“Fui traída pelo meu marido e minha irmã”: Como superar uma dupla traição?
Psicóloga comenta e dá conselhos sobre como superar casos de quebra de confiança dupla
Já dizia a cantora Joelma: “Tem coisas na vida que a gente não perde, a gente se livra”. Um livramento que, em algumas ocasiões, poderá ocorrer em até dose dupla. É o que relatam mulheres que sofrem com casos em que a dupla traição é descoberta, onde, muitas das vezes, a quebra de confiança parte não só de um dos lados do relacionamento, mas também de alguém muito próximo e de confiança do casal.
“Eu caí em desgosto quando descobri que meu ex-marido mantinha um relacionamento de quase 1 ano com a minha meia-irmã. Nós éramos muito amigas e estávamos sempre bolando encontros entre as nossas famílias. Foi um baque enorme para todos amigos e família, em especial para mim e meus filhos”, conta Elaine, enfermeira de 36 anos, cujo o sobrenome não foi revelado devido ao seu processo de superação e reconstrução familiar após a descoberta de uma traição dupla em 2020.
Aos que se chocam com histórias como a de Elaine, que se assemelham aos roteiros de novelas clássicas brasileiras, a realidade está longe de ser um mero drama.
Drama este que também ganhou as manchetes dos principais sites de fofoca quando os jornalistas Marcelo Courrege e Carol Barcellos assumirem um relacionamento após o fim do casamento entre Courrege e Renata Heilborn, da qual Carol era muito próxima, chegando a ser madrinha do casamento do ex-casal.
De acordo com uma pesquisa realizada por um dos apps de relacionamentos extraconjugais mais utilizados na América Latina, o Gleeden, a traição é um comportamento típico do brasileiro, normalizado principalmente entre o público masculino.
Em apenas 1 ano e meio desde o início do funcionamento do tal app no Brasil, em 2021, o país ocupa o primeiro lugar na América Latina em termos de assinantes que procuram manter conexões afetivas para além do casamento.
O que é dupla traição?
Segundo Larissa Fonseca, terapeuta comportamental clínica membra da Sociedade Brasileira de Psicologia, a SBP, a traição dupla pode ser considerada um situação de rompimento traumático para um relacionamento.
“A dupla traição ocorre quando duas pessoas próximas traem a confiança de uma terceira pessoa. Esse tipo de situação é devastadora, porque envolve a violação emocional da confiança. Questionamentos pessoais e comportamentos sobre o que era falado e feito fazem com que inevitavelmente a vítima passe a se culpar por ter permitido tal aproximação”, conta Larissa, que há 15 anos trabalha com manobras e abordagens cognitivas na psicologia.
“Lidar com traição nunca é algo simples. A decepção que sentimos é a surpresa frente ao inesperado, principalmente quando há confiança e grande afeto pelas pessoas. Esse tipo de decepção é comum em famílias tradicionais, no qual há uma quebra de confiança em relação aos assuntos que eram segredos e até relações afetivas de traição sexual”, diz.
São sintomas psíquicos e até mesmo físicos que uma pessoa traída duplamente pode sentir quando se depara com uma situação em que a quebra de confiança se torna a pior sensação.
“Uma, duas punhaladas nas costas. Quase que instantâneas. Foi exatamente assim que me senti quando descobri os encontros entre os dois durante um período complicado do meu casamento. Me encontrei sem autoestima e sem confiança em qualquer pessoa, a não ser nos meus filhos. Nem na minha família, como tias, primos e outros parentes, eu cogitei confiar”, revela Elaine em um tom firme e forte, quase como se todas estas revelações fizessem parte de uma outra vida.
Como superar uma traição dupla?
A enfermeira conta que passou por uma maré de puro sofrimento nos 3 primeiros anos após a revelação da traição. Foi na terapia que ela encontrou ferramentas seguras para seguir em frente com sua nova família.
“Eu aprendi a confiar nas pessoas novamente através de exercícios de compreensão e autoestima para entender a cada dia que aquela situação não era minha culpa. Demorou para cair a ficha e começar a seguir em frente, principalmente nos momentos em que precisei retornar a essas lembranças para esclarecer às pessoas do meu ciclo social o que de fato havia acontecido”, relembra.
Larissa comenta que o caminho para a superação de uma dupla traição parte do princípio de que viver as emoções é importante para não guardar mágoas e ressentimentos, incluindo raiva. “Permita-se expressá-las de uma maneira saudável, além de respeitar-se no processo de voltar a confiar em pessoas e buscar maneiras de reconstruir a autoestima e a confiança em si mesmo”, aconselha.
E verdades sejam ditas: precisamos deixar claro que mesmo sendo um processo difícil, todos merecem saber que traição não é uma prática que deve ser normalizada e, para Larissa, a conversa com amigos e família sobre a situação ocorrida se torna fundamental para a virada de página e a descoberta de quem estará ao seu lado nessa.
“Neste caso, é importante definir limites saudáveis e priorizar o próprio bem-estar emocional. Se sentir que certos amigos podem não oferecer o suporte necessário ou se tornarem um gatilho para emoções negativas, pode ser necessário afastar-se temporariamente dessas relações ou limitar a interação com elas. No entanto, é essencial também manter as amizades que oferecem suporte e compreensão durante esse momento difícil. Pedir para os amigos respeitarem o momento e não contarem atualizações e notícias é a forma ideal para se manterem neutros, preservarem as emoções e auxiliarem no luto de cada um”, conclui.
“No fim, eu quero mais é que os dois sejam felizes. O livramento, às vezes, serve para nos deixar atentas sobre a nossa autoestima e jamais deixarei de prestar atenção novamente. Se foi amor, um dia, eu não sei, mas não tenho dúvidas agora de que um amor de verdade não trai”, desabafa Elaine. Nós assinamos embaixo!