Aos 30 anos recém-completos, Majur vive uma fase de plenitude. Mulher preta, trans, nordestina e dona de uma das vozes mais singulares da música brasileira contemporânea, a artista carrega em si muitas das camadas que formam o Brasil de hoje — um país que ainda busca compreender sua própria diversidade.Neste Mês da Consciência Negra, sua obra ganha novos sentidos, como convite à reflexão sobre fé, ancestralidade e resistência. “Com quase quatro anos de axé, tenho mais clareza sobre o meu propósito. Cresci muito nesse tempo e entendi o poder da minha arte”, afirma.Seu terceiro álbum, Gira Mundo, lançado em maio deste ano, encerra a trilogia iniciada com Ojunifé e continuada em Arrisca. É o desfecho de um caminho que começou com o autoconhecimento e passou pela coragem de se lançar ao mundo até chegar à celebração da ancestralidade. “Agora, em ‘Gira Mundo’, compreendo minha missão — é onde estou inteira”, diz Majur. “Vejo esse álbum como um agradecimento, uma celebração por hoje poder ser uma mulher completa em mim mesma.”Entre o sagrado e o popGravado na Bahia, o disco tem 16 faixas em iorubá e uma estética que une afropop, orquestra e terreiro. O resultado é um som que desafia fronteiras entre o sagrado e o pop, o ancestral e o futurista. “Foi um desafio e, ao mesmo tempo, um processo natural”, conta. “Tradição e modernidade não se excluem — elas se completam. E é nesse diálogo que minha música encontra força e verdade.”Gira Mundo é, sobretudo, um gesto de reconhecimento das origens afro-brasileiras e um chamado à escuta. “Cantar em iorubá é conectar a diáspora africana à nossa cultura brasileira, e a mensagem que eu quis passar é: abram o coração de vocês para esse momento”, explica.Para a cantora, falar sobre ancestralidade é também enfrentar o racismo e a intolerância religiosa. “Acredito que, por ser uma artista que carrega a ancestralidade e fala das origens, há uma interseção natural com o combate à intolerância e ao racismo. O preconceito corrói a informação. O que era uma coisa ancestral, linda, se transforma em outra visão. E é uma falta de respeito! Se você não sabe o que o candomblé é, está aqui uma oportunidade para você conhecer.”No visualizer de “Iroko”, faixa central do álbum, ela aparece despida de adornos, registrando um dia no terreiro. “Dentro da casa de Ilê, a vaidade não existe. Lá, não há brinco, maquiagem. É só você e sua fé. Quis mostrar a importância do respeito ao tempo, à natureza e a tudo que é sagrado”, diz.Entre atabaques, clarins e beats eletrônicos, ela convida o público a refletir sobre o que realmente nos une enquanto povo. “Ainda não temos plena liberdade sobre nossa cultura e nossos corpos, e por isso seguimos pautando diversas questões com arte e resistência”, afirma. “Acredito que quando a música brasileira se reconcilia com suas raízes, ela se torna mais plural e mais próxima de quem somos — um país de muitas vozes, muitas cores e muitas histórias.”Em um tempo em que a fé ainda é motivo de intolerância e o racismo insiste em se disfarçar, Gira Mundo reafirma a força da arte negra como caminho de transformação. “Quis criar um movimento de arte e cultura negra aberto a todos, independentemente de religião ou origem”, resume.Assista ao videoclipe de Iroko, uma das principais faixas de Gira Mundo:https://www.youtube.com/watch?v=DL1JVjTG4w8Assine a newsletter de CLAUDIAReceba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:Acompanhe o nosso WhatsAppQuer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp. Acesse as notícias através de nosso app Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante.