredientes funcionam como disruptores endócrinos no organismo. “Eles aumentam, diminuem ou anulam a ação dos nossos hormônios naturais, prejudicam seu transporte ou competem com eles. Como estamos falando de uma cascata, qualquer influência no meio do caminho desregula todo o processo”, explica. Se antes as causas não identificadas de problemas de saúde eram consideradas idiopáticas ou até decorrentes do estresse, hoje a medicina já leva em conta os contaminantes ambientais – agentes químicos externos contidos na poluição do ar, na água, nos vegetais com agrotóxicos, nas carnes com aditivos, nos produtos de limpeza, e por aí vai.

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MAS FUNCIONA?

Um mito relacionado à beleza limpa é a ineficácia dos produtos. O desenvolvimento de novas alternativas tem tecnologia e apuro envolvidos, o que derruba a ideia de improviso ou de caseiro. Esse progresso permite, por exemplo, a síntese de ingredientes de origem animal em laboratório – como o esqualano, versão vegetal do esqualeno, que era obtido dos tubarões.

A ideia é que da mistura de boas matérias-primas naturais com poucas sintéticas, além de bases e conservantes seguros, surja uma formulação dermatologicamente eficiente e com potencial de industrialização. Existem modelos interessantes no mercado brasileiro – é o caso das marcas Souvie, Bioart, Live Aloe, Care Natural Beauty, Beauts e Simple Organic.

“Há avanços a ser feitos nesse sentido porque algumas reações químicas são banidas nessa categoria. Um dos maiores desafios que enfrentamos é o desenvolvimento de produtos para os cabelos. Muitas substâncias precisam passar pelo laboratório para emulsionar com a água ou fazer espuma. Temos insumos naturais que dão um sensorial similar, mas a quantidade necessária por formulação seria muito maior e inviável”, explica a farmacêutica e cosmetóloga Mika Yamaguchi, de São Paulo.

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clean beauty
(Getty Images/CLAUDIA)

CADA ESCOLHA CONTA

Está longe de ser fácil virar a chave dos hábitos. Isso vale para dietas, exercícios, controle de telas e também consumo. É preciso ir a fundo nas pesquisas próprias para definir o que faz sentido chegar à nossa penteadeira. A responsabilidade de cada um é fator inerente nessa revisão de consumo, não só pela falta de regulamentação mas também porque algumas das concessões serão pessoais.

Um exemplo simples seria uma marca que mantém um protocolo rígido de ética sustentável e social, não usa os tais elementos suspeitos, mas extrai cera de abelha para a composição de cremes. Ainda que siga todos os preceitos de cadeia rastreável e cultivo biodinâmico (aquele que respeita as condições geográficas), não se trata de um produto vegano. Você estaria disposta a abrir mão desse ponto ou preferiria usar uma marca que falha na embalagem, mas não trabalha com ingredientes de origem animal? Ou relevar por questões financeiras?

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No mundo ideal, essa escolha não seria necessária, mas ela é. Por isso, a importância de se engajar na compreensão dos rótulos, no histórico das marcas e no exercício do ato consciente de compra. Cabe ainda a cada um de nós repensar a quantidade e a velocidade de compra – e ressignificar os rituais de beleza e as formas de obter prazer por meio dele. Imagine uma grande escala com itens mais limpos e menos limpos de acordo com a checklist que pauta a clean beauty. Quanto maior a redução de danos, melhor.

DICIONÁRIO VERDE

Para entender outros termos dos rótulos…

Naturais
As fórmulas devem conter 95% de ingredientes naturais e 5% de ingredientes orgânicos.

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Orgânicos
Apresentam, no mínimo, 95% de matérias-primas orgânicas (sem químicas durante o cultivo e antes dele). Regulados pelo selo IBD (Instituto Biodinâmico).

Veganos
Não levam ingredientes de origem animal e são livres de crueldade. Um cosmético vegano não é necessariamente orgânico ou natural.

Artesanais
Feitos em casa, não são testados nem regulamentados pela Anvisa, mas muitas vezes detêm capital cultural.

Conversando sobre notícias ruins com as crianças

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